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Páscoa: a irrupção do inesperado

 

Leonardo Boff. (FOTO/ Reprodução).

Os cristãos celebram na Páscoa aquilo que ela significa: a passagem. No nosso contexto, é a passagem da decepção para a irrupção do inesperado. Aqui a decepção é a crucificação de Jesus de Nazaré e o inesperado, sua ressurreição.

Ele foi alguém que passou pelo mundo fazendo o bem. Mais que doutrinas introduziu práticas sempre ligadas à vida dos mais fracos: curava cegos, purificava hansenianos, fazia andar coxos, devolvia à saúde a muitos doentes, matava a fome de multidões e até ressuscitava mortos. Conhecemos seu fim trágico: uma trama urdida entre religiosos e políticos o levaram à morte na cruz.

Os que o seguiam, apóstolos e discípulos, com o fim trágico  da crucificação ficaram profundamente frustrados. Todos, menos as mulheres que também o  seguiam,  começaram a voltar para suas casas. Decepcionados, pois esperavam que trouxe a libertação de Israel. Tal frustração aparece claramente nos dois discípulos de Emaús, provavelmente, um casal que caminhavam cheios de tristeza. A alguém que se uniu a eles no caminho dizem lamuriosos: ”Nós esperávamos que fosse ele quem iria libertar Israel, mas já passaram três dias que o condenaram à morte”(Lucas 24,21). Esse companheiro, se revelou depois, como sendo Jesus ressuscitado, reconhecido na forma como benzeu o pão, o partiu e distribuiu.

A ressurreição estava fora do horizonte de seus seguidores. Havia um grupo em Israel que acreditavam na ressurreição mas no final dos tempos, a ressurreição entendida como uma volta à vida como sempre foi é.

Mas com Jesus aconteceu o inesperado, pois na história sempre pode ocorrer o inesperado e o improvável. Só que o inesperado aqui são de outra natureza,um evento realmente improvável e inesperado: a ressurreição. Ela deve ser bem entendida: não se trata da reanimação de um cadáver como o de Lázaro. Ressurreição representa uma revolução dentro da evolução. O fim bom da história humana se antecipa. Ela significa o inesperado da irrupção do ser humano novo, como diz São Paulo, do “novíssimo Adão”.

Este evento é realmente a concretização do inesperado. Teilhard de Chardin cuja mística é toda centrada na ressurreição como uma absoluta novidade dentro do processo da evolução a chamava de um “tremendous”, de algo, portanto, que mexe com todo o universo.

Essa é a fé fundamental dos cristãos. Sem a ressurreição não existiriam as comunidades cristãs. Perderiam seu evento fundador e fundante.

Por fim, cabe ressaltar que os dois mistérios maiores da fé cristã estão intimamente ligadas à mulher: a encarnação do Filho de Deus com Maria (Lucas 1,35) e a ressurreição com Maria de Mágadala (João 20,15). Parte da Igreja, a hierárquica, refém do patriarcalismo cultural, não atribuiu a este fato singular nenhuma relevância teológica. Ela seguramente está  nos desígnio de Deus e deveria ser acolhido como algo culturalmente inovador.

Nestes tempos sombrios, marcados pela morte e até com o eventual desaparecimento da espécie humana, a fé na ressurreição nos rasga um futuro de esperança. Nosso fim não é a autodestruição dentro de uma tragédia mas a plena realização de nossas potencialidades pela ressurreição, a irrupção do homem e da mulher novos.

Feliz Páscoa a todos os que conseguem crer e também a quem não o consegue.

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Por Leonardo Boff, originalmente em seu site.

Leonardo Boff - A insanidade dos cavaleiros do Apocalipse: Rússia e USA

 

(FOTO/ Reuters).

O livro do Apocalipse que narra os embates finais de nossa história,entre as forças da morte e as da vida, nos pinta um cavalo de fogo que simboliza a guerra:”ao cavaleiro foi-lhe dada desterrar a paz da terra para que os homens se degolassem uns aos outros”(6,4).A guerra entre a Rússia e a Crimeia e a ordem do presidente russo de manter as armas nucleares em alerta máximo,nos suscitam a ação do cavalo de fogo, a degola da humanidade,vale dizer, um Armaggedon humano.

As sanções severíssimas impostas pela NATO e pelos USA à Federação Russa podem levar ao colapso de toda a sua economia .Face a esse desastre nacional não se pode excluir a possibilidade de que o líder russo, não aceite a derrota como se Napoleão (1812) ou Hitler(1942) tivessem tomado o país, coisa que não conseguiram. Então realizaria as ameaças e iniciaria um ataque nuclear. Só o arsenal da Rússia pode destruir, por várias vezes, toda a vida do planeta. E um revide pode danificar toda a biosfera sem a qual a nossa vida não poderia persistir.

Por detrás deste confronto Rússia/Ucrânia se ocultam forças poderosas em disputa pela hegemonia mundial: a Rússia, aliada à China, e os USA. A estratégia deste último é mais ou menos conhecida, orientada por duas ideias-força: ”um mundo e um só império”(os USA), garantido pela full-spectrum dominance: a dominação em todos os campos com 800 bases militares distribuídas pelo mundo, mas também com a dominação econômica, ideológica e cultural. Tal dominação completa fundaria a pretensão dos USA de sua “excepcionalidade”, de ser “a nação indispensável e necessária”, a”âncora da segurança global” ou o “único poder”(lonely power) realmente mundial.

Nessa vontade imperial, a NATO, por detrás da qual estão USA, se expandiu até os limites da Rússia. Só faltava mesmo a inserção da Ucrânia para fechar o cerco. Mísseis colocados na fronteira ucraniana alcançariam Moscou em minutos. Daí se entende a exigência da Rússia da manutenção da neutralidade da Ucrânia, caso contrário seria invadida. Foi o que ocorreu com as perversidades que toda guerra produz. Nenhuma guerra é justificável porque assassina vidas humanas e vai contra o sentido das coisas que é a tendência de persistirem na existência.

A China, por sua vez, disputa a hegemonia mundial não por  via militar, mesmo aliada à Rússia, mas pela via econômica com seus grandes projetos como a Rota da Seda. Neste campo está ultrapassando os USA e alcançaria a hegemonia mundial até com um certo ideal ético, o de criar “uma comunidade de destino comum participado por  toda a humanidade, com sociedades suficientemente abastecidas”.

Mas não quero prolongar esta perspectiva bélica, verdadeiramente insana a ponto de ser suicida. Mas esse confronto de potências revela a inconsciência dos atores em tela acerca dos reais riscos que pesam sobre o planeta que, mesmo sem as armas nucleares, poderão pôr em risco a vida humana. Seja dito que todos os arsenais de armas de destruição em massa se mostraram totalmente inúteis e ridículas face a um pequeníssimo vírus como o Covid-19.

Essa guerra revela que os responsáveis pelo destino humano não aprenderam a lição básica do Covid-19. Ele não respeitou as soberanias e os limites nacionais.Atingiu o inteiro planeta. A epidemia pede a instauração de uma governança global face a um problema global. O desafio vai além das fronteiras nacionais, é construir a Casa Comum.

Não se deram conta de que o grande problema é o aquecimento global. Já estamos dentro dele,pois, os eventos fatais de inundações de regiões inteiras,tufões e escassez de água doce, são visíveis. Temos somente 9 anos para evitar uma situação de não retorno. Se até 2030 atingirmos 1,5 graus Celsus de calor, seremos incapazes de controlá-lo e vamos na direção de um colapso do sistema-Terra e dos sistema-vida. Encostamos nos limites de sustentabilidade da Terra.Os dados da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot) apontam que no dia 22 de setembro de 2020 esgotaram-se os recursos não renováveis, necessários para a vida. O consumismo que persiste, cobra da Terra o que ela já não pode dar. Em resposta, ela nos envia vírus letais,aumenta o aquecimento,desestabiliza os climas e dizima milhares de seres vivos.

A superpopulação associada a uma nefasta desigualdade social com a grande maioria da humanidade vivendo na pobreza e na miséria, quando 1% dela controla 90% da riqueza e dos bens e serviços essenciais, podem conduzir a conflitos com incontáveis vítimas e à devastação de inteiros ecossistemas.

Estes são os problemas, entre outros, que deveriam preocupar os chefes de estado, os CEOs das grandes corporações e os cidadãos, pois eles diretamente colocam em risco o futuro de toda a humanidade. Face a esse risco global é ridícula uma guerra por zonas de influência e de soberanias já obsoletas.

O que nos causa esperança são aqueles “Noés” anônimos que vicejam em todas as partes, a partir de baixo, construindo suas arcas salvadoras mediante uma produção que respeita os limites da natureza,por uma agroecologia, por comunidades solidárias, por democracias sócio-ecológicas participativas, trabalhando a partir dos próprios territórios. Eles possuem a força da semente do novo e com uma nova mente (a Terra como Gaia) e com um novo coração (laço afetivo e de cuidado para com a natureza) garantem um novo futuro com a consciência de uma responsabilidade universal e uma interdependência global. A guerra deles é contra a fome e a produção da morte e sua luta é por justiça para todos, promoção da vida e defesa dos mais fracos e desvalidos. Isso é o que deve ser. E o que deve ser, tem intrinsecamente uma força invencível.

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Publicado originalmente no Brasil 247.

Por que humanos escravizam outros humanos ontem e hoje?, por Leonardo Boff


Leonardo Boff. (FOTO/ Reprodução).

A existência e a persistência da escravidão ou de condições análogas à escravidão constitui um desafio humanístico, filosófico, ético e teológico até os dias de hoje. Por que humanos escravizam outros humanos, seus co-iguais?

O Natal dos Herodes de hoje, por Leonardo Boff*


Leonardo Boff. (FOTO/ Reprodução).

O Natal sempre possui o seu idílio. Não pode haver tristeza quando nasce a vida, especialmente quando vem ao mundo o puer aeternus, o Divino Infante, Jesus. Há anjos que cantam, a estrela de Belém que brilha, os pastores que velam à noite o seu rebanho. Mas lá estão principalmente Maria, o bom José e o Menino deitado numa manjedoura, “porque não havia lugar para eles na hospedaria”. E eis que apareceram também vindo do Oriente, uns sábios, chamados magos, que abriram seus cofres e ofereceram ouro, incenso e mirra, símbolos misteriosos.

Leonardo Boff: 'Novo governo é o triunfo da ignorância e da estupidez'


Leonardo Boff diz preocupar-se com a eventualidade de um golpe militar. (Foto: REPRODUÇÃO/TVT).

Para o teólogo Leonardo Boff, o início do governo de Jair Bolsonaro mostra "todo o despreparo" do presidente eleito. "É contraditório, não sabe bem o que quer, nem sequer conhece as reais necessidades do país." Mais do que isso, ele acredita que o novo presidente, que tomou posse no dia 1° de janeiro, "é a maior desgraça que ocorreu em nossa história". Para Boff, a chegada dos atuais comandantes do país "é o triunfo da ignorância e da estupidez".

Depois de o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) divulgar, no dia 8, memorandos nos quais determinou a paralisação da reforma agrária, o presidente do órgão, Francisco Nascimento, revogou os documentos no dia seguinte, em mais um dos muitos recuos do governo em menos de 10 dias.

Uma eventual confirmação da suspensão da reforma agrária, que, de qualquer maneira, seria coerente com o ideário de Bolsonaro e seus apoiadores,  principalmente o agronegócio, é anticonstitucional, diz Boff. "A Constituição de 1988 prevê a reforma agrária. Bolsonaro não possui autonomia pessoal. Obedece ao agronegócio, à velha oligarquia que vive de privilégios. São, na verdade, os descendentes da casa-grande."

Apesar de tudo, o teólogo ainda acredita no país. "Tenho esperança de que o Brasil seja muito maior do que as pequenas cabeças dos que agora vão governar dentro de um rígido fundamentalismo de corte religioso com um projeto econômico-político ultraliberal", afirma, em entrevista respondida por e-mail à RBA.

Como o senhor avalia esse início de governo Bolsonaro?

Esse início de governo mostra todo o despreparo do presidente eleito. É contraditório, não sabe bem o que quer, nem sequer conhece as reais necessidades do país. É a maior desgraça que ocorreu em nossa história. É o triunfo da ignorância e da estupidez. Ele não está à altura da grandeza e da complexidade do Brasil.

Acredita que o governo ameaça a democracia?

Ele nunca falou em defender a democracia. Suas falas na campanha se orientaram por tudo aquilo que destrói uma democracia, mesmo a nossa, que é de baixa intensidade: desrespeito a minorias políticas que são maiorias numéricas, como os negros e negras, desprezo pelos indígenas e quilombolas, ameaça aos LGBT. Não possui o sentido da igualdade de todos em dignidade e direitos. É preconceituoso e pensa que os problemas se resolvem com a pancada. Isso é contra qualquer sentido democrático.

O que acha de uma eventual suspensão da reforma agrária, conforme ordenada pelo governo na terça-feira (8), apesar do recuou posterior?

É um ato anticonstitucional. A Constituição de 1988 prevê a reforma agrária. Ele não possui autonomia pessoal. Obedece ao agronegócio, à velha oligarquia que vive de privilégios e são, na verdade, os descendentes da Casa Grande. Temo apenas que essa exclusão da reforma agrária produza muita violência no campo e os sem-terra sejam criminalizados como terroristas.

E o papel desempenhado pelos movimentos sociais e pela esquerda brasileira diante do novo governo?

Acho que todos ficaram aturdidos se perguntando: como pode acontecer tudo isso e tanta insensatez em nosso país? Onde nós erramos? Como não conseguimos prever esse salto rumo à Idade Média? Creio que as esquerdas e os que compõem o campo progressista não encontraram ainda uma estratégia concreta para enfrentar tanto caos que já está se criando e que possivelmente aumentará.

Acredita na "união da esquerda", na luta pela manutenção de direitos?

Na minha opinião, é preciso criar uma frente ampla democrática, de partidos progressistas e de forças sociais para defender a democracia, os direitos fundamentais dos cidadãos e os bens públicos, que são a base de nossa soberania e da construção de uma nação com menos desigualdades sociais e, por fim, para impedir que se acrescente mais sofrimento aos que sempre sofreram em nossa história.

Mas tenho esperança de que o Brasil seja muito maior do que as pequenas cabeças dos que agora vão governar dentro de um rígido fundamentalismo de corte religioso com um projeto econômico-político ultraliberal que sempre favoreceu o mercado e os poderosos à custa da marginalização das grandes maiorias de nosso povo.

Qual sua maior preocupação na atual conjuntura?

Preocupo-me com a eventualidade de um golpe militar brando que afaste o atual presidente por vê-lo como um estorvo às políticas minimamente sensatas e nacionalistas. Já sabemos como funciona a cabeça do militar acostumado a identificar o inimigo e dar-lhe combate constante, especialmente contra os que se opõem a um tal governo.  (Com informações da RBA).

Olavo de Carvalho “é a cabeça mais insana já produzida nesse país”, diz teólogo Leonardo Boff


Leonardo Boff criticou a influência  do “filósofo autodidata” Olavo de Carvalho na formação da equipe ministerial do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). (Foto: Reprodução/Revista Fórum).


Professor emérito de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o teólogo Leonardo Boff criticou a influência do “filósofo autodidata” Olavo de Carvalho na formação da equipe ministerial do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Podemos medir a cabeça do novo presidente pelas nomeações que fez a pedido de Olavo de Carvalho: o ministro das relações exteriores e o da educação. Olavo é a cabeça mais insana já produzida nesse país. Não possui formação séria nenhuma. Diz os piores palavrões como o c. de sua mãe”, tuitou Boff, sobre as indicações de Ernesto Araújo, para Relações Exteriores, e do colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, para Educação, feitas pelo guru intelectual da família Bolsonaro.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Olavo disse que não tem mais nenhum ministro “no bolso” para indicar. O pseudo filósofo também já afirmou que o único cargo que aceitaria seria o de embaixador nos Estados Unidos – apesar de, segundo ele, Bolsonaro já ter oferecido os ministérios da Cultura e da Educação.

Eduardo Bolsonaro, deputado reeleito pelo PSL, disse, após as eleições, que quer levar os parlamentares do PSL para os Estados Unidos para terem aulas com Olavo. “É nossa base filosófica”, disse o filho do presidente eleito. (Com informações da Revista Fórum).

Nobel da Paz e escritor Leonardo Boff tem acesse a Lula negado. ‘Problema dele', diz juíza


Leonardo Boff aguarda autorização para poder visitar Lula na sede da PF em Curitiba.
(Foto: Joka Madruga/ Agência PT)

O escritor e teólogo Leonardo Boff está em Curitiba junto com o ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Eles foram à unidade da Polícia Federal onde está preso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (19), na tentativa de fazer uma visita de caráter humanitário e religioso. Já há uma decisão negativa de uma juíza de Curitiba para o caráter de inspeção às dependências.

A juíza da 12ª Vara Federal de Curitiba, Carolina Lebbos, ainda não respondeu a um requerimento anterior a esse, de autorização de visita em caráter pessoal em função da amizade. A advogada Tânia Mandarino, que presta apoio jurídico a Esquivel no Brasil, diz que chama a atenção o fato de que o pedido para a visita pessoal do argentino à Lula ter sido protocolado antes e ainda não ter sido apreciado.

"É preocupante essa conduta, porque Esquivel é apenas a primeira de muitas visitas internacionais que irão ocorrer ao ex-presidente Lula, como estadista. Sem contar o caráter de perversidade". diz a advogada, referindo-se à idade avançada de ambos. Esquivel tem 87 anos e Boff, 79. "Pela sua relação de aconselhamento espiritual com Lula, o Leonardo Boff deveria ter, inclusive, sua entrada franqueada. É lamentável."

A advogada viu componentes de sadismo na conduta da juíza Carolina Lebbos. "Absurdo dos absurdos, quando a juíza apreciou primeiro o pedido que foi posto depois, opusemos embargos de declaração pedindo que antecipasse o pedido de visita. Ela só respondeu sadicamente os embargos e não comentou sobre o pedido de visitas. Disse que não há urgência e, resumindo, 'problema do Esquivel se ele está só de passagem'."

Adolfo Pérez Esquivel viaja amanhã de volta para a Argentina.
(Foto: Joka Madruga/ Agência PT).
Ao conversar diretamente com a Superintendência da PF, o ativista argentino teve o acesso mais vez negado. "Vamos ter de esperar se até amanhã (quando volta à Argentina) para ver se sai a autorização. Espero poder encontra o Lula, abraçá-lo e levar-lhe toda a solidariedade internacional que temos recebido, de Portugal, Alemanha, França, Noruega, vários países. Essa prisão tem causado uma apreensão de dimensão mundial", disse Esquivel.

Eu que sou velho amigo de Lula vim em uma missão espiritual. Como uma lei divina pode ser negada por uma juíza terrena?”, provocou Boff. O teólogo afirmou que o Brasil atual é uma nau sem rumo, e que Lula é o único que "brilha" aos olhos do povo com poder de reverter as "iniquidades" cometidas pelo governo Temer.

"Brasil está como uma nau perdida, um avião sem piloto, voando não sabemos em que direção ou em que montanha vai bater. Não há líder nenhum que aglutine pessoas, não há luz no fim do túnel. Estamos realmente em uma situação que nunca ocorreu em nosso país. A única pessoa que brilha nas estatísticas e no agrado popular é Lula. O portador do poder é o povo, e o povo quer Lula como presidente para desmontar as iniquidades que o governo Temer fez contra os trabalhadores, aposentados, contra a Saúde, a Educação", disse.

O teólogo disse ainda que o golpe para retirar lideranças populares da política não vem sendo aplicado apenas no Brasil, e foi gestado externamente. Essas forças estrangeiras teriam se aliado aqui com o que Boff chama de "elite do atraso, os herdeiros da Casa Grande".

"Esses grupos milionários se aliaram com interesses estrangeiros e deram um golpe. Não mais com baionetas e tanques, mas um golpe de venalidade, comprando literalmente senadores e deputados, pervertendo a Justiça, partes do MP e da PF. Se criou uma coligação de forças que primeiro depôs Dilma, mas ela não era o objeto principal. O principal é Lula, e em segundo lugar é desmontar as políticas sociais que ele fez em função do povo e, se possível, liquidar a base popular do PT e fazer com que desapareça o partido", detalhou o teólogo.

A presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, participou da abertura das atividades da vigília na manhã de hoje aponta para todos os elementos que evidenciam atropelos à Constituição brasileira, configurando um Estado de exceção. "O Supremo Tribunal Federal, corte máxima da Justiça e responsável pelo zelo à ordem constitucional acabou contribuindo para esse Estado de exceção ao permitir a prisão política de um ex-presidente, já que o processo contra ele não tem provas nem consistência", disse Socorro.

Ela afirma que a comunidade internacional está perplexa por essa prisão sem processo transitado e julgado, portanto com cerceamento de defesa e violação do princípio da presunção da inocência. "Trata-se de uma perseguição política, movida a ódio, a preconceito de classe e com objetivo de impedir que Lula esteja livre e possa ser candidato. Todo o mundo está percebendo isso. Temos uma elite empenhada em garantir seus privilégios." Socorro estava acompanhada do senador Ignácio Bernal e da deputada Natália Sanchez, ambos do Congresso espanhol.

Na saída do prédio da Polícia Federal, representantes do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável e do Movimento dos Atingidos por Barragens entregaram duas cartas ao argentino em apoio à indicação de Lula ao Nobel da Paz. (Com informações da RBA).

Leonardo Boff pede ação do exército contra entreguismo de Michel Temer


O teólogo, escritor e ex-professor da Uerj Leonardo Boff pediu uma intervenção urgente do Exército, não contra os pobres das favelas do Rio de Janeiro, mas contra as ações de Michel Temer de entrega do patrimônio nacional.

Em sua página no Twitter, Boff criticou a venda da Embraer à norte-americana Boeing , que terá 51% da nova empresa. Temer exigiu que a Boieng só tivesse 51% – exatamente o controle de mais uma empresa brasileira desnacionalizada.

"Temer está vendendo bens fundamentais da nação: Embraer, Eletrobras,está negociando com a Nestlé a venda do Aquifero Gurani ,que garantirá para o pais, por muitos anos, água potável. Isso não pode passar em branco. O Chefe Supremo do Exército que zela pelo país, deve fazer alguma coisa", escreveu Boff, referindo-se ao general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército.

Villas Bôas já descartou em várias declarações uma intervenção na presidência da República. Em artigo sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro na revista Veja desta semana, ele defende ser "fundamental" ao sucesso da empreitada que o interventor nomeado, general Walter Braga Netto, "disponha de todos os meios necessários.


"É importante que medidas legais, em caráter excepcional, sejam estabelecidas para que os militares possam atuar com maior efetividade e obtenham os resultados almejados pela sociedade, sempre respeitando as garantias constitucionais", afirma Eduardo Villas Bôas. (Com informações do Brasil 247).

(Foto: Reprodução/ Brasil 247).

Leonardo Boff critica servidão dos jornalistas da globo e diz ter pena de Leilane


(Foto: Reprodução/ Brasil 247).

O teólogo e escritor Leonardo Boff destacou nesta terça-feira, 13, as manifestações e críticas que o grupo Globo tem recebido neste carnaval. Em sua página no Twitter, Boff questionou como os jornalistas das empresas da família Marinho têm suportado tanto constrangimento.

"Com é que os jornalistas homens e as jornalistas mulheres da Globo estão suportando tanto constrangimento do que se viu e ouviu no Carnaval? É duro ter que assumir a ideologia retrógrada do Grupo Globo. Tenho pena da @LeilaneNeubarth", escreveu Boff.

Ao mencionar a jornalista Leilane Neubarth, Boff se referiu ao vídeo que viralizou nas redes sociais, que mostra a jornalista saindo do sério em transmissão ao vivo, quando um grupo de sambistas canta que "vai dar PT" atrás dela. 

            


"Os símbolos dizem mais que as palavras.O que a Tuiuti mostrou em símbolos tem mais efeito do que tudo o que nós,eu e outros dissemos em artigos e em twitters contra o golpe dado contra o Brasil.É mais que indignação.É desmascaramento da atual situação vergonhosa do governo atual", disse também Leonardo Boff.

A jornalista respondeu a Boff. "Com todo respeito, @LeonardoBoff guarde sua pena para as pessoas que passam necessidade ou precisam da sua ajuda. Eu sou uma profissional realizada, uma mãe feliz e uma mulher muito amada", disse Leilane.

"Jornalismo escravizado"

Além de Leonardo Boff, o jornalista Florestan Fernandes Júnior também criticou os jornalistas da Globo na cobertura do carnaval, especialmente da apresentação da escola Paraíso do Tuiuti.


"Ninguém no estúdio da Globo se atreveu a narrar o que via. Uma cena patética e constrangedora. Durante longos minutos as imagens mostravam uma plateia vibrando com o carro alegórico que trazia em destaque um Temer Vampirizado", retrata Florestan. "Só faltou a Tuiuti mostrar os repórteres escravos dos senhores da comunicação que não têm liberdade sequer para dizer o que todos viram em cores e ao vivo", diz ele (com informações do Brasil 247).

Papa condena golpe no Brasil, mas Igreja se calou ante Estado de exceção, diz Leonardo Boff


O teólogo e escritor Leonardo Boff é o convidado desta terça-feira (6) do programa Entre Vistas, apresentado pelo jornalista Juca Kfouri, na TVT, às 21h – canal digital 44.1, e também pelo Youtube e Facebook. Em quase uma hora de programa, o frei que foi um dos mentores da Teologia da Libertação no Brasil discorre sobre o papel da Igreja Católica no contexto político e social do país, e sobre a posição do Papa Francisco diante do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

Os padres perderam sua capacidade ‘profética’. Hoje temos uma Igreja enfraquecida, dividida, com alguma posição diante da Amazônia e da Previdência, mas que se calou diante da reforma trabalhista e do Estado de exceção que persegue. É uma Igreja adaptada à situação”, criticou.

Boff elogia, porém, a conduta do Papa Francisco e sua atitude de não apenas “dar discurso” para os pobres, mas sim ir ao encontro deles, estar onde eles estão. E fez uma revelação: “A Dilma pode não falar, mas o Papa enviou uma carta de apoio durante o impeachment. Enquanto houver esse governo, ele não virá ao Brasil. Veio uma vez porque é um grande devoto de Nossa Senhora Aparecida, mas não recebeu o Temer. Ele é um homem de princípios”.

Durante a entrevista, o teólogo foi contundente ao analisar o impeachment de Dilma Rousseff e o golpe em curso no Brasil. “Os bilionários do país foram os que deram o golpe, porque se deram conta que as políticas sociais do Lula iriam se consolidar”, afirmou. Para ele, a verdade e a justiça em algum momento prevalecerão. “O que nos faltou foi uma Bastilha”, ponderou, se referindo à revolta que pôs fim a monarquia da França em 1789. “A casa-grande continua com a mesma lógica, paga um salário como se fosse esmola."

No programa, gravado nesta segunda-feira (5), no Café do Sindicato dos Bancários, no Edifício Martinelli, centro de São Paulo, Leonardo Boff defende um melhor diálogo com os grupos evangélicos dispostos a enfrentar as injustiças do Brasil, e não descartou o surgimento de um movimento de “desobediência civil” no país. “Objetivamente seria uma sublevação, mas não basta o desejo, tem de haver condições de fazer isso. Acho que eles (o governo de Michel Temer) estão esticando o barbante demais.”

Além do jornalista Juca Kfouri, o Entre Vistas que vai ao ar nesta terça conta com a participação de Adriana Magalhães, secretária de comunicação da CUT-SP, Alexandre Conceição, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e Edin Abumanssur, orientador do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). (Com informações da RBA).


Além de Boff e Juca, participam Alexandre Conceição (MST), Adriana Magalhães (CUT-SP)
e Edin Abumanssur (PUC-SP). (Foto: Reprodução/ RBA).

As pessoas vão à rua quando as crianças passarem fome, diz Leonardo Boff


A situação do Brasil, um ano após o final do processo de impeachment que tirou Dilma Rousseff do governo, mostra que “o golpe foi um tiro no pé” dos que o  promoveram. “Depois que Dilma foi tirada, tudo piorou. Todos os itens estão piorando de mês a mês. Diziam que a solução era tirar a Dilma e afastar o PT que o Brasil ia melhorar, mas ocorreu exatamente o contrário”, diz o frei Leonardo Boff.

Eles não têm lideranças, e grande parte é de corruptos. Grande parte foi comprada para votar pelo impeachment. Vivemos num estado de exceção. Eles violam e passam por cima da Constituição. Levaram o Brasil a um impasse.”


Da RBA -  Boff está em Chapecó (SC), onde, por coincidência, também se encontra na noite desta sexta-feira (1) a própria Dilma Rousseff. “Ela está em Chapecó fazendo concorrência comigo, pois dá uma palestra às 7 horas da noite, e eu dou às 7 e meia”, brinca o frei e escritor. A ex-presidenta ministra na cidade catarinense uma aula pública sobre os partidos políticos e a esquerda brasileira, no Complexo de Eventos Tabajara, na cidade hoje mais conhecida pelo time de futebol que disputa a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.


Para Leonardo Boff, diante da destruição de direitos do povo e da Constituição, decorrente das políticas devastadoras promovidas pelo governo Michel Temer, “a esperança vem no momento em que houver mobilização popular: ela chegará possivelmente quando sentirem na pele as consequências funestas dessas medidas duras, desses reajustes que o presidente ilegítimo está impondo”.

Quando será essa hora? “Quando as pessoas perceberem que as crianças estão passando fome, que já não podem ser atendidas na saúde, que as escolas já não funcionam. Esse é o momento de saírem à rua, porque os adultos aguentam a fome, mas o que eles não suportam é ver os filhos que não conseguem dormir porque gritam que fome”, diz. “Aí é o momento de uma convulsão social, que, no meu modo de ver, virá mais adiante, com o protesto contra esse tipo de governo que é antivida, antipovo, e discute tudo sem consultar a sociedade, passando por cima da Constituição”.

Para Boff, o governo extremamente autoritário se baseia em uma “maioria de ministros, e grande parlamento, Senado ou Câmara, corruptos ou acusados de corrupção”.

A dramática situação do país é resultado de um golpe feito pela classe dominante “que usou o parlamento, uma parte do judiciário, aliada com uma mídia conservadora, a mídia empresarial, que deram um golpe, porque se deram conta que as políticas sociais que começaram com o Lula estavam se consolidando, e tornando já uma coisa de continuidade”.

Em sua opinião, os historiadores mostram que isso sempre ocorre quando políticas populares ameaçam se consolidar no Brasil. Boff cita números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), segundo os quais os “multimilionários” brasileiros com renda mensal maior do que 160 salários mínimos, no topo da pirâmide social, são 71.440 pessoas.

Esses cidadãos são cerca de 0,5% dos que declaram Imposto de Renda, com rendimentos de R$ 298 bilhões e patrimônio de R$ 1,2 trilhão. “São os que estão atrás do golpe, pressionando para mudar a Constituição, para medidas severas que vão significar a transferência de muita riqueza para eles, ao preço de o povo perder direitos, empobrecer, cair de novo no mapa do fome como já caiu.”

Escritor e Frei, Leonardo Boff.. Foto: Alan Marques/ FolhaPress.

Teólogo Leonardo Boff voltar a criticar Temer: “a corda vai arrebentar, virá violência”



O escritor e teólogo Leonardo Boff voltou a criticar o governo de Michel Temer, o primeiro presidente denunciado por corrupção na história do País e, segundo a última pesquisa Datafolha, com apenas 7% de aprovação, a menor popularidade em 28 anos.

"Temo que dentro de pouco tenhamos sequestros e terrorismo no Brasil, em reação aos excessos do governo. A corda vai arrebentar, virá violência", escreveu Boff no Twitter.

Do 247 - Além de ter chegado ao Palácio do Planalto por meio de um golpe e de ser denunciado por corrupção, Temer tenta emplacar as reformas Trabalhista e Previdenciária, rejeitadas pela ampla maioria da população, e pior: deve ser alvo de novas denúncias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Em maio, após vir à tona o conteúdo das gravações da JBS, o procurador também acusou Temer de obstrução judicial e organização criminosa.

Para que Temer seja investigado pelo STF, a Câmara precisa autorizar - o trâmite da denúncia por corrupção já acontece na Casa. Para escapar, o peemedebista tenta comprar votos.

Levantamento da ONG Contas Abertas aponta que o governo federal liberou em junho R$ 134 milhões em emendas parlamentares a 36 dos 40 deputados que votaram a favor do presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Os deputados que votaram contra o presidente tiveram liberados no mesmo mês R$ 66 milhões em emendas (metade do valor dos pró-Temer).


Leonardo Boff: "Todos saímos diminuídos como nação e envergonhados dos representantes do povo”



Observando o comportamento dos parlamentares nos três dias em que discutiram a admissibilidade do impedimento da presidenta Dilma Rousseff, parecia-nos ver criançolas se divertindo em um jardim da infância. Gritarias por todo canto. Coros recitando seus mantras contra ou a favor do impedimento. Alguns vinham fantasiados com os símbolos de suas causas. Pessoas vestidas com a bandeira nacional como se estivessem em um dia de carnaval. Placas com seus slogans repetitivos. Enfim, um espetáculo indigno de pessoas decentes de quem se esperaria um mínimo de seriedade. Chegou-se a fazer até um bolão de apostas como se fora um jogo do bicho ou de futebol.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.
Mas o que mais causou estranheza foi a figura do presidente da Câmara que presidiu a sessão, o deputado federal Eduardo Cunha. Ele vem sendo acusado de muitos crimes e é réu pelo Supremo Tribunal Federal (STF). É um gangster julgando uma mulher decente, contra a qual ninguém ousou lhe atribuir qualquer crime. Isso teve repercussão nacional e internacional, a ponto de o New York Times de 15 de abril escrever: "Ela não roubou nada, mas está sendo julgada por uma quadrilha de ladrões".

Que interesse secreto alimenta a Suprema corte, face a tão escandalosa omissão? Recusamos a ideia de que esteja participando de alguma conspiração, mas precisamos questionar a responsabilidade do STF por ter permitido esse ato que nos envergonhou.

O que ocorreu na declaração de voto foi algo absolutamente desviante. Tratava-se de julgar se a presidenta havia cometido um crime de irresponsabilidade fiscal junto a outros manejos administrativos das finanças, base jurídica para um processo político de impedimento que implica destituir a presidenta de seu cargo, conseguido pelo voto popular majoritário. Grande parte dos deputados sequer se referiu a essa base jurídica, as famosas pedaladas fiscais etc.. Em vez de se ater juridicamente ao eventual crime, deram asas à politização da insatisfação generalizada que corre pela sociedade em razão da crise econômica, do desemprego e da corrupção na Petrobras. Essa insatisfação pode representar um erro político da presidenta, mas não configura um crime.

Como em um ritornello, a grande maioria se concentrou na corrupção e nos efeitos negativos da crise. Apostrofaram hipocritamente o governo de corrupto quando sabemos que um grande número de deputados está indiciado em crimes de corrupção. Boa parte deles se elegeu com dinheiro da corrupção política, sustentada pelas empresas. Generalizando, com honrosas exceções, os deputados não representam os interesses coletivos, mas das empresas que financiaram suas campanhas.

Importa notar um fato preocupante: emergiu novamente (como um espantalho) a velha campanha que reforçou o golpe militar de 1964: as marchas da religião, da família, de Deus e contra a corrupção. Dezenas de parlamentares da bancada evangélica claramente fizeram discursos de tom religioso e invocando o nome de Deus. E todos, sem exceção, votaram pelo impedimento.

Poucas vezes se ofendeu tanto o segundo mandamento da lei de Deus que proíbe usar o santo nome de Deus em vão. Grande parte dos parlamentares, de forma pueril, dedicavam seu voto à família, à esposa, à avó, aos filhos e aos netos, citando seus nomes, em uma espetacularização da política de reles banalidade. Ao contrário, aqueles que votaram contra o impedimento argumentavam e mostravam um comportamento decente.

Fez-se um julgamento apenas político sem embasamento jurídico convicente, o que fere o preceito constitucional. O que ocorreu foi um golpe parlamentar inaceitável.

Os votos contra o impedimento não foram suficientes. Todos saimos diminuídos como nação e envergonhados dos representantes do povo que, na verdade, não nos representam nem pretendem mudar as regras do jogo político.

Agora nos resta esperar a racionalidade do Senado, que irá analisar a validade ou não dos argumentos jurídicos, base para um julgamento político acerca de um eventual crime de responsabilidade, negado por notáveis juristas do país.

Talvez não tenhamos ainda amadurecido como povo para poder realizar uma democracia digna deste nome: a tradução para o campo da política da soberania popular.

Leonardo Boff aponta 10 lições da crise brasileira



Toda crise acrisola, purifica e faz madurar. Que lições podemos tirar dela? Elenco algumas.


Primeira lição: o tipo de sociedade que temos não pode mais continuar assim com é. As manifestações de 2013 e as atuais mostraram claramente: não queremos mais uma democracia de baixíssima intensidade, uma sociedade profundamente desigual e uma política de negociatas. Nas manifestações os políticos também os da oposição foram escorraçados. Igualmente movimentos sociais organizados. Queremos outro tipo de Brasil, diverso daquele que herdamos que seja democrático, includente, justo e sustentável.

Segunda lição: superar a vergonhosa desigualdade social impedindo que 5 mil famílias extensas controlem quase metade da riqueza nacional. Essa desigualdade se traduz por uma perversa concentração de terras, de capitais e de uma dominação iniqua do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da dívida pública. Enquanto  não se taxarem as grandes fortunas e não submeterem os bancos a níveis razoáveis de lucro o Brasil será sempre desigual, injusto e pobre.

Terceira lição: prevalência do capital social  sobre o capital individual. Quer dizer, o que faz o povo evoluir não é matar-lhe simplesmente a fome e faze-lo um consumidor mas fortalecer-lhe o capital social feito pela educação, pela saúde, pela cultura e pela busca do bem-viver, pré-condições de uma cidadania plena.

Quarta lição: cobrar uma democracia participativa, construída de baixo para cima com forte presença da sociedade organizada especialmente dos movimentos sociais que enriquecem a democracia representativa que, por causa de sua histórica corrupção, o povo sente que ela não mais o representa.

Quinta lição: a reinvenção do Estado nacional. Como foi montado historicamente, atendia as classes que detém o ter, o poder, o saber e a comunicação dentro de uma política de conciliação entre as oligarquias, deixando sempre o povo de fora. Ele está aí  mais para  garantir privilégios do que para realizar o bem geral da nação. O Estado tem que ser a representação da soberania popular e todos os seus aparelhos devem estar a serviço do bem comum, com especial atenção aos vulneráveis (seu caráter ético) e sob o severo controle social com as devidas instituições para isso. Para tal se faz necessária uma reforma política, com nova constituição, fruto da representação nacional e não apenas partidária.

Sexta lição: o dever ético-político de pagar a dívida às vítimas feitas no processo da constituição de nossa nacionalidade e que nunca foi paga: para com os indígenas quase exterminados, para com os afrodescendentes (mais da metade da população brasileira) feitos escravos, carvão para o processo produtivo; os pobres em geral sempre esquecidos pelas políticas públicas e desprezados e humilhados pelas classes dominantes. Urge políticas compensatórias e pro-ativas para criar-lhes oportunidades de se autopromoverem e se inserirem nos benefícios da sociedade moderna.

Oitava lição: fim do presidencialismo de coalizão de partidos, feito à base de negócios e de tráfico de influência, de costas para o povo; é uma política de planalto desconectada da planície onde vive o povo. Com ou sem Dilma Rousseff à frente do governo, precisa-se, para sair da pluricrise atual, de uma nova concertação entre as forças existentes na nação. Não pode ser apenas entre os partidos que tenderiam a reproduzir a velha e desastrada política de conciliação ou de coalizão mas uma concertação que acolha representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais de caráter nacional, representantes do empresariado, da intelectualidade, das artes, das mulheres,  das igrejas e das religiões a fim de elaborar uma agenda mínima aceita por todos.

Nona lição: O caráter claramente republicano da democracia que vai além da neoliberal e privatista.  Em outras palavras, o bem comum (res publica) deve ganhar centralidade e em seguida o bem privado. Isso se concretiza por política sociais que atendam as demandas mais gerais  da população  a partir dos necessitados e deixados para trás. As políticas sociais não se restringem apenas a ser distributivas mas importa serem  redistributivas (diminuir de quem tem de mais para repassar para quem tem de menos), em vista da redução da desigualdade social.

Décima lição: inclusão da natureza com seus bens e serviços e da Mãe Terra com seus direitos na constituição de um novo tipo de democracia sócio-cósmica, à altura consciência ecológica que reconhece todos os seres como sujeitos de direitos formando um grande todo: Terra-natureza-ser humano. É a base de um novo tipo de civilização, biocentrada, capaz de garantir o futuro da vida e de nossa civilização.

Os continuadores da Casa Grande estão voltando, por Leonardo Boff



Toda  crise desbasta as gangas e traz à luz o que elas escondiam pois sempre eram atuantes nas bases de nossa sociedade. Aí estão as raízes últimas de nossa crise política, nunca superada historicamente;  por isso, de tempos em tempos afloram com virulência: o desprezo e a humilhação dos pobres. É o outro lado da cordialidade brasileira, como bem o explicou Sérgio Buarque de Holanda. Do coração nasce nossa bem-querença e informalidade mas também nossos ódios. Talvez, melhor diríamos: o brasileiro mais que cordial,  é um ser sentimental. Rege-se por sentimentos contraditórios e radicais.

Há que se reconhecer: vigora ódio e profundas dilacerações em nosso país. Precisamos qualificar este ódio. Ele é ódio contra os filhos e filhas da pobreza, daqueles que vieram dos fundos da senzala ou das imensas periferias. Basta ler os historiadores que tentaram ler nossa história a partir das vítimas,  como acadêmico José Honório Rodrigues ou o mulato Capistrano de Abreu ou então o atual diretor do IPEA o sociólogo Jessé de Souza para darmo-nos conta sobre que solo social estamos assentados. As grandes maiorias empobrecida eram para as oligarquias econômicas e as elites intelectuais tradicionais e pelo estado por elas controlado, peso morto. Não só foram marginalizadas mas humilhadas e desprezadas. Refere José Honório Rodrigues:

“A maioria dominante  foi sempre alienada, antiprogressista, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é.  Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo – Jeca-Tatu -, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence”(Reforma e conciliação no Brasil p.16).

Não se trata de uma descrição do passado, mas a verificação do que está ocorrendo no atual momento. Por uma conjunção rara de forças, alguém vindo de baixo, um sobrevivente, Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu furar a blindagem promovida pelos poderosos e chegar à presidência. Isso é intolerável para os grupos poderosos e intelectualizados que negam a qualquer relação com os do andar de baixo. Mais intolerável ainda é o fato de que com políticas sociais bem direcionadas foram incluídos milhões que antes estavam fora da cidadania. Estes começaram  a ocupar os lugares antes reservados aos beneficiados do sistema discricionário. Começaram a consumir, entrar nos shoppings e voar de avião. Sua presença irrita  os do andar de cima e começam a odiá-los.

Podemos criticar que foi uma inclusão incompleta. Criou consumidores mas poucos cidadãos críticos. Deixaram de ser famélicos. Mas o ser humano não é apenas um animal faminto. É um ser de múltiplas virtualidades, como todos, um projeto infinito. Ocorre que não houve um desenvolvimento do capital social consistente em termos de educação, saúde, transporte, cultura e lazer. Essa seria outra etapa e mais fundamental que já estava sendo implementada com escolas profissionais e  com o acesso de milhares de empobrecidos  à universidade.

O fato é que quando esses deserdados começaram a se organizar e erguer  a cabeça foram logo desqualificados e demonizados. Atacaram seu principal representante e líder, Lula. O fato de ter sido levado sob vara para um interrogatório, ato desproporcionado e humilhante, visava exatamente isso: humilhar e destruir sua figura carismática. Junto com ele, liquidar, se for possível, o seu partido e torna-lo inapto para disputar futuras eleições.

Em outras palavras, os descendentes da Casa Grande estão de volta. A onda direitista que assola o país possui esse transfundo. Buscar o impedimento da presidenta Dilma é o último capítulo desta batalha para chegar ao estado anterior, onde eles, os dominantes, (71 mil super-ricos com seus aliados, especialmente do sistema financeiro, que representam 0,05 da população) voltariam a ocupar o estado e faze-lo funcionar em benefício próprio, excluídas as maiorias populares. A aliança deles com a grande mídia, formando um bloco histórico bem articulado, conseguiu conquistar para a sua causa a muitos dos estratos médios, progressistas nas profissões mas conservadores na política. Esses mal sabem da manipulação  e da exploração econômica a que estão submetidos pelos ricos como notou recentemente Jessé de Souza.

Mas a consciência dos pobres uma vez despertada, não há mais como freá-la. Transformações virão, dando outro rumo ao país.