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A história do Brasil nas Copas do Mundo de Futebol Feminino

 

Primeira Seleção Brasileira Feminina de futebol, em 1988. (FOTO  | Reprodução | CBF).


Faltam poucos dias para a 9ª edição da Copa do Mundo e a expectativa pela Seleção Brasileira aumenta diariamente. Relembre a história do Brasil no torneio.

As Copas do Mundo de Futebol Feminino começaram em 1991, no entanto, é essencial contextualizar que o futebol feminino foi proibido no Brasil de 1941 a 1979. Os primeiros torneios nacionais começaram em 1983 e o futebol feminino brasileiro ainda iniciava a sua profissionalização em meio a poucos recursos, muita resistência e estigmas ainda mais fortes.

O início da seleção (1991)

Em 1991, a Seleção Brasileira tinha como base a equipe do Radar, que durou até 1990 e que dominou grande parte dos campeonatos nacionais nos anos 80. Em torneios internacionais, a principal experiência do Brasil foi a Invitations Cup em 1988, torneio teste para a Copa do Mundo de 91. A Seleção foi bem e terminou em 3º lugar.

A Copa de 91 foi realizada na China com 12 equipes. O Brasil caiu em um difícil grupo B, junto com Estados Unidos, Suécia e Japão. No 1º jogo brasileiro na história do torneio, vitória contra o Japão por 2 x 0. Nos dois jogos seguintes o Brasil foi superado pelos futuros campeões Estados Unidos, por 5 x 0, e pela Suécia, por 2 x 0 (com gol de Pia Sundhage, atual técnica do Brasil).

Sissi e a mudança de patamar (1995-99)

Quatro anos mais tarde, o Brasil chegou à Copa com 3 nomes históricos: Sissi, Formiga e Michael Jackson. A Seleção novamente estava em um difícil grupo, com Alemanha, Japão e as suecas, que eram as anfitriãs. Na estreia, venceram a Suécia por 1 x 0, porém nos jogos seguintes a equipe foi derrotada pelo Japão por 3 x 1 e pela Alemanha, por 6 x 1. O futebol feminino brasileiro estava no início do seu desenvolvimento, mas começava a montar uma base importante para as Copas seguintes.

Em 1999, a Copa do Mundo foi sediada nos Estados Unidos. O Brasil tinha Formiga, Pretinha, Kátia Cilene e a artilheira do torneio: Sissi, que fez 7 gols e foi eleita Bola de Ouro do torneio. A Seleção estava no Grupo B, com a Alemanha, Itália e México. Na estreia, o Brasil goleou as mexicanas por 7 x 1 e, na sequência, venceu as italianas por 2 x 0. Elas passaram em 1º no grupo ao empatar com o forte time alemão em 3 x 3.

Nas quartas, as brasileiras venceram a Nigéria por 4 x 3. Chegando pela primeira vez à semifinal, a Seleção parou nos Estados Unidos, que seriam campeão, por 2 x 0. O Brasil conquistou o 3º lugar, após empatar com a Noruega em 0 x 0 e triunfar nos pênaltis. O futebol feminino brasileiro estava oficialmente em um degrau acima das Copas anteriores, algo que perdurou nos anos 2000.


Sissi após levar o Brasil ao 3º lugar em 1999. (FOTO | FIFA).

Marta e o auge da seleção (2003-11)

Após o protagonismo de Sissi, uma jovem alagoana de 17 anos assumiu a camisa 10 da Seleção em 2003: Marta. Além dela, a jovem Cristiane também estreava e tinha ao seu lado nomes como Formiga, Daniela Alves, Rosana e Katia Cilene, que foi a artilheira brasileira com 4 gols. Em mais uma Copa sediada nos Estados Unidos, o Brasil fez uma grande primeira fase: venceu a Coreia do Sul por 3 x 0, a Noruega por 4 x 1 e empatou com a França em 1 x 1. Nas quartas o Brasil foi superado pela Suécia, que seria vice-campeã, por 2 x 1. A base de uma equipe cada vez mais forte estava formada e o auge daquele time viria em breve.

O Brasil chegou à Copa de 2007 embalado pelo título Pan-Americano, onde goleou os Estados Unidos na final. Além disso, a Seleção vinha de um vice-campeonato olímpico em 2004 e tinha Marta eleita a melhor jogadora do mundo pela primeira vez. Além disso, Cristiane estava entre as melhores do mundo, completando uma forte Seleção com Formiga, Pretinha, Rosana , Daniela Alves e muitas outras.

A Seleção foi irretocável na primeira fase: fez 5 x 0 na Nova Zelândia, 4 x 0 na China e 1 x 0 na Dinamarca. Nas quartas, o Brasil venceu a Austrália por 3 x 2. Na semifinal, um dos jogos mais icônicos dessa geração: pouco após golear os Estados Unidos no Pan, o Brasil voltou a vencer as estadunidenses, na casa delas, por 4 x 0.

Na final, o Brasil infelizmente parou na Alemanha por 2 x 0. Entretanto, a mobilização nacional rumo à maior popularização e investimentos no futebol nacional ganhavam força. Marta, que se consolidou ainda mais como o maior nome do futebol, foi artilheira com 7 gols e ganhou todos os prêmios de melhor do mundo até 2010.

A geração vice-campeã do mundo manteve boa parte de sua base em 2011 e foi renovada com nomes como Thaisinha e Maurine. Na Copa da Alemanha, o Brasil fez mais uma grande primeira fase, vencendo a Austrália por 1 x 0, a Noruega por 3 x 0 e Guiné Equatorial também por 3 x 0. O Brasil era um dos favoritos e tinha boas chances de ser campeão. Porém nas quartas enfrentou o forte time dos Estados Unidos, empatando por 0 x 0 e caindo nos pênaltis.

Jogadoras brasileiras pedem mais apoio após a final em 2007. (FOTO | Reprodução).

Renovações e novos ciclos (2015-23)

Em 2015, o Brasil foi renovado com jogadoras como Gabi Zanotti, Andressinha, Tamires e Maurine, além da manutenção da geração Marta, Cristiane e Formiga. Na Copa sediada no Canadá, o Brasil venceu: a Coreia do Sul por 2 x 0, a Espanha por 1 x 0 e Costa Rica, também por 1 x 0. Nas oitavas, a Seleção parou na Austrália, com 1 x 0.

Em 2019 o futebol feminino brasileiro vivia um outro momento: cada vez mais profissionalizado e com mais espaço para os clubes midiaticamente. Este crescimento, que deve se tornar cada vez maior, tem grande influência da geração comandada por Marta, Cristiane e Formiga.

A Copa de 2019 foi a última dessa geração e, em 2023, Marta se despedirá das Copas. Em 2019, o Brasil também teve novidades como Debinha, Geyse, Bia Zaneratto e Ludmila. Na última Copa, realizada na França, o Brasil estreou com vitória de 3 x 0 sobre a Jamaica, com 3 gols de Cristiane. Na 2ª rodada, a Seleção perdeu por 3 x 2 para a Austrália e, na sequência, venceu a Itália por 1 x 0. Nas oitavas, diante das anfitriãs, o Brasil caiu apenas na prorrogação, por 2 x 1.

Em 2023 a Seleção chega renovada e terá a última Copa de Marta, a maior de todos. Debinha e Geise chegam à segunda Copa do Mundo em grande momento e uma nova geração se constrói após os avanços das últimas 3 décadas.

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Texto de Patrick Simão, do @alemdaarena e reproduzido na Mídia Ninja.

Conheça a historiadora que estuda o futebol sob a perspectiva das mulheres e das ruas


"Existem mulheres que desde sempre jogaram bola, e como elas não estavam
 na história", questiona a historiadora. (FOTO/ Vanessa Nicolav).

Que o futebol é uma paixão nacional, não se discute. Que grande parte do legado do esporte está apenas na história da modalidade masculina, também não. Mas e as mulheres?

O invisível futebol feminino promete brilhar muito nas telas em 2019


Com uma onda de conquistas em 2018, as mulheres finalmente irão brilhar nas transmissões televisivas / Foto: Divulgação - Reprodução.

É difícil imaginar o Brasil sem o futebol. Da mesma maneira, parece ser difícil as pessoas e a mídia valorizarem o futebol feminino como o masculino. É comum ligarmos a TV e vermos inúmeros campeonatos, mas é raro ligar o aparelho e vermos o bate bola feminino sendo transmitido ou comentado nos programas esportivos. Entretanto, a luta por esse reconhecimento e espaço na modalidade é pertinente e podemos dizer que aos poucos está sendo conquistado.

Formiga: a gigante quase invisível do nosso futebol



Imagine o seguinte cenário: você está com 16 anos, iniciando sua carreira como jogador profissional (com todos os anseios e dúvidas que essa escolha acarretará para a sua vida), joga muita bola e é convocado de primeira para representar o seu país numa Copa do Mundo. Se trataria com certeza de um fenômeno no meio do futebol, não? Haveria milhares de times grandes e empresários interessados em saber quem seria esse “raio”.

Publicado originalmente no Cenas Lamentáveis

No mercado atual, tal atleta valeria milhões, talvez seria uma daquelas transferências de deixar todos boquiabertos por envolver tanto dinheiro. E se eu te dissesse que tal atleta ajudou um país sem expressão na modalidade a chegar na quarta colocação de uma Olimpíada, depois foi medalha de prata duas vezes nas Olimpíadas seguintes, alcançou vários títulos com a seleção, foi Campeão Mundial Interclubes, Tricampeão de Libertadores… Cracaço, não? Exaltado pela mídia, com espaço garantido em toda e qualquer memória de um torcedor.

E tem mais: esse jogador disputou seis Copas do Mundo, e o mesmo número de Olimpíadas. Também é o atleta que mais vezes vestiu a camisa da Seleção (151 vezes) e está a 21 anos como titular do time. E se você soubesse que existe uma pessoa com todas essas credenciais, e que mesmo assim não é tão reconhecida quanto deveria ser, o que você diria? Talvez que é impossível. O que justificaria a invisibilidade diante do público de um currículo tão vitorioso, de tanto destaque?

Mas ela é real. Essa atleta é brasileira, mulher, negra e enfrentou desde sempre o preconceito de querer jogar e fazer crescer esse esporte “que é de homem” em nosso país: Miraildes Maciel Mota. Mas talvez você a conheça mais por Formiga, seu apelido que veio pela baixa estatura. Formiga nasceu em Salvador no ano de 1978, cresceu no subúrbio de Lobato se enfiando no meio dos meninos pra jogar, apanhava dos irmãos por isso e ganha apenas R$ 9.000 por fazer parte da seleção feminina permanente de futebol do nosso país. Em comparação às cifras do mercado masculino da modalidade, ela ganha muito pouco mas não se incomoda com isso. Luta para que o futebol feminino vire profissional no Brasil, para que outras meninas possam ter a oportunidade e a comodidade de não passar por todas as dificuldades que passou para chegar ao imenso currículo.

Formiga representa o futebol que nos recusamos a ainda enxergar, que o brasileiro só exalta quando chegam às Olimpíadas ou à Copa do Mundo da modalidade, mas vira as costas para essas mulheres que buscam o seu lugar ao sol através da bola.  Ela é também a imagem da atleta que venceu, mas que alerta para olharmos a tantas outras garotas que seguem buscando condições mínimas para realizarem o seu sonho: serem jogadoras de futebol. Por isso, o Cenas Lamentáveis publicamente agradece: Formiga, obrigado por tudo que você representa e já conquistou para o nosso esporte.

O futebol feminino precisa ser visto. Precisa ser profissionalizado.

Uma das maiores representantes do nosso futebol. Foto: reprodução/Daniel Kfouri/Istoé2016