Mostrando postagens com marcador Feminismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Feminismo. Mostrar todas as postagens

Blog Negro Nicolau promoverá série de lives



Por Nicolau Neto, editor

O Blog Negro Nicolau implantará a partir do mês de julho mais um projeto. Depois da série "Personalidades Negras que Mudaram o Mundo", "#Altaneira60anos" e "Colunistas", agora são por meio das lives que as análises de temas importantes serão feitas.

Os encontros ocorrerão por meio do Instagram no perfil deste editor @_nicolauneto_. As conversas visam, sobretudo, contribuir para o protagonismo da juventude caririense. As três primeiras participações já estão definidas. Trata-se do Designer de Produto, José Márcio, residente em Nova Olinda e das estudantes do ensino médio, terceiro e segundo ano, respectivamente, do município de Potengi: Karolline Gonçalves e Luiza Severo.

No diálogo com Márcio, o tema será “Economia marginal e os lugares de empreendedorismo nas periferias e margens”; com Karolline o assunto versará sobre "O papel da escola na formação para a cidadania" e "As desigualdades de gênero e o papel do movimento feminista" terá como participante a Luiza Severo. Os diálogos iniciarão sempre as 19h30.

As datas também estão definidas e serão respectivamente: 08 de julho, 1º e 08 de agosto.

Joice Berth: "Ninguém se empodera individualmente se o grupo não estiver empoderado"


"O feminismo ainda é muito burguês", afirma a autora do livro "O que é empoderamento?".
(FOTO/ Pedro Stropasolas/ Brasil de Fato).

Pouco conhecida pelo grande público até tempos atrás, a palavra "empoderamento" ganhou força no debate político até se tornar o termo mais buscado no dicionário Aurélio em 2016. Desde então, já teve seu significado esvaziado e afastado do conceito original, mas ainda é fundamental para a discussão do feminismo negro, pois debate mudanças nas relações de poder, de acordo com a arquiteta e urbanista Joice Berth.

Fundação Joaquim Nabuco publica livro que conta a história de 18 grandes mulheres brasileiras


Salvaguardadas as exceções, ainda é tímido, na tradicional narrativa histórica, o espaço conferido às mulheres na construção social, política, cultural e econômica do Brasil.

Nexo - O protagonismo masculino perdura nesse terreno, bem como no da memória social. Assim, o passado segue se organizando em torno do vulto de grandes homens, refletidos em monumentos, nomes de ruas e episódios consagrados no imaginário popular.

Um livro gratuito publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, tenta corrigir um pouco dessa distorção, apresentando 18 mulheres brasileiras que se destacaram ao longo dos últimos séculos.

Em comum entre si, as homenageadas na obra “Memória Feminina: mulheres na história, história de mulheres” têm contribuições que se encontram, “em sua maioria, representadas em museus e espaços de memórias”, como arquivos e centros culturais.

Apesar desse foco, segundo escrevem na apresentação os pesquisadores Maria Elisabete Arruda de Assis e Maurício Antunes, além de patrimônios materiais (representados por objetos pessoais, obras de arte, manuscritos, livros), buscou-se acessar os imateriais. Quer dizer, os que “não estavam apenas nos museus brasileiros, mas também nas comunidades locais”: tradições legadas de uma geração para a outra.

É por isso que o leitor encontra artigos sobre as cirandas de Lia de Itamaracá, a preservação da tradição religiosa de matriz africana Xambá por Mãe Biu em Pernambuco, bem como a contribuição de Dona Santa, na preservação dos maracatus.

Também há um texto sobre a líder sindicalista Margarida Alves, defensora dos direitos dos trabalhadores sem terra assassinada em 1983 e inspiradora da Marcha das Margaridas.

A importância feminina na literatura

No campo das letras, aparecem Carolina Maria de Jesus, Pagu e Clarice Lispector. A primeira, moradora de uma favela paulistana, ganhou notoriedade mundial ao publicar o livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, em 1960. Nessa obra, vêm à tona as condições precárias de vida de parcela significativa da população, em especial das mulheres pobres.

Essas mulheres, como Carolina, responsáveis por seu próprio sustento, apesar de desqualificadas pela imprensa e por fontes oficiais, compunham um grupo que teve presença constante e intensa pelas ruas da cidade de São Paulo desde o período colonial. Suas falas, entretanto, sempre apareciam de forma indireta, transcritas nos documentos pela pena dos escrivães, o que as impedia de assumir um protagonismo narrativo

(Elena Pajaro Peres historiadora, responsável pelo artigo sobre Carolina Maria de Jesus)

Figuras de destaque nas lutas feministas e nas artes

O livro ainda traz o perfil de pessoas de “inestimável contribuição para a mudança do papel da mulher na sociedade quanto aos seus direitos”, como a zoóloga Bertha Lutz, sufragista nos anos 1920, e a escritora Francisca Senhorinha da Motta Diniz, que fundou, no século 19, o primeiro periódico do país pela emancipação feminina.

As artistas plásticas Tarsila do Amaral, Maria de Lourdes Martins Pereira de Souza, Lygia Pape, Djanira da Motta e Silva, Georgina de Albuquerque e Nair de Teffé aparecem retratadas em seus contextos históricos e por meio de suas trajetórias de vida e profissional.

Há ainda relatos sobre a atriz Leila Diniz, identificada como um símbolo da liberdade sexual dos anos 1960, e Nise da Silveira, proeminente figura da psiquiatria brasileira no século passado. Um capítulo do livro é dedicado à figura da “Miss Sambaqui”, um crânio de mulher pré-histórico encontrado no litoral paulista na década de 1950.

Anonimato e invisibilidade

Segundo Maria Elisabete Arruda de Assis, diretora do Museu da Abolição, e Maurício Antunes, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, as histórias são cristalizações de muitas outras, anônimas e invisibilizadas.

A intenção é que se tornem espelhos para brasileiras, jovens e adultas, se olharem, se reconhecerem e se projetarem no futuro, “como cidadãs a serem respeitadas nas diferenças e na luta pela conquista da igualdade de gênero em nossa sociedade”.

Ainda de acordo com eles, o objetivo do livro é desmontar preconceitos que esconderam ou apagaram a presença das mulheres na história do Brasil.

Nossa história coletiva ganha com acercar-se desse conjunto de mulheres que foram sujeito da história de nosso país: sim, temos pintoras, escultoras, escritoras, atrizes, cientistas que foram rebeldes e afirmaram-se como protagonistas

(Tatau Godinho doutora em ciências sociais, no prefácio do livro)

Carolina Maria de Jesus, um dos principais nomes da literatura no Brasil. Foto: Adálio Dantas/ Agência Brasil.






"Feminismo é algo que liberta homens e mulheres", diz Letícia Sabatella ao Brasil de Fato



Atriz fala sobre os desafios das mulheres na atual conjuntura de avanço do conservadorismo em entrevista ao Brasil de Fato.

Segundo o dicionário mais famoso do mundo, o Oxford, da Inglaterra, a palavra de 2016 foi “pós-verdade”. O adjetivo faz referência a "circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência na formação de opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais", segundo o Oxford, que incorporou a palavra no dicionário depois dela ter sido exaustivamente usada nos jornais e redes sociais.

Em tempos de “pós-verdade”, conceitos já consolidados, assim como identidades e as conquistas, parecem suspensos no ar. Estão sendo atropelados pela cultura conservadora. Nesse contexto, pensar e discutir o feminismo é um desafio. Não por acaso, os direitos das mulheres foram os primeiros a serem atacados, mas também partiram das mulheres as lutas mais espontâneas e emblemáticas dos últimos dois anos. Foi assim com a “primavera das mulheres”, no Brasil, o movimento “Ni Una a Menos”, na Argentina, e mais recentemente a “Marcha das Mulheres”, nos Estados Unidos, contra o novo presidente Donald Trump.

Para falar sobre feminismo o Brasil de Fato entrevistou a atriz Letícia Sabatella. Ela foi uma das convidadas do evento Mulheres em Movimento, que está sendo realizado essa semana, no Rio de Janeiro, pela organização ELAS Fundo de Investimento Social. A atriz falou sobre os desafios que mulheres e homens devem enfrentar nesse momento de turbulências políticas e sociais no país.

Brasil de Fato - Qual é o papel do feminismo na conjuntura em que a gente vive no Brasil?

Letícia Sabatella - É a busca de equilíbrio para o que vem acontecendo. Nós somos as mais atingidas pelo modo neoliberal de pensar a sociedade, com alguns lucrando com a miséria e nenhum cuidado com o bem-estar social. A melhor coisa que alguém pode desejar na vida é abrir a porta de casa, sair tranquila, em paz, e saber que existe educação, saúde de qualidade, que vai poder crescer na vida. Estamos vivendo um tempo em que os valores individualistas parecem mais importantes que o coletivo. Não querem mais pensar coletivamente, isso virou uma coisa imoral. É nosso papel lutar contra isso e a favor de práticas amorosas.

Brasil de Fato - Toda mulher já sofreu algum tipo de machismo em algum momento da vida, senão durante a vida inteira. O mais te incomoda nessa questão do machismo?

Incomoda o tempo inteiro porque as pessoas introjetam o machismo. O machismo vai por dentro, vai minando nossas forças e daqui a pouco qualquer mulher pode introjetar o machismo, são limites que são impostos e incutidos na cabeça dela. Isso vem da cultura machista. A mulher precisa de mais possibilidades, mais liberdade. A sociedade tem que dar mais poder à mulher, mais possibilidades de realização de sonhos diversos e nos liberar de todas essas ideias que nos oprimem e permitir à mulher ter conhecimentos diversificados.

Brasil de Fato - Aquela vez em que você sofreu uma agressão na rua, de manifestante pró-impeachment, em agosto de 2016, em sua opinião, tinha algum viés machista?

Acho que tudo o que configurou o golpe foi machista, até a maneira como se referiam à presidenta Dilma era uma maneira muito misógina (de ódio e aversão à mulher). Tudo isso foi tirando qualquer questão legítima da pauta e foi entrando uma coisa que era embrutecedora. O que estava vindo era algo que fazia crítica de maneira estúpida, ignorante, sem escrúpulo, sem ética e muito destruidor. Quando penso em feminismo até acho que é um nome meio doido porque parece que pende para um lado da balança, mas na verdade ele equilibra a balança, que está pendendo demais para um lado só. Penso no feminismo como algo que não pertence apenas ao movimento de mulheres, pois é algo que liberta e melhora a situação de homens e mulheres.

Brasil de Fato - Gostaria que falasse também sobre seus trabalhos na atualidade e o que está planejando para esse ano.

Estou fazendo um monólogo (no teatro) que é Ilíada, junto com outros 24 atores, cada um fazendo um monólogo. Com esse trabalho, onde compus a trilha sonora com o Fernando Alves Pinto, concorremos ao Prêmio Shell (2014). Agora também estamos fazendo a Caravana Tonteria (um show musical com intervenções teatrais) com algumas músicas próprias e algumas escolhidas. Esse ano estamos ainda com alguns projetos para continuar fazendo a peça A Vida em Vermelho de Edith Piaf e Bertolt Brecht (peça de Aimar Labaki que narra um encontro fictício entre a cantora e o dramaturgo). Vou fazer uma participação na minissérie Carcereiros, na Globo (baseada no livro homônimo do médico Drauzio Varella, sobre o sistema penitenciário). Recentemente também fiz o filme Happy Hour, do diretor Eduardo Albergaria, em uma coprodução Brasil-Argentina.

Brasil de Fato - Por fim, queria que você deixasse uma mensagem para todas as pessoas que estão resistindo e lutando contra retrocessos.


Tenho recebido tanto afeto, tanto amor, tanta adesão e tenho visto tanta gente linda e corajosa lutando que confesso que tenho esperança. Muitas conquistas serão inevitáveis diante do que tenho visto de luta, nisso tenho muita esperança. Me compadeço de todas essas perdas que a gente está tendo. Vejo as dificuldades que estamos vivendo, isso fica claro nas falas lindas de muitas mulheres do movimento negro, indígena, lésbica, movimentos populares importantes. Me emociono com todas elas, com todas as causas das mulheres trabalhadoras. Nossa resposta a tudo isso é o afeto e a reorganização desse feminino que incomoda tanto.

Letícia Sabatella: "Penso no feminismo como algo que não pertence apenas ao movimento de mulheres". / Cláudia Ferreira.

O que os homens têm a ganhar com o feminismo?



O machismo e o patriarcado são, por definição, sistemas que hierarquizam os papéis de homens e mulheres, dando mais valor para tudo que é entendido como masculino. Por sermos nós as mais violentadas nessa configuração é óbvio que vamos lutar para destruí-lo e não pararemos enquanto houver uma mulher sofrendo no mundo. Mas será que só as mulheres saem ganhando com o feminismo?

Publicado originalmente no Ceert

Eu tenho certeza que não. Simplesmente porque o feminismo preza pela igualdade e pela liberdade de cada um ser como quiser, independentemente de seu gênero. E o machismo também impõe uma série de pressões nos meninos e homens.

Não pode chorar, não pode demonstrar fraqueza, não pode explicitar sentimentos, tem que gostar de futebol, de azul e de mulher. Não pode gostar de dança, de rosa e de estudar. Tem que ser o provedor, o responsável por sustentar a família, não pode ganhar menos do que a mulher. Tem que ser uma máquina incontrolável de sexo, tem que ser corajoso, não pode ter medo do perigo, tem que saber trocar pneu.

Simplesmente não há ser humano que consiga viver dessa maneira sem nenhum tipo de conflito. O machismo demanda coisas impossíveis para homens e mulheres e isso geralmente acompanha uma boa carga de tensão e sofrimento. Não há motivo, portanto, para ele continuar hegemônico.

Nunca, jamais, em hipótese alguma insinuo que homens e mulheres são afetados da mesma forma por esse sistema. Nunca, jamais, em hipótese alguma. Os meninos podem ser cerceados em diversos aspectos, sim, podem ter que seguir padrões e estereótipos com os quais não se sentem confortáveis, mas não são violentados sistematicamente em função de seu gênero. Não são abusados, estuprados e assassinados em massa POR CONTA de valores difundidos socialmente para cada um dos gêneros. Não é a vida deles que vale menos.

Mesmo com normas tão rígidas, o machismo nunca destituiu os homens de sua humanidade. Já as mulheres são constantemente objetificadas e, em todas partes do mundo, valem menos. E é por isso que temos tanta raiva, e é por isso que nós protagonizamos o movimento em busca de nossa plena cidadania. É por isso também que entendo a reação feroz que o feminismo causa na maioria dos homens: não é mesmo confortável abrir mão de seus privilégios. Deve ser horrível ver cada vez mais mulheres reivindicando aquilo que é seu por direito – e que inclui tirar a liberdade de oprimir e o conforto da impunidade.

Mas o feminismo traz outras liberdades, eu garanto. Em um mundo onde o patriarcado não dita a nota, todas as relações são mais saudáveis. Ninguém é obrigado a gostar de algo ou alguém só porque é menino ou menina. Todo mundo é livre para ser o que é. É esse o mundo que eu luto para construir e que, mais cedo ou mais tarde, vai bater na sua porta. Não precisa oferecer resistência.

Foto: Divulgação "Tha Mask you live in". 

Do Imprensa Feminista: o feminismo como produtor de conhecimento


Desde a segunda metade do século XX as ciências humanas têm contado com inúmeras pesquisas que visam analisar a participação das mulheres na sociedade e a relação entre os gêneros. Na historiografia isso significou maior abertura dos objetos e temas de pesquisa, visando resgatar a memória de grupos marginalizados, entre eles a história das mulheres, que por muito tempo estiveram excluídas das narrativas tradicionais, em que a “história oficial” privilegiava, sobretudo, o “sujeito universal” masculino, branco, heterossexual e cisgênero.

Thomas PollockAnshutz
Para compreender melhor essa abertura é necessário mencionar o impacto da história cultural e dos próprios movimentos feministas na produção intelectual. No decorrer do século XX as antigas formas de fazer história começaram a ser questionadas. Segundo o historiador Jacques Revel, os grandes modelos teóricos e suas propostas de fomentar uma inteligência global do mundo sócio-histórico[1] passaram a não corresponder aos anseios dxs historiadorxs. É necessário lembrar que vários desses modelos também carregavam em seu bojo a promessa de progresso e melhorias na vida humana.  Tais características geraram desconfiança em várixs pesquisadorxs, que não só notaram os espaços ainda vazios no conhecimento acumulado, como também passaram a ter um olhar mais crítico à produção desse conhecimento. A nova história cultural abriu um leque de possibilidades, pois se antes o que era considerado “cultura” era a produção artística, literária e musical de certas elites, agora a cultura popular passou a ter lugar na historiografia, resgatando a memória de indivíduos excluídos e marginalizados. Entretanto, essa ampliação de horizontes não se ateve, apenas, à história cultural, chegando a influenciar inúmeros trabalhos em história social, política e econômica.

Na inclusão de grupos humanos que não correspondiam ao “sujeito universal”, os marxistas certamente foram os pioneiros em incluí-los nas narrativas históricas. Podemos citar os trabalhos de Walter Benjamin e Theodor Adorno – assim como outros nomes da Escola de Frankfurt -, e E. P. Thompson, que colocaram a classe operária no centro de sua produção. Contudo, essas narrativas privilegiavam, sobretudo, o recorte de classe, excluindo outras categorias como raça, gênero e orientação sexual. O marxismo também passou a ser visto com desconfiança, já que também era um modelo teórico cheio de promessas que nem sempre correspondiam aos horizontes de expectativas de seus críticxs – contrariando o senso comum que diz que nas ciências humanas o marxismo é dominante.

Apesar das grandes contribuições que os teóricos marxistas do século XX fizeram aos movimentos sociais, as feministas nem sempre se sentiram contempladas por eles. Além das tensões no interior dos movimentos de esquerda – que como bem sabemos também reproduzem machismo, homofobia, transfobia e racismo -, havia também um problema de ordem prática e ideológica: acreditando que o patriarcado era fruto do capitalismo, era recorrente a ideia de que quando o proletariado derrubasse a burguesia, todas as discriminações de gênero deixariam de existir. Um pressuposto difícil de acreditar.

Com isso, as mulheres reconheceram a necessidade de produzir seu próprio conhecimento. Com a Segunda Onda nos anos 1960-70, o feminismo não pleiteou um lugar para si apenas nas ruas, mas também nas universidades, conquistando um espaço nas ciências humanas.

Desde então muita coisa aconteceu. Se antes a área era chamada de “estudos da mulher”, a categoria gênero passou a ser adotada pelo seu aspecto relacional[2] e, mais recentemente, os termos “mulheres” e “estudos feministas” são utilizados para dar visibilidade política ao gênero feminino. O feminismo intersecional também fez importantes colaborações, incluindo as mulheres lésbicas, bissexuais, negras, indígenas e trans* nessa produção. Conscientizando que existem diferenças dentro da diferença e que as mulheres não fazem parte de uma categoria monolítica.

Atualmente no Brasil existem diversos núcleos, grupos de estudos e revistas acadêmicas dedicadas aos estudos feministas e de gênero. Também testemunhamos a realização de simpósios, congressos e encontros de pesquisadorxs da área, como o Fazendo Gênero, realizado em 2013 em Florianópolis, e o Colóquio de estudos feministas e de gênero, realizado em Brasília em 2014.

Com isso, proponho axs leitorxs de nossa página que conheçam algumas revistas dedicadas ao tema. Além de apresentar os resultados de diversas pesquisas, também contribuem para o debate e formação intelectual nesse campo de estudos.

Candidaturas fictícias de mulheres apenas para preenchimento de cota levará a punição de partidos


Candidaturas fictícias de mulheres para preencher cota de gênero, de servidores públicos para garantir três meses de licença remunerada ou que apresentem gastos inexistentes ou votação ínfima serão consideradas fraudulentas. O alerta foi feito pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) por meio de uma recomendação expedida ontem. De acordo com o procurador regional eleitoral de Minas Gerais, Patrick Salgado Martins, chefe do MPE, as candidaturas fictícias são identificadas com gastos de campanha inexistentes ou irrisórios e votação ínfima. “Este ano, o Ministério Público Eleitoral estará especialmente atento a essa prática ilícita e fraudulenta”, afirma.

A recomendação também alerta partidos e coligações para a falta de documentos para o registro. De acordo com a norma, neste pleito não será feita nenhuma diligência para suprir eventual lacuna nos pedidos de registro apresentados à Justiça Eleitoral, e os requerimentos incompletos serão imediatamente impugnados. Para contestar essa decisão, o candidato terá de contratar advogado e recorrer à Justiça Eleitoral.

Um dos principais alvos da recomendação são as candidaturas fictícias apresentadas pelas agremiações partidárias apenas para alcançar os percentuais mínimos exigidos pela lei no que diz respeito à participação feminina, ou mesmo por parte de servidores públicos que não têm qualquer compromisso sério de se engajarem nas campanhas e só se candidatam para usufruir os três meses de licença remunerada.

De acordo com a Lei das Eleições, cada partido ou coligação deve preencher, nas eleições proporcionais (deputado federal e estadual), o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. Como a maioria dos candidatos é do sexo masculino, esse percentual na prática é reservado às mulheres. Portanto, de acordo com a recomendação, os partidos políticos deverão obedecer fielmente o que diz a legislação eleitoral quanto ao percentual mínimo de 30% dos registros para candidaturas femininas.

Patrick Salgado alerta que esse percentual deve ser cumprido durante todo o processo eleitoral, não apenas no ato do registro das candidaturas, e os partidos e coligações devem oferecer as mesmas condições e espaços políticos para as candidatas mulheres. “O que percebemos, em toda eleição, é que os partidos usam vários subterfúgios para se esquivar do cumprimento da cota feminina. Na maioria das vezes, fazem os cálculos com base no número abstrato previsto na Lei das Eleições, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já decidiu que os percentuais legais devem levar em conta o número de registros de candidatura efetivamente requeridos.”

Desistência

Outra forma de burlar a lei está nas substituições de candidatos que ocorrem após o prazo do registro, quando as agremiações aproveitam para simular a desistência de candidatas mulheres, trocando-as por candidatos do sexo masculino. Este ano, segundo o alerta do MPE, qualquer tentativa de descumprimento da lei será objeto de impugnação. Para evitar esse tipo de fraude, o MPE vai exigir que todos os formulários de registro de candidatura sejam assinados pelas postulantes aos cargos de deputadas.

Em relação à impugnação por documentação incompleta, o procurador afirma que partidos e coligações costumam adotar a prática, mesmo sabendo de antemão quais são os documentos exigidos por lei. “É uma postura negligente e até desrespeitosa, porque obriga a Justiça Eleitoral e o próprio Ministério Público a suprir a ineficiência dos partidos e dos próprios candidatos, verificando, página por página, cada um dos milhares de pedidos de registro que são apresentados no tribunal, no curtíssimo prazo que temos para impugnação, que é de 5 dias corridos”, diz.

De olho nas fraudes

O que o Ministério Público Eleitoral vai denunciar:

Candidaturas fictícias de mulheres apenas para garantir a cota de 30% de gênero exigida pela Lei das Eleições

Troca de candidaturas femininas por masculinas, alegando desistência da disputa

Candidaturas fictícias, com gastos de campanha inexistentes ou irrisórios e votação ínfima

Candidaturas de servidores e servidoras públicas que têm por objetivo garantir apenas três meses de licença remunerada

Candidaturas com documentação incompleta


Via em.com

Feminista diz que a pornografia "é boa para a sociedade" e causa polêmica



Cineaste Anna Arrowsmith causa polêmica ao afirmar que
pornografia faz bem a sociedade
"Na pornografia ninguém faz amor, todo mundo faz o ódio", declarou a feminista Gail Dines. E embora nem todos expressem suas opiniões de forma tão radical, quando se trata desse tema, o consenso entre a maioria parece ser de que pornografia não é algo bom.

Entra em cena a cineasta feminista Anna Arrowsmith, que há alguns anos vem defendendo a opinião contrária: "A pornografia é boa para a sociedade", ela diz.

Na indústria do chamado "cinema adulto", Arrowsmith, conhecida como Anna Span, se destaca por ser a primeira britânica a dirigir um filme pornô, a produção Eat me/Keep Me, lançado em 1999.

Mas a defesa da pornografia não parece responder a um mero interesse comercial da cineasta, que no momento não está fazendo cinema.
Anna Span disse à BBC que sua missão é incentivar mais gente a entrar no mundo da pornografia.
Dinheiro e Libertação

Devido à sua posição um tanto quanto polêmica, Span é, volta e meia, convidada a participar de debates sobre o assunto. No mais recente, ocorrido em Londres, ela enfrentou nada mais nada menos do que um dos símbolos do movimento feminista na Grã-Bretanha hoje: a escritora e acadêmica Germaine Greer.
Span não tinha motivos para se intimidar. Ela é formada na prestigiosa escola de arte Central Saint Martin's School of Art and Design, em Londres, tem mestrado em Filosofia pelo Birkbeck College e atualmente faz um curso para receber um diploma em Estudos de Gênero na University of Sussex.

Ela define os filmes que faz como "pornografia feminista".

"Eu era contra a pornografia. Mas um dia, na década de 80, estava caminhando por Soho (área no centro de Londres onde há uma grande concentração de sex-shops e casas de strip tease) e enquanto olhava as lojas e bares me dei conta de que minha raiva era mais inveja", contou Span. "Eu tinha inveja da liberdade dos homens. Suas necessidades sexuais eram atendidas de tantas formas diferentes! Foi assim que me converti a favor da indústria do sexo".

"Sou pró pornografia porque não ser é entregar o sexo e a visualização do sexo aos homens".

A feminista Germaine Greer discorda. Em entrevista à BBC, ela argumentou que pornografia "tem a ver com dinheiro, não libertação. A obscenidade tem um papel importante na arte, assim como na arte erótica, mas a pornografia estritamente falando não é mais do que uma maneira de fazer dinheiro", disse.

'Literatura da Prostituição'

Para Greer, o problema com a pornografia é que "é uma indústria imensa, que move enormes quantidades de dinheiro. E sempre foi assim, porque a pornografia é a literatura da prostituição".
Greer esclareceu que sempre advogou que a sexualidade seja incorporada na narrativa da vida cotidiana, em vez de ser confinada a uma indústria.

Esse também parece ser o objetivo de Span. No entanto, ela não se incomoda que o ponto de partida para que se alcance esse objetivo seja essa indústria.

"Parte do meu trabalho é normalizar a pornografia", ela explicou. "As feministas antipornografia dizem que isso é perigoso, mas quanto mais normal ela for, mais peso terá a influência das mulheres na indústria e mais elas aprenderão sobre o sexo. Para mim, isso é totalmente positivo".

Defesa da Pornografia

Em primeiro lugar, a cineasta diz que a pornografia serve para manter os casais unidos.

"Por exemplo, quando um dos parceiros tem uma libido mais alta, a pornografia preenche aquela lacuna, evitando que aquele que sente mais necessidade tenha que aborrecer o outro, ir satisfazer seu desejo sexual em outra parte ou terminar a relação".

"Em segundo lugar, ela liberalizou nossas atitudes em relação à atividade sexual. Até pouco tempo, particularmente entre as mulheres, havia um sentimento de vergonha se faziam algo que não era convencional".

A pornografia estaria, portanto, desempenhando um papel educador: cada vez mais mulheres têm acesso à pornografia, aprendem e entendem mais. O conhecimento traz consigo a liberdade.
Porém, refutam alguns nomes de peso do movimento feminista, o efeito pode ser completamente oposto.
Elas temem que agora as mulheres se vejam obrigadas a fazer coisas que não querem fazer, a se comportar e se ver de uma maneira que esteja de acordo com a imagem que esse tipo de filme mostra.

"Do meu ponto de vista, essa visão subestima a força da mulher. Essas críticas vêm de uma posição feminista que considera a mulher uma vítima. Para mim, esse ponto básico do argumento é incorreto", responde Span.

Estatísticas divulgadas em 2008 pela empresa multinacional de pesquisa de comportamento Nielsen revelaram que 30% dos consumidores de pornografia na internet são mulheres.

"É uma questão de escolha. Queremos evitar que as mulheres façam coisas ou incentivá-las a correr riscos?"
"Além disso, muitas jovens hoje estão mais à vontade com sua sexualidade e sabemos que nos países onde há mais liberdade sexual as mulheres têm mais direitos sociais."

"Se eu mostrasse um mapa do mundo no qual os lugares em que a pornografia foi proibida estivessem pintados com uma outra cor, mas sem explicar por que, você poderia pensar que aquele era um mapa dos países onde os direitos da mulher são mais restritos".

"Quem alega que agora as mulheres são obrigadas a fazer coisas que não querem, parte do pressuposto de que o sexo é mau. Na minha opinião, é mais complicado do que isso: é mau mas também é bom e muitas outras coisas. Temos de desenvolver melhor nossa atitude nesse campo".

Democratização do Corpo

"Em terceiro lugar, a pornografia democratiza o corpo. Contrastando com qualquer outro gênero cultural, ela tem uma apreciação muito ampla, especialmente da figura feminina. Infelizmente, quando representada pela indústria convencional, a imagem sempre é de uma ruiva com seios grandes etc".

"O que o radar não detecta é que 50% do mercado é amador, assim, todos os tipos de corpo estão representados".

"Sempre digo às mulheres, o que quer que seja que não gostam no seu corpo, escrevam a palavra em um site de buscas e acrescentem ao lado a palavra 'pornô'. Vão encontrar uma quantidade de sites visitados por gente que pensa que aquilo é a coisa mais atraente que existe", aconselhou Span.

"A mídia convencional poderia aprender muito com a pornografia nesse sentido e eu acredito que as mulheres estão representadas de forma mais honesta e com mais equidade na pornografia".

A pornografia para mulheres é celebrada anualmente durante o Feminist Porn Awards, um evento que premia filmes pornográficos feitos por mulheres e dirigidos ao público feminino, realizado em Toronto, no Canadá.

E cada vez mais cineastas mulheres participam do festival de cinema pornô realizado em Berlim, na Alemanha.

"Estamos mudando a indústria por dentro, aos poucos. Quando eu comecei, os actores eram poucos e não muito atraentes. Me esforcei muito para atrair novos actores".