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Frei Betto delineia, em dez passos, o que Bolsonaro quer fazer com o Brasil


"Estou convencido de que Bolsonaro sabe o que quer, e tem projeto
de longo prazo para o Brasil. Adota uma estratégia bem arquitetada",
diz / Chancelaria do Equador.

Em 1934, o embaixador José Jobim (assassinado pela ditadura, no Rio, em 1979) publicou o livro “Hitler e os comediantes” (Editora Cruzeiro do Sul). Descreve a ascensão do líder nazista recém-eleito, e a reação do povo alemão diante de seus abusos. Não se acreditava que ele haveria de implantar um regime de terror. “Ele não gosta de judeus”, diziam, “mas isso não deve ser motivo de preocupações. Os judeus são poderosos no mundo das finanças, e Hitler não é louco de fustigá-los”. E sabemos todos que deu no que deu.

Lula descarta qualquer acordo com Ciro Gomes, afirma Frei Beto


Frei Beto em uma imagem de 2014. (Foto: Folhapress).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) descarta qualquer acordo com Ciro Gomes (PDT), pré-candidato à Presidência da República. A informação é do escritor frei Betto, que fez uma visita espiritual ao petista na última segunda-feira, 4, na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. De acordo com o religioso, Lula falou isso “descontraidamente, sem rancor”.

Foi uma conversa de uma hora e 15 minutos, em tom amigável. Ele (Lula) reiterou que é candidato e tem sozinho, nas pesquisas, mais do que a soma dos votos de todos os demais concorrentes, e que não considera a possibilidade de qualquer acordo com Ciro Gomes”, afirmou Betto ao O POVO.

Segundo ele, o ex-presidente não deixou claro se isso também se estendia a um eventual segundo turno. O escritor contou ainda que o petista “disse isso descontraidamente, sem rancor; ao contrário, ele estava muito bem humorado nesta segunda”.

Pedetistas cearenses minimizaram a afirmação de Betto. Foi o caso do deputado federal André Figueiredo, presidente estadual da legenda.

Sabemos que o PT vai lançar a candidatura do Lula, já não é surpresa. Mas nós temos certeza que o PT estará conosco no segundo turno”, afirmou. A “certeza” vem das constantes reuniões entre os partidos de esquerda, que decidiram ficar juntos no segundo turno para conseguir a vitória das eleições.

Figueiredo descarta qualquer embate entre Lula e Ciro, que poderia ter motivado a fala. “O Ciro sempre teve excelente relacionamento com o Lula”, disse. O deputado federal Leônidas Cristino reiterou a esperança de união no 2° turno.

Ciro foi o único candidato da esquerda que não participou dos atos de apoio a Lula em maio, quando ele foi preso. Questionado, o pedetista chegou a afirmar que não é e nunca será “puxadinho do PT”. Embora já tenha criticado o processo contra Lula, Ciro também costuma fazer críticas aos governos petistas em suas palestras.

O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), vice-líder do partido na Câmara, atribuiu a declaração de Lula às atitudes de Ciro. “Ele é que permanentemente nos ataca, isso atrapalha muito uma aliança. A gente queria a unidade da esquerda, mas ele utiliza muito o ataque”.

Apesar disso, o parlamentar não descarta totalmente um acordo. Para ele, o diálogo deve permanecer aberto, não só no segundo mas também no primeiro turno. “Existem mil hipóteses, mas a candidatura do Lula é certa”, afirmou.


CEARÁ

Petistas cearenses evitaram comentar o assunto. Foi o caso do presidente municipal da sigla, Acrísio Sena, da deputada federal Luzianne Lins e do senador José Pimentel. Ciro Gomes também preferiu não falar sobre o assunto. (Com informações do O Povo).

Todo cristão verdadeiro é comunista e todo verdadeiro comunista é um cristão sem o crer, diz Frei Beto


Preso duas vezes pela ditadura, Carlos Alberto Libânio Christo, 70, conhecido com Frei Betto, diz em entrevista que “todo verdadeiro cristão é um comunista sem o saber” e que “todo verdadeiro comunista é um cristão sem o crer”. Em entrevista ao jornal O Tempo, religioso se afirma socialista em decorrência de sua fé cristã.

Publicado originalmente no 247

Todo cristão é discípulo de um prisioneiro político: Jesus de Nazaré, condenado por dois poderes políticos. As mesmas convicções que tinha nos anos 60 tenho ainda hoje, graças a Deus. A diferença são os meios. Como já não temos uma ditadura repressiva, não vejo razão para a violência revolucionária”.

O frade dominicano diz que foi torturado fisicamente na primeira prisão, em junho de 1964. Mas que, na segunda, em novembro de 1969, livrou-se da tortura física graças à intervenção do general Campos Christo, que era irmão de seu pai. “Porém, assisti a torturas de outros presos e sofri torturas psicológicas”, diz.


“Meu fio de esperança”, por Frei Beto


Sou vivido. Vi o Brasil passar por muitas crises. O suicídio de Vargas, em agosto de 1954, estragou meu aniversário de 10 anos. JK soube, em 1956, contornar a rebelião militar de Jacareacanga. A renúncia de Jânio, em 1961, me levou às ruas pela primeira vez, em defesa da democracia.

O golpe militar de 1964 me arrancou da faculdade de Jornalismo para atirar-me nas masmorras do CENIMAR (Centro de Informações da Marinha). O AI-5 me desempregou do jornal e, meses depois, me conduziu a quatro anos de prisão.

Publicado originalmente no Correio da Cidadania

Meu sonho, ainda hoje, é o socialismo. Fora da Igreja há salvação. Mas não há salvação para a humanidade fora de um sistema no qual haja partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano, e onde os direitos humanos estejam acima dos privilégios do capital.

Para um sonho se tornar realidade são necessárias mediações. Busquei-as na Ação Católica. Os bispos, pressionados pela ditadura, a desmantelaram. Apoiei organizações revolucionárias contra a ditadura. A repressão as derrotou. Tornei-me eleitor do PT. O partido se deixou contaminar pelo elitismo e a corrupção, em treze anos de governo não promoveu nenhuma reforma estrutural, e calou-se quanto ao socialismo. Hoje, voto PSOL.

Meu fio de esperança se prende aos movimentos sociais. Não são perfeitos. Neles há também oportunistas e corruptos. Mas estes são exceções. Porque a base da maioria dos movimentos é a gente pobre que luta com dificuldade para sobreviver. Essa gente costuma ser visceralmente ética. Não acumula, partilha.

Não se entrega, resiste. Não se deixa derrotar, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
Não sei o que será do nosso Brasil nos anos vindouros. Sei apenas que fora dos movimentos sociais a nação não tem salvação. O PT tentou e se deu mal. Em uma sociedade tão marcadamente dividida em classes sociais, somente o vínculo orgânico com os pobres nos mantém com os pés no chão, a alma repleta de fome de justiça e a cabeça fiel à utopia socialista.

A democracia é uma senhora muito ciosa de suas origens. Todas as vezes que tentam prostituí-la, sequestrá-la, corrompê-la, reage e desmascara seus algozes. Ela prefere sempre se abrigar em seu ninho: o protagonismo popular.

O capitalismo tenta nos ludibriar, convencer-nos de que democracia é sinônimo de rotatividade eleitoral. Ora, a verdadeira democracia se apoia na economia, na partilha das riquezas; na ecologia, ao cuidar da proteção ambiental; na cultura, ao assegurar a todos o direito de criar e se expressar; e na política, ao dotar todos os cidadãos e cidadãs de poder para monitorar os rumos do Estado e, portanto, da sociedade.

Nenhuma esquerda ideológica se sustenta por muito tempo sem este respaldo fisiológico: o contato direto com os movimentos nos quais os pobres se organizam e lutam por seus direitos.


As delegacias e as penitenciárias funcionam como escola de ensino fundamental e universidades para o crime, diz Frei Beto



Voltou à pauta do Congresso, por insistência do PSDB, a proposta de criminalizar menores de 18 anos via redução da maioridade penal.

De que adianta? Nossa legislação já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor infrator deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração.

Nos 54 países que reduziram a maioridade penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como idade penal mínima.

O índice de reincidência em nossas prisões é de 70%. Não existe, no Brasil, política penitenciária, nem intenção do Estado de recuperar os detentos. Uma reforma prisional seria tão necessária e urgente quanto a reforma política. As delegacias funcionam como escola de ensino fundamental para o crime; os cadeiões, como ensino médio; as penitenciárias, como universidades.

O ingresso precoce de adolescentes em nosso sistema carcerário só faria aumentar o número de bandidos, pois tornaria muitos deles distantes de qualquer medida socioeducativa.

Ficariam trancafiados como mortos-vivos, sujeitos à violência, inclusive sexual, das facções que reinam em nossas prisões.

Já no sistema socioeducativo, o índice de reincidência é de 20%, o que indica que 80% dos menores infratores são recuperados.

Nosso sistema prisional já não comporta mais presos. No Brasil, eles são, hoje, 500 mil, a quarta maior população carcerária do mundo. Perdemos apenas para os EUA (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil).

Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, e não a causa. Ninguém nasce delinquente ou criminoso. Um jovem ingressa no crime devido à falta de escolaridade, de afeto familiar, e por pressão consumista que o convence de que só terá seu valor reconhecido socialmente se portar determinados produtos de grife.

Enfim, o menor infrator é resultado do descaso do Estado, que não garante a tantas crianças creches e educação de qualidade; áreas de esporte, arte e lazer; e a seus pais trabalho decente ou uma renda mínima para que possam subsistir com dignidade em caso de desemprego.

Segundo o PNAD, o adolescente que opta pelo ensino médio, aliado ao curso técnico, ganha em média 12,5% a mais do que aquele que fez o ensino médio comum. No entanto, ainda são raros cursos técnicos no Brasil.

Hoje, os adolescentes entre 14 e 17 anos são responsáveis por consumir 6% das bebidas vendidas em todo o território nacional. A quem caberia fiscalizar? Por que se permite que atletas e artistas de renome façam propaganda de cerveja na TV e na internet? A de cigarro está proibida, como se o tabaco fosse mais nocivo à saúde que o álcool. Alguém já viu um motorista matar um pedestre por dirigir sob o efeito do fumo?

Pesquisas indicam que o primeiro gole de bebidas alcoólicas ocorre entre os 11 e os 13 anos. E que, nos últimos anos, o número de mortes de jovens cresceu 15 vezes mais do que o observado em outras faixas etárias. De 15 a 19 anos, a mortalidade aumentou 21,4%.

Portanto, não basta reduzir a maioridade penal e instalar UPPs em áreas consideradas violentas. O traficante não espera que seu filho seja bandido, e sim doutor. Por que, junto com a polícia pacificadora, não ingressam, nas áreas dominadas por bandidos, escolas, oficinas de música, teatro, literatura e praças de esportes?

Punidos deveriam ser aqueles que utilizam menores na prática de crimes. E eles costumam ser hóspedes do Estado que, cego, permite que dentro das cadeias as facções criminosas monitorem, por celulares, todo tipo de violência contra os cidadãos.

Que tal criminalizar o poder público por conivência com o crime organizado? Bem dizia o filósofo Carlito Maia: “O problema do menor é o maior.”