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Datena, Barbosa e Huck: o que levam 'outsiders' a desistirem do pleito?


Os Outsiders que desistiram da corrida eleitoral, Datena, Joaquim Barbosa e Luciano Huck. (Foto: Reprodução/ STF/ Divulgação / Montagem).

Um dos últimos "grandes" outsiders das eleições de 2018 anunciou no início de julho que está fora da corrida eleitoral deste ano. O apresentador da Band José Luiz Datena havia apresentado sua pré-candidatura ao Senado pelo DEM e voltou atrás em menos de uma semana. No mesmo dia retornou a seu programa dominical na emissora.

Não é a primeira vez que faz isso e nem o único. Nas eleições de 2016, o jornalista já havia ensaiado disputar a prefeitura de São Paulo pelo PP, mas retirou sua pré-candidatura.

"Achei que não era a hora de participar dessa política do jeito que ela esta aí", afirmou à imprensa sobre a mais recente desistência.

Neste ano eleitoral houve ao menos outras duas baixas entre os "famosos" citados em pesquisas eleitorais, ambos postulantes ao Palácio do Planalto: o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e o apresentador global Luciano Huck.

Na ocasião em que Barbosa anunciou sua desistência no Twitter, Datena lamentou a retirada do ex-magistrado sem prever que ele próprio seria o próximo a repetir o feito. "Era o cara que [eu] passaria perto de votar". "Virei órfão político", declarou à Folha de S. Paulo.

Os motivos que o fizeram desistir, assim como no caso de Barbosa e Huck, podem ser resumidos em três aspectos no olhar de cientistas políticos ouvidos pela reportagem: questão pessoal e familiar, finanças e exposição da vida privada.

Antes mesmo de anunciar sua entrada no jogo eleitoral, Datena disse à imprensa que sua mulher chorava “dia e noite” com receio. Ao anunciar seu nome como pré-candidato, o apresentador informou que sua decisão foi tomada junto com seus familiares.

Entre os argumentos, Huck e Barbosa alegaram questões pessoais e familiares para abandonar o pleito. Para Claudio Couto, cientista político, essa motivação pode ou não ser verossímil. “A política profissional é demandante e não é fácil ser familiar de político. Político não tem hora, político tem sua vida privada devassada, sofre ataques, ou seja, tem uma vida muito exposta. Tudo isso pesa para a família e, consequentemente, é uma escolha difícil para quem tem uma vida razoavelmente organizada e estruturada. Há quem consiga lidar bem isso, há que não consiga”, diz.

Isso é uma explicação plausível, embora não necessariamente a única. Às vezes dizer que são problemas particulares é uma boa maneira de não dar explicação, afinal de contas ninguém tem que dar satisfação dos seus problemas particulares para os outros.”

Outro argumento em voga está relacionado com a questão financeira. Os dois apresentadores de televisão têm rendimentos que podem facilmente chegar a mais de R$ 1 milhão ao mês, entre salário e participação em campanhas publicitárias.

No caso do ex-ministro do STF, sua aposentadoria na corte do Supremo lhe garante R$ 33.763,00. Não há dados sobre o quanto lhe rende sua atuação no escritório de advocacia que montou em São Paulo após se retirar do tribunal. O salário bruto de um presidente da República é de R$ 30.934,70.

Ganhando ou perdendo o pleito, Jairo Pimentel, cientista político e especialista em pesquisas eleitorais, crê que a chance de perdas no campo profissional são muito altas. "Eles [Datena e Huck] têm muito a perder ao entrar na política. Pode significar o fim de carreiras bem sucedidas. Uma das condições impostas ao Luciano Huck pela Globo é que ele deixasse o programa de TV e se descompatibilizar da emissora. Imagina quantos milhões ele deixaria de ganhar nesse período. Isso pesa no curto e no longo prazo porque uma vez candidato, sendo eleito ou não, afeta diretamente o rumo dele dentro do seu ramo mais tradicional. E isso representa um fator de desistência das candidaturas."

A ideia é corroborada por Couto: "Quanto será que Datena e o Luciano Huck ganham nos programas deles de televisão? Será que eles vão abrir mão dessa vida confortável de ganhos muito consideráveis, de cobranças muito pequenas com relação à vida pública em prol de uma alternativa muito menos interessante que á a atividade política? Acho que é esse o ponto e talvez por isso tenham desistido sem sequer ter começado".

Ainda na esfera econômica, outro ponto delicado é a perspectiva dos partidos em contar com o aporte financeiro de seus outsiders nas campanhas. O apresentador da Band chegou a afirmar que não ia colocar nenhum recurso próprio para a disputa da cadeira do Senado. A postura do apresentador contratasta com a do tucano João Dória, que chegou à prefeitura de São Paulo investindo quase 3 milhões de reais de sua fortuna pessoal.

Outro obstáculo para os novatos está relacionada a própria inexperiência em lidar com a estrutura e comandos dos partidos políticos. Datena declarou à Folha de S.Paulo que se o enchessem na política poderia “dar uma bica na bola”, referindo-se a uma possível desistência do pleito.

Segundo Couto, tal postura mostra o próprio equívoco que seria sua candidatura. “Ninguém faz política sem aceitar algum tipo de imposição por parte do partido. É preciso fazer negociações, a política requer busca de soluções de compromissos e negociações. Acho que, inclusive, a dificuldade de lidar com isso foi uma das coisa que levou à tragédia da Dilma: uma pessoa muito pouco propensa a buscar soluções de compromisso, a dialogar, a negociar consequentemente. Terminou como terminou”, explica.

A personalidade do outsider é fator determinante das dificuldades do apresentador em compreender o funcionamento do mundo político. “O Datena achando que por seus belos olhos e pela sua popularidade como apresentador de TV poderia entrar na política sem fazer qualquer tipo de concessão é algo completamente equivocado. É um erro achar que dá para fazer política sem qualquer tipo de concessão, achando que chegando ali já chega por cima de todo mundo. Uma bobagem. Acho que mostra a incompreensão que é a vida política”, afirma Couto, que defende que a política deve ser exercida profissionalmente.

Pimentel corrobora com a reflexão e ressalta que a vantagem dele em relação a Huck estava nos seus bons resultados nas intenções de votos. "O Datena tinha mais probabilidade de ser eleito em relação ao Huck, até porque o cargo era mais fácil de ser alcançado. Provavelmente o que pesou mais para o Datena foi a incompatibilidade de sua personalidade com o mundo político. Ele é uma pessoa cuja personalidade não é muito afeita a aceitar o dissenso ou de aceitar contestações."

Renovação política?

Datena, Barbosa e Huck, no curto período que estiveram sob o olhar dos partidos, sempre foram vendidos ao eleitorado como nomes que poderiam renovar a política brasileira. "A gente vive um momento em que a opinião pública clama por alguém de fora da política para arejar o sistema tendo em vista os escândalos de corrupção, e mesmo a crise econômica que a opinião pública co-relaciona à crise moral. Os outsiders representam uma esperança desse quadro", afirma Pimentel, que também ressalta a ânsia por novos nomes da política como algo frequente.

"Sempre houve um discurso de renovação política. Talvez a renovação que tivemos mais ampla foi com a que veio com a redemocratização. Mesmo os caras-pintadas, hoje, já estão velhos. Mas isso é sempre uma demanda necessária porque a política é uma estrutura de busca pelo poder, por força, por recursos que acaba transmitindo a ideia de que ela sempre precisa ser moralizada". O problema, aponta ele, é justamente o fato de o sistema político ser muito refratário a mudanças. "Ele é muito mais construída para a manutenção das coisas."

Para Couto, a renovação não deve vir necessariamente a partir dos outsiders. "Vamos imaginar que a 'nova política' seja uma maneira de fazer política diferente daquela que vem sendo feita tradicionalmente no país. Ela não precisa ser algo feita necessariamente por outsiders. Por trás dessa ideia existe uma crença ao meu ver equivocada de que a política não pode ser exercida profissionalmente e que ao ser exercida profissionalmente é que se produz o problema".

Ele aponta que assim como existem maus profissionais em outras áreas e atividades, o mesmo acontece na esfera política.

"Claro que há uma série de problemas nas nossas instituições. Elas produzem um recrutamento perverso da classe política. A qualidade de políticos no âmbito dos partidos e do legislativo é muito ruim e tem produzido um efeito negativo, mas isso não quer dizer que a solução para isso seja necessariamente a entrada de outsiders. É claro que uma renovação do ponto de vista de você não ter sempre os mesmo quadros pode ser uma coisa positiva. É bom ter sangue novo na política como é bom ter sangue novo em qualquer outra atividade humana. Agora o fato de outsiders terem tido seus nomes aventados a concorrer e rapidamente terem desistido, talvez isso só confirme o ponto de que política é para profissional".

"Quem está ali em uma aventura ou tentativa voluntarista de resolver os problemas com base na suas boas intenções ou acreditando que vai poder fazer isso como esporte, talvez não tenha tantas condições de competir como acreditava que teria", conclui. (Com informações de CartaCapital).

"O Brasil está pronto para ter um presidente negro?", perguntou o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa



"Será que o Brasil está pronto para ter um presidente negro?"

A pergunta foi feita pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, durante encontro com artistas na casa de Caetano Veloso, no Rio de Janeiro.

Do 247 - No jantar, ele afirmou que sua tendência é não disputar a presidência da República em 2018.

"A verdade é que eu resisto. Estou mais para não ser", disse ele, segundo relato da coluna de Mônica Bergamo. Barbosa disse que ainda que preza muito a sua liberdade – e que isso não tem preço.

Entre os presentes, estavam artistas como Marisa Monte, Lázaro Ramos, Fernanda Torres, Fernanda Lima, Caetano Veloso e Thiago Lacerda, que o convidaram para um encontro e tentaram convencê-lo a mudar de ideia

Segundo pesquisas recentes, Barbosa teria potencial para chegar a um segundo turno e até vencer a disputa, uma vez que conta com baixa rejeição, num ambiente de descrédito geral da classe política.



A linhagem do racismo estrutural brasileiro, por Nêggo Tom


O Ministro do STF Luiz Roberto Barroso resolveu prestar uma homenagem ao ex-ministro do também STF Joaquim Barbosa, mas como sabemos que para alguns é difícil elogiar um preto sem deixar de frisar que ele é preto, a menção feita, ao invés de honrosa, se tornou horrorosa

Do Ceert - Barroso se referiu a Barbosa como um "negro de primeira linha", assim mesmo, como se estivesse analisando um tecido. Eu acho que se ele tivesse chamado o Joaquim Barbosa de veludo cotelê da suprema corte teria sido mais elogioso.

Falar sobre racismo - assim como sempre foi praticá-lo de forma sutil - não é mais um tabu. A questão precisa cada vez mais ser discutida, e mais do que isso, o pingo precisa ser colocado nos is. Não dá para deixar passar deslizes como o do ministro Barroso. É claro, que o inconsciente coletivo racista precisa ser trabalhado. Diria, até, reeducado, numa espécie de "intensivão"de bons modos. Deslizar no politicamente correto é próprio dos racistas. Se você acha que eu estou dizendo que o ministro Barroso foi racista, acertou. E nem precisa ser um entendedor de primeira linha para o perceber.

Mas o que seria deslizar no politicamente correto? Você que é preto (a), e que agora lê esse texto, já deve ter passado por algumas situações semelhantes a que fora sumetido o nosso "negro de primeira linha", Joaquim Barbosa. Vamos ao dejavu. Alguém certamente já tentou elogiar a beleza da mulher preta com a frase: "Ela é preta, mas é bonita", ou tentou parabenizar o negão pelo seu bom caráter e boa postura, soltando um: "Ele é preto, mas é gente boa" ou "Ele é um preto educado". As frases citadas nada mais são, do que versões pontuais e alternativas ao "preto de alma branca", afinal, o nosso racismo também é cultural.

O racista sempre irá escorregar numa casca de banana e levar um tombo feio, quando tentar enveredar pelo politicamente correto. Ser politicamente correto não é uma simples questão de escolha, ou algo que se assimila lendo um manual. É um estado de espírito. Talvez, por esse motivo, muitos entendem como uma verdadeira chatice, ter que abrir mão dos hábitos e costumes herdados dos colonizadores. Antigamente não tinha nada disso, os pretos nem ligavam e a gente não precisava ficar pisando em ovos para falar com eles. Mas as coisas mudaram e mudarão ainda mais, caras pálidas. Podem crer.

Suponhamos que eu elogiasse a um branco, me referindo a ele como branco de primeira linha. Como você ele sentiria ou reagiria? Se sentiria elogiado e orgulhoso por estar sendo diferenciado dos demais? Afinal, tem branco que é foda, né? Quando não caga na entrada.... Ou ele me faria algum tipo de advertência, sinalizando a possibilidade de eu estar sendo preconceituoso em minha colocação? Eu, como preto, já o fiz e confesso que o meu aparte não foi muito bem recebido. Não me importa! Eu não sou obrigado a ouvir expressões racistas e agradecer o elogio. Você é? Por que? A defesa da sua dignidade não deveria estar em primeiro lugar? Não devemos aceitar com naturalidade, a imposição de estereótipos, ainda que eles pareçam inofensivos, ou até mesmo, elogiosos

Por exemplo, quando um preto não vê maldade e acha legal, personagens como o Zé Pequeno, que foi adotado como uma espécie de herói fora da lei, pelo programa Pânico, reforçando a ideia de que o preto é naturalmente meio marginal, intimidador, violento, boca suja, sem educação e que resolve tudo na porrada, você está permitindo que um juízo de valor e linhagem seja feito com relação a todos os pretos. É claro que existem "Zé Pequenos" brancos, mas sobre esses não pesará o fardo do racismo e do preconceito. Para o ministro Barroso, a etnia de Joaquim Barbosa se torna mais relevante do que a sua própria competência como jurista, porque segundo o nosso racismo institucional, não é comum um preto chegar onde Barbosa chegou.

Fica claro que o pensamento de Barroso e da parte racista da nossa sociedade é o seguinte: O preto pode ser bom, competente e talentoso, mas nunca deverá ser comparado a um branco. O uso da palavra negro, antecedendo ao que deveria ser um elogio, caracteriza distinção. Colocar as coisas em seu devido lugar, ou no lugar que os racistas entendem que elas devem sempre estar. Barroso fez o seu mea culpa, pediu perdão, tentou se justificar, se emocionou, mas não me convenceu o suficiente, para classificá-lo como um ator de primeira linha. Mas sem dúvida, ele é um grande jurista branco.


Fim da linha.

Foto: José Cruz/ Agência Brasil.

“Negro de Primeira Linha”: O racismo que escapole no discurso politicamente correto do ministro Barroso



Na última quarta-feira (07) o Ministro Roberto Barroso compareceu à cerimônia de aposição do retrato do ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, e, ao saudá-lo afirmou que ele é um “negro de primeira linha”, com doutorado em Paris, a quem tinha tido a honra de receber na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Segundo os presentes o ministro Joaquim Barbosa deixou transparecer no semblante a irritação e o caso foi parar na imprensa provocando uma retratação no dia seguinte.

Do Justificando - Na abertura da sessão plenária do STF de 08 de junho Luis Roberto Barroso desculpou-se pelo ocorrido, afirmou que a expressão “primeira linha” referia-se à palavra intelectual, e não à palavra negro, e disse que se retratava àqueles que eventualmente tenham se sentido ofendidos. O caso pareceu resolvido.

Contudo, penso que continua sendo oportuno pensar, mesmo depois das desculpas apresentadas, sobre o que significa a frase do ministro Barroso e refletir sobre como sua afirmação é elucidativa de como funciona o racismo à brasileira.

Temos aprendido dia a dia no Brasil que não basta interditar trajetórias negras e inviabilizar sua presença na cena pública. 
O repertório do racismo nacional também especializou-se em marcar com categorias raciais para sublinhar o aspecto desconforme destes corpos negros no mundo branco. Ainda que por meio de elogios, aparentemente marcados de boa intenção, multiplicam-se frases sobre a menina que é negra, mas é bonita; moreno, mas muito inteligente; escuro, porém, extremamente honesto

Quando não há como evitar que negros circulem, ainda que minoritariamente, em espaços de poder, riqueza e prestígio são acionados processos para relembrar que negros são a subclasse do mundo e que, em função disso, só podem acessar aos lugares periféricos da história. Quando se reconhece o talento negro isso sempre vem acompanhado de uma conjunção adversativa, pronta a enunciar que aquele talento é surpreendente, ou seja, não esperado de “pessoas de cor”.

Ao ressaltar que o ministro Joaquim é um negro de primeira linha o ministro Barroso está lembrando que os negros em geral são negros de linha alguma, subclasse de gente de quem se questiona a humanidade.

É em face do seu acesso ao mundo dos brancos (doutorado na França, erudição europeia, conhecimento dos idiomas dos países centrais) que Barbosa pode ser digno de registro no repertório controverso das relações raciais no Brasil, mas nunca será efetivamente um igual no mundo dos ministros do STF. Será sempre um “outro” que, apesar da raça, chegou conjunturalmente aquele lugar.

Certamente a fala do ministro Barroso será defendida a partir do discurso de que ele é um estudioso das ações afirmativas; colaborou com pautas da comunidade negra e até que ele tem amigos negros, que frequentam sua casa e gozam de sua confiança. Mas, o racismo se retroalimenta justamente desta contradição: convive-se com negros sem que isso rompa com os pactos e privilégios típicos de uma sociedade construída a partir de modelos de desigualdade e violência.

Certamente Barroso pretendeu ser gentil e elogioso com o seu ex colega de tribunal. Mas a hierarquia do racismo reside justamente na possibilidade de – consciente e inconscientemente – reforçar estigmas e estereótipos; alimentar-se deles para criar desigualdades, e, quando a injustiça racial é denunciada, rapidamente poder afirmar que foi brincadeira, que foi um mal-entendido, que foram os negros que entenderam errado e que não era o objetivo ofender. É o velho dá o tapa e esconde a mão.

O elogio desastrado de Barroso a Joaquim releva mais do que aquilo que enxergamos num primeiro momento. Mais do que uma gafe – como registrou a imprensa – ou mais do que uma palavra infeliz – como anotou o próprio Ministro – a segmentação dos negros entre os de primeira e os de segunda é uma velha narrativa pela qual o Brasil expressa seu incontornável desconforto com negros e negras que aparecem e brilham demais.




Decisão de derrubar Dilma foi de “acuados” pela Lava Jato, diz ex-presidente do STF Joaquim Barbosa


Ex-herói do moralismo pátrio, o ministro aposentado Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF, dá uma entrevista bombástica hoje, a Monica Bergamo, na Folha.
Publicado no Tijolaço

Sobre o impeachment:

O que houve foi que um grupo de políticos que supostamente davam apoio ao governo num determinado momento decidiu que iriam destituir a presidente. O resto foi pura encenação. Os argumentos da defesa não eram levados em consideração, nada era pesado e examinado sob uma ótica dialética.”(…)

Era um grupo de líderes em manobras parlamentares que têm um modo de agir sorrateiro. Agem às sobras. E num determinado momento decidiram [derrubar Dilma].

Acuados por acusações graves, eles tinham uma motivação espúria: impedir a investigação de crimes por eles praticados. Essa encenação toda foi um véu que se criou para encobrir a real motivação, que continua válida.

Golpe ou não?

Não digo que foi um golpe. Eu digo que as formalidades externas foram observadas –mas eram só formalidades.

O pato golpista

A partir de um determinado momento, sob o pretexto de se trazer estabilidade, a elite econômica passou a apoiar, aderiu. Mas a motivação inicial é muito clara.

É tão artificial essa situação criada pelo impeachment que eu acho, sinceramente, que esse governo não resistiria a uma série de grandes manifestações.(…)Ele [Temer] acha que vai se legitimar. Mas não vai. Não vai. Esse malaise [mal estar] institucional vai perdurar durante os próximos dois anos.

As “medidas” e o Congresso:

A lógica é a seguinte: se eu posso derrubar um chefe de Estado, por que não posso intimidar e encurralar juízes? Poucos intuíram –ou fingiram não intuir– que o que ocorreu no Brasil de abril a agosto de 2016 resultaria no deslocamento do centro de gravidade da política nacional, isto é, na emasculação da presidência da República e do Poder Judiciário e no artificial robustecimento dos membros do Legislativo.

A falta de oportunidade:

Eu tenho resistência a algumas das propostas, como legitimação de provas obtidas ilegalmente. E o momento [de apresentá-las] foi inoportuno. Deu oportunidade a esse grupo hegemônico de motivação espúria de tentar introduzir [na proposta] medidas que o beneficiassem.

A prisão de Lula:

Sei que há uma mobilização, um desejo, uma fúria para ver o Lula condenado e preso antes de ser sequer julgado. E há uma repercussão clara disso nos meios de comunicação. Há um esforço nesse sentido. Mas isso não me impressiona. Há um olhar muito negativo do mundo sobre o Brasil hoje. Uma prisão sem fundamento de um ex-presidente com o peso e a história do Lula só tornaria esse olhar ainda mais negativo. Teria que ser algo incontestável.

A “bananização” do Brasil:

(…) As instituições democráticas vinham se fortalecendo de maneira consistente nos últimos 30 anos. O Brasil nunca tinha vivido um período tão longo de estabilidade.

E houve uma interrupção brutal desse processo virtuoso. Essa é a grande perda. O Brasil de certa forma entra num processo de “rebananização”. É como se o país estivesse reatando com um passado no qual éramos considerados uma República de Bananas. Isso é muito claro. Basta ver o olhar que o mundo lança sobre o Brasil hoje.

É um olhar de desdém. Os países centrais olham para as instituições brasileiras com suspeição. Os países em desenvolvimento, se não hostilizam, querem certa distância. O Brasil se tornou um anão político na sua região, onde deveria exercer liderança. É esse trunfo que o país está perdendo.

O silêncio em que se mantinha e a falta dos holofotes parece ter feito muito bem ao raciocínio do Dr. Joaquim Barbosa.


A realidade, porém, é o maior ingrediente desta reflexão. O processo de destruição do Brasil é tão grande que até ele o vê, mesmo tendo sido parte de suas origens, como primeiro a levar o Judiciário ao estrelato.


Joaquim Barbosa: grupo tomou poder “para se proteger e continuar saqueando


O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa voltou a criticar o processo de impeachment que afastou a presidente Dilma Rousseff, chamou partidos políticos de "facções" e afirmou, sem citar diretamente o PMDB de Michel Temer, que o grupo que tomou o poder o fez para se proteger e continuar roubando.

As declarações foram feitas na última terça-feira 9 a empresários durante a abertura de um evento sobre sustentabilidade em São Paulo, conforme registrou o Jornal da Gazeta. Em sua fala, ele também fez críticas à relação entre empresas e governo que se instalou há décadas no Brasil e ao sistema político atual.

"Nosso país está paralisado há mais de um ano em função de uma guerra entre facções políticas. Sabemos por alto que se trata de ambição, de ganância, de apego ao poder, tentativa de se perpetuar no poder para se proteger, mas também para continuar saqueando os recursos da nação", declarou JB.

Em maio, após a primeira votação do Senado pró-impeachment, ele já havia denunciando um "conchavo" no Congresso e defendido enfaticamente novas eleições no País, também em uma palestra. "Aquilo ali era uma pura encenação pra justificar a tomada do poder", comentou Barbosa na ocasião, sobre a votação dos senadores.

"Colocar no lugar do presidente alguém que ou perdeu a eleição presidencial para o presidente que está saindo ou alguém que sequer um dia teria o sonho de poder disputar uma eleição para presidente da República. O Brasil, anotem, vai ter que conviver por mais de dois anos com essa anomalia", disse, em referência ao PSDB e ao PMDB.


Ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa em palestra. Foto capturada do vídeo. 



A Farsa começa a cair: O be-a-bá da política no julgamento do Mensalão




Barbosa pode ver aliados virarem as costas, enquanto o
processo do mensalão vai sendo desmoralizado.
Conquistada a condenação dos réus da Ação Penal 470, o chamado mensalão, a Globo agora quer transferir o ônus do golpismo para o STF, mais especificamente para Joaquim Barbosa. Não parece ser por virtude, mas por esperteza, que William Bonner passou um minuto no Jornal Nacional de quarta-feira (20) lendo a notícia: "Divulgada nota de repúdio contra decisão de Joaquim Barbosa".

O manifesto é assinado por juristas, advogados, lideranças políticas e sociais repudiando ilegalidades nas prisões dos réus do mensalão efetuadas durante o feriado da Proclamação da República, com o ministro Joaquim Barbosa emitindo carta de sentença só 48 horas depois das ordens de prisão.

O locutor completou: "O manifesto ainda levanta dúvidas sobre o preparo ou boa-fé do ministro Joaquim Barbosa, e diz que o Supremo precisa reagir para não se tornar refém de seu presidente".

A TV Globo nunca divulgou antes outros manifestos em apoio aos réus, muito menos criticando Joaquim Barbosa, tampouco deu atenção a reclamações de abusos e erros grotescos cometidos no julgamento. Pelo contrário, endossou e encorajou verdadeiros linchamentos. Por que, então, divulgar esse manifesto, agora?

É o jogo político, que a Globo, bem ou mal, sabe jogar, e Joaquim Barbosa, calouro na política, não. E quem ainda não entendeu que esse julgamento foi político do começo ao fim precisa voltar ao be-a-bá da política. O PT tinha um acerto de contas a fazer com a questão do caixa dois, mas parava por aí no que diz respeito aos petistas, pois tiveram suas vidas devassadas por adversários, que nada encontraram. O resto foi um golpe político, que falhou eleitoralmente, e transformou-se numa das maiores lambanças jurídicas já produzidas numa corte que deveria ser suprema.

A Globo precisava das cabeças de Dirceu e Genoino porque, se fossem absolvidos, sofreria a mesma derrota e o mesmo desgaste que sofreu para Leonel Brizola em 1982 no caso Proconsult, e o STF estaria endossando para a sociedade a tese da conspiração golpista perpetrada pela mídia oposicionista ao atual governo federal.

A emissora sabe dos bastidores, conhece a inocência de muitos condenados, sabe da inexistência de crimes atribuídos injustamente, e sabe que haverá uma reviravolta aos poucos, inclusive com apoios internacionais. A Globo sabe o que é uma novela e conhece os próximos capítulos desta que ela também é protagonista.

Hoje, em tempos de internet, as verdades desconhecidas do grande público não estão apenas nas gavetas da Rede Globo, como acontecia na ditadura, para serem publicadas somente quando os interesses empresariais de seus donos não fossem afetados. As verdades sobre o mensalão já estão escancaradas e estão sendo disseminadas nas redes sociais. A Globo, o STF e Joaquim Barbosa têm um encontro marcado com essas verdades. E a emissora já sinaliza que, se ela noticiou coisas "erradas", a culpa será atribuída aos "erros" de Joaquim Barbosa e do então procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Joaquim Barbosa, homem culto, deve conhecer a história de Mefistófeles de Goethe, a parábola do homem que entregou a alma ao demônio por ambições pessoais imediatas. Uma metáfora parecida parece haver na sua relação com a TV Globo. Mas a emissora parece que está cobrando a entrega antes do imaginado.

Via Rede Brasil Atual