Mostrando postagens com marcador Flávio Bolsonaro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Flávio Bolsonaro. Mostrar todas as postagens

Entenda por que pedido de Flávio Bolsonaro ao STF é um tiro no pé


Para juristas, são diversos pontos de estranheza em relação à decisão de Fux em suspender a investigação contra Fabrício Queiroz. (Foto: Reprodução/CartaCapital).

Como se tornou público na última quinta-feira 17, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux determinou em plantão a suspensão da investigação que apura movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, suposto motorista e assessor de Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), eleito senador e filho de Jair Bolsonaro. A decisão vigora até o ministro relator do caso Marco Aurélio se pronunciar, o que deve acontecer após o fim do recesso.

A decisão ocorreu após pedido da defesa do parlamentar e, segundo o portal jurídico Jota[1], a fundamentação consistiria no argumento de que Flávio foi eleito senador, o que faz com que ele passe a ter foro por prerrogativa de função, também conhecido como “foro privilegiado”, no STF a partir de fevereiro e, por isso, seria melhor aguardar a corte decidir qual a competência adequada para a continuidade da investigação que está atualmente no MP-RJ.

No meio jurídico, algumas consequências e incoerências desse caso foram apontadas. A primeira lançada mora no fato de a suspensão ter sido pedida por Flávio Bolsonaro, o qual afirmou repetidas vezes ser apenas uma testemunha do caso. Em outras palavras, somente um investigado pode pedir a suspensão da investigação contra si e, ao requerer a suspensão ao Supremo, para muitos juristas Flávio Bolsonaro “assumiu” ser investigado na ação penal, o que produz efeitos jurídicos diversos, principalmente com base nos julgados da corte dos últimos anos.

Nesse sentido, Rômulo Carvalho, defensor público em Minas Gerais e membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, afirmou à CartaCapital: “O filho do presidente insistiu publicamente que não era investigado, mas ao se movimentar para paralisar investigações em curso acaba desenhando um alvo em sua própria testa. É prematuro fazer ilações sobre o debate jurídico existente até que todas as peças venham a público, mas o discurso de transparência fica evidentemente manchado. Já na largada do novo governo, o país tem muito com o que se preocupar.”

Por sua vez, Anderson Lopes, advogado criminalista e mestre em Direito Processual Penal pela USP afirmou que a decisão de Fux somente faria sentido na hipótese de Flávio ser um investigado, mas ainda assim careceria de fundamento, uma vez que os fatos não têm relação com seu mandato no Senado Federal, uma vez que sequer iniciou.

A decisão [de Fux] é um baita “passa recibo” [por Bolsonaro] porque somente emerge a competência da Corte quando o parlamentar é investigado” – Anderson Lopes, advogado criminalista.

Sobre o mandato, outra questão levantada diz respeito ao foro por prerrogativa de função levantado por Fux como motivo para conceder a liminar. Isso porque o próprio Supremo Tribunal Federal, com voto do próprio Fux, decidiu em maio do ano passado restringir as hipóteses de foro de parlamentares. Uma das hipóteses excluídas da análise do Supremo pelo próprio Supremo são os casos de investigações de atos anteriores ao mandato do parlamentar. Vale lembrar que a investigação da movimentação financeira de Fabrício Queiroz não possui relação com o gabinete do senador Flávio.

Flávio Bolsonaro tem foro de prerrogativa por função, mas de acordo com a própria jurisprudência do STF a partir da ação penal 937, o foro por prerrogativa de função se restringe apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas, que não é o caso. Aliás, o próprio ministro Fux votou nesse sentido. Aplicando o atual entendimento do STF e do próprio ministro Fux, o caso jamais deveria ter sido avocado pelo tribunal. Em poucas palavras, o STF está descompondo o entendimento do STF” – afirmou Anderson

Um terceiro ponto lembrado com estranheza é a suspensão ter atingido toda a investigação, incluindo fatos que dizem respeito a pessoas sob as quais não paira qualquer dúvida sobre a competência por foro ser do Supremo, como é o caso de Fabrício Queiroz. A professora doutora de Direito Penal e Processo Penal Maira Zapater lembrou que a Reclamação, recurso movido ao STF por Flávio Bolsonaro, se destina a manter a competência do Supremo quando há o risco dela ser usurpada:

Salvo se houver alguma informação sigilosa que explique, não tem hipótese que justifique o Fabrício Queiroz ser julgado pelo STF. Então, se é uma reclamação, quem estaria usurpando a competência [do STF]? Enquanto ele era assessor de Bolsonaro deputado estadual, se houvesse conexão, a competência seria do TJ do Rio. Se antes de ser senador, seria da Justiça Comum. Então, fica estranho entender o porquê desse pedido. Ficam mais dúvidas do que respostas”.

Nas redes sociais, a decisão também causou estranheza. Quem resumiu o debate com pontuações sobre o assunto foi Aury Lopes Jr., professor Doutor de Direito Processual Penal da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), o qual se manifestou apontando a aparente incoerência da decisão do ministro com a própria decisão recente do STF sobre foro por prerrogativa:

Não me peçam para explicar porque eu também não entendi nada. Suspender a investigação em relação a quem tem prerrogativa de função (senador) é defensável na medida em que pode estar havendo usurpação da competência do STF. Contudo, como o próprio STF já decidiu no ano passado, a competência do supremo seria só para o processo e julgamento de quem tem a prerrogativa (logo, não justifica suspender a investigação em relação a particulares como o Queiroz), se o ato tiver relação com o cargo e for praticado ‘durante’ o exercício do mandato. E aqui, um novo problema: os fatos são anteriores a posse como senador, mas enquanto era deputado estadual com prerrogativa afeta ao TJRJ e não ao STF… Alguém poderia dizer: então está no limbo, pois se o proprio STF diz que a prerrogativa exige a ‘atualidade’ do exercício do mandato, ele não é mais deputado. Então não pode ser julgado pelo TJRJ e nem pelo STF (hoje é senador, mas os fatos são anteriores…). Enfim, tudo indica que até mesmo em relação a Flavio Bolsonaro tudo estaria afeto a justiça de primeiro grau… Mas uma coisa é certa: em relação a Queiroz não existe nenhuma dúvida! Não será julgado pelo STF. Mas, então, como o STF suspende em relação a ele? Volto ao começo…não sei. (Com informações de CartaCapital).

“Globo parte para o ataque e JN faz matéria de sete minutos sobre “Bolsogate”


(Foto: Reprodução/TV Globo).

Ao que tudo indica, a Globo resolveu partir para o ataque contra Jair Bolsonaro. A edição desta sexta-feira (7) do Jornal Nacional dedicou sete minutos para divulgar uma ampla reportagem sobre o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que registrou movimentações financeiras atípicas de um ex-assessor de Flávio Bolsonaro. O caso está sendo chamado de “Bolsogate”.

William Bonner faz a introdução da matéria relatando a descoberta do Conselho. Em seguida, o repórter Paulo Renato Soares conta que o relatório do Coaf faz parte da investigação que prendeu dez deputados estaduais do Rio de Janeiro no mês passado e traz informações sobre 75 servidores da Assembleia Legislativa (Alerj), que apresentaram movimentação financeira suspeita.

Entre eles está Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito pelo PSL, Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente eleito Jair Bolsonaro. Segundo o Coaf, em apenas um ano, Fabrício de Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão em uma conta. O relatório aponta que Fabrício ganhava R$ 23 mil por mês.

Ele cumpria a função de motorista de Flávio Bolsonaro e também tinha vínculo com a PM. O jornal O Estado de S.Paulo revelou o caso ontem (quinta) e a TV Globo também teve acesso ao relatório. O documento lista várias operações bancárias suspeitas e menciona a possibilidade de que isso tenha sido feito para ocultar a origem ou o destino do dinheiro.

Primeira-dama

Uma das movimentações de Fabrício tem como favorecida a futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. O relatório cita que a ex-secretária parlamentar e atual esposa de Jair Bolsonaro recebeu R$ 24 mil.

Hoje (sexta), Bolsonaro explicou o depósito na conta da mulher. Ele falou com o site O Antagonista. Disse que o valor se refere a uma dívida do ex-assessor com ele próprio. O presidente eleito afirmou que eles eram amigos e emprestou o dinheiro a Fabrício porque o ex-assessor do filho estava com problemas financeiros.

Bolsonaro contou que não foram só R$ 24 mil e sim R$ 40 mil. Afirmou que se o Coaf pegar dados anteriores vai chegar a esse valor. O presidente eleito disse que Fabrício de Queiroz fez dez cheques de R$ 4 mil. Bolsonaro diz que poderia ter botado na conta dele, mas foi para a conta da esposa porque ele não tem tempo de sair.

Sobre a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, Bolsonaro falou que se surpreendeu com a identificação do Coaf e que cortou contato com o amigo até que ele se explique para o Ministério Público.

Na conta de Fabrício de Queiroz, o Coaf também encontrou saques em dinheiro, que somam R$ 324 mil ao longo de um ano; R$ 159 mil sacados de uma agência bancária do prédio da Assembleia Legislativa.

Família

Fabrício foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 15 de outubro. A mulher de Fabrício, Márcia de Oliveira Aguiar, e duas filhas, Natália e Evelyn Mello de Queiroz, também trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro, como revelou o jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

Márcia aparece na folha de pagamento da Alerj de agosto de 2017 como consultora parlamentar e salário de R$ 9.200. Natália trabalhou com Flávio Bolsonaro na Alerj entre 2007 e 2016. Menos de uma semana depois de ser exonerada, Natália foi nomeada para exercer, no gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro, o cargo de secretária parlamentar.

Natália deixou o cargo na Câmara Federal no mesmo dia em que o pai saiu do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, 15 de outubro deste ano. Natália é citada em dois trechos do relatório do Coaf.

O documento não deixa claro os valores individuais das transferências entre ela e seu pai. Mas junto ao nome de Natália está o valor total de R$ 84 mil.

A outra filha de Fabrício, Evelyn Mello de Queiroz foi nomeada em dezembro de 2016 como assessora parlamentar de Flávio Bolsonaro, na vaga da irmã Natália. O nome de Evelyn está na última folha de pagamento que aparece no site da Alerj, em setembro, com salário líquido de R$ 7.500.

MPF

O Ministério Público Federal, responsável pelas investigações, diz que nem todos os nomes citados no relatório foram incluídos nas apurações, porque nem todas as movimentações atípicas são necessariamente ilícitas. E não divulgou se deputados da Alerj que não foram alvo das operações estão sendo investigados ou podem vir a ser.

Hoje (sexta), jornalistas questionaram dois futuros ministros do governo Bolsonaro sobre as informações do relatório do Coaf. Onyx Lorenzoni, que vai ser o ministro chefe da Casa Civil, se irritou, e Sérgio Moro, que vai assumir o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, preferiu não responder.

No fim da tarde, Flávio Bolsonaro disse que conversou com o ex-assessor sobre a informações do Coaf e que recebeu explicações “plausíveis”. Ao final da reportagem, Bonner disse que não conseguiu contato com o ex-assessor Fabrício de Queiroz, a mulher e as filhas dele. (Com informações da Revista Fórum).