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Público critica novela do SBT por culpabilizar negros por racismo


(Foto: Reprodução).

Um diálogo no episódio da última quarta-feira, 8, da novela infantil As Aventuras de Poliana, do SBT, incomodou o público, que acusou a emissora de racismo. Após a aluna Késsya (Duda Pimenta) ser acusada de roubar o nariz de uma escultura e se justificar que só não acreditavam nela por ela ser negra, a diretora da escola onde se passa a trama, Helô (Eliana de Souza), diz à criança que a culpa do preconceito não é dos racistas, mas da “nossa cabeça”.

Sabe qual é um dos maiores culpados pelo preconceito?”, pergunta a Helô à criança, que argumentava que, se fosse branca, não desconfiariam dela e acreditariam em sua palavra. . “Os racistas”, responde prontamente Késsya. “Não. A nossa cabeça. E para que os outros parem de ver a nós negros como diferentes, nós precisamos parar de nos ver como diferentes. Como piores ou melhores do que determinada raça”, diz a educadora.

A cena termina com as duas se abraçando, como se tivesse havido uma grande lição de moral de professora para aluna. O público, no entanto, não enxergou dessa forma, considerando o diálogo um deserviço ao combate ao racismo no Brasil.

A página no Facebook A Mãe Preta escreveu publicação sobre o assunto que repercutiu com mais de 4,9 mil compartilhamentos e 270 mil visualizações.  Deslegitimar a percepção de uma menina negra da situação de racismo que ela viveu e, ainda, ‘ensinar’ a essa criança que o racismo é culpa dos negros que se enxergam diferente dos outros e que não se valorizam a partir da voz de uma mulher negra é mais uma vez violentar a nossa subjetividade e nos colocar como responsáveis por um sistema de exclusão criado e mantido para garantir o privilégio branco”, publicou. (Com informações do O Povo).

A TV brasileira e a carinha de anjo branca



Negar o Brasil nunca foi novidade na telinha brasileira.

Quando o assunto é programação infantil, a situação é ainda mais clara.

Falta representatividade.

Recentemente, o SBT lançou o remake Carinha de Anjo e a novela já é sucesso entre meninas e meninos do País.
Por Donminique Azevedo, no Correio Nagô

Carinha de Anjo é uma versão nacional da trama mexicana (“Carita de Ángel”), exibida no Brasil entre 2001 e 2002.

Diversas adaptações foram feitas em relação à história original, inclusive núcleos novos foram criados.

No entanto, a maioria do elenco é branca e a única criança negra aluna do colégio de freiras não tem voz.

No primeiro capítulo – aquele utilizado para apresentar as personagens – a garota não tem nome, não fala e pouco aparece. Não tem papel.

Numa busca pelo site da emissora, na seção “personagem”, a menina negra também não aparece.

Fato é que crianças negras da faixa etária da Carinha de Anjo – personagem principal interpretada por uma criança branca – não contam com representatividade.

Mesmo considerando que outros atores negros participem da novela, a invisibilidade negra no núcleo de maior interesse da audiência infantil (o núcleo infantil) é um problema no processo de construção de identidade de meninas e meninos negros.

Permanece a construção de uma identidade de “branquitude”. Do anjo branco. Da beleza branca.

É imensurável o espaço que os meios de comunicação ocupa na sociedade brasileira.

Assim sendo, a teledramaturgia precisa estar mais atenta, uma vez que os limites entre ficção e realidade não têm fronteiras definidas, principalmente no que diz respeito à infância.

A telenovela não acaba quando o controle remoto é acionado. Pelo contrário, durante os meses que está no ar, desperta interesse e envolvimento através dos vários canais de mídia.

É assunto na escolinha. É um produto à venda, consumido não só por crianças brancas, mas também por negras.

A TV pode e deve ser mais diversa, afinal os danos causados pela difusão de uma história única podem ser irreversíveis.

CCo Public Domain

Carrossel e o racismo - Onde Cirilos são inferiorizados e Marias Joaquinas desfilam "beleza" e “poder”


Por Michel Yakini, no Brasil de Fato

Quem tem um curumim em casa, na faixa dos três aos oito anos, sabe bem qual é a intensidade que nossos miúdos sofrem por conta da telenovela Carrossel do SBT, que atinge picos de audiência e boas doses de racismo.

Carrossel é a versão brasileira de uma novela mexicana exibida no Brasil nos anos 90, e apresenta o cotidiano da Escola Mundial, em que contracenam 16 crianças e alguns adultos. E mesmo sendo fraca de roteiro, trama, atores, de servir como propaganda dos produtos da emissora, confirmar preconceitos e pouco contribuir pra reflexão, a produção brilha aos olhos pequeninos.

É um bombardeio, seja de manhãzinha, com o apresentador-mirim da telenovela, a tarde no programa com o elenco da telenovela, a noite com a telenovela, no cinema da telenovela, no outdoor e na lanchonete com a promoção do filme. Ufa!

Quando Carrossel, na versão brasileira, foi exibida pela primeira vez, minha filha tinha três anos, e foi possível evitar o contato, mas o SBT insiste em formar gerações e me pegou no pulo três anos depois.

Continuo na insistência de apresentar outros repertórios, questionar e não deixar o deslumbre prevalecer, mas no tempo da pequena, na troca, senão, vira o mesmo bombardeio, e aí que mora a sensatez e o perigo.

E dá-lhe estereótipo, preconceito e racismo em HD!

Na Escola Mundial, transitam dezenas de pessoas e somente três são negras: a faxineira Graça (Márcia de Oliveira), que representa uma nordestina caricata, subalterna e atrapalhada; a pequena Laura (Aysha Benelli), ridicularizada por ser gordinha e comilona, que interpreta o estereótipo da negra/boazinha/iludida; e o famoso Cirilo (Jean Paulo Campos), apelido pejorativo de muitos meninos negros, que faz o tipo do negro/inocente/ingênuo.

Cirilo é apaixonado por Maria Joaquina (Larissa Manoela), garota rica, soberba e preconceituosa, e é chamado de “Chocolate” por Paulo (Lucas Santos), menino branco e malicioso. Além disso, Cirilo sempre cai nas armadilhas porque tem o “coração puro” e vê bondade em tudo, como se estivesse num mundo amável e sem conflitos.

Esse tocante poderia ser positivo, já que é uma discussão pertinente no universo infantil, mas o que incomoda é a constância de racismo e estereótipos, confirmando o padrão de comportamento e direcionando o desfecho pra teoria do sangue vermelho. Ou seja, somos ofendidos na telenovela inteira e depois, “deixa pra lá…”, “que besteira…”, “somos todos humanos…”.

Já pesquisei e é assim que a telenovela termina, prevalecendo o discurso da democracia racial, mantendo esse tipo de produção ilesa e ainda ganhando moral por discutir temas tabus na televisão, vai vendo!

E aí mora o desserviço. Assim, não há lei obrigatória pra contribuir na superação do racismo e do preconceito na educação que aguente. Já não basta a escola real, a falta de material, de formação, a meritocracia, o individualismo, a estrutura quadrada, não poder sentar no chão, fazer roda, abrir a boca, e ainda vem esse rolo compressor em HD destruindo qualquer avanço.

Não basta desligar a televisão ou não ter televisão, o bombardeio é extenso e eficaz, pois imagine o racismo diário, com mais de 250 episódios, exibido nacionalmente em horário nobre pra mulecada que só tem como lazer a telinha e sem ninguém em casa pra discutir e dar uma invertida, aí o efeito é voraz.

Lembro bem, já na versão mexicana dos anos 90, o quanto esses apelidos e estereótipos influenciavam na escola, onde Cirilos e Lauras eram inferiorizados e Marias Joaquinas desfilavam beleza e poder, e olha que em casa a gente nem assistia Carrossel, pois meus pais chegavam do trabalho pra jantar, descansar e assistir a outra emissora, no único aparelho da casa.

Preocupante camará! Sou de uma geração formada nesse exemplo e a geração da minha pequena segue os passos. Aqui em casa, a estratégia é mirar as causas e amenizar os efeitos, mas o projeto Carrossel é de massa e contínuo.

Percebi que ficar no silêncio é pior, pois tudo indica que se a gente continuar embarcando nesse Carrossel, o dado da diversidade vai estacionar no “ande uma casa e volte mais dez”, e vai ser difícil nossa mulecada sair ilesa desse atraso.