Sugestão da Professora Valéria Rodrigues*
Um
dos maiores desastres ambientais ocorridos recentemente no Brasil foi, sem
dúvida, o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, em Mariana, Estado
de Minas Gerais que ocasionou por alto ao menos a morte de 04 (quatro) pessoas,
mais de 500 (quinhentos) desalojados, 22 (vinte e duas) desaparecidas, além da
destruição de moradias.
Ao
passo que o Brasil passa por isso e por outros entraves sociais que vai além de
embates político-partidários – muitos se aproveitam disso para ganhar terreno e
voltar ao poder sem apresentar, no entanto, nenhuma solução – outro fato chamou
a atenção. Trata-se de um atentado terrorista em Paris, França, onde mais
de 120 (cento e vinte) pessoas perderam a vida. As últimas informações dão
conta que o governo da França e a imprensa do país têm usado a palavra
"camicase" para descrever os terroristas e que um deles já foi
identificado.
Mas
o que tem de diferente entre esses dois fatos? A cobertura ou melhor a maneira
como a mídia enfoca nos seus noticiários? Sim. A imprensa brasileira é
golpista, é seletiva. O que importa é a audiência e para isso os meios não são levados
em consideração, mas os fins sim. A forma como os brasileiros absorvem as
informações? Também. Muitos são uma cópia fiel da mídia e acabam apenas
reproduzindo as notícias sem o mínimo de contextualização, de criticidade.
Tanto
é assim que uma infinidade de catástrofe está acontecendo na África e mesmo no
Brasil e nenhum se utilizou de redes sociais para trocar fotos de perfil em
apoio e, ou, em solidariedade. Mas o fizeram com os franceses. Seriam eles
(europeus) mais importantes que os africanos e que seus conterrâneos? Não. Na
dinâmica da vida o ser humano tem o mesmo grau de importância. O valor atribuído
a cada um é que é diferenciado.
O
brasileiro expressa nos casos mais simples o seu VIGOR EUROPEU. Quantos africanos
morrem todos os dias? Quantos brasileiros são assassinados todos os dias e
ninguém se solidariza? Quantas pessoas são atacados em sua dignidade e não há,
por parte da MAIORIA, solidariedade. Quando não há omissão emerge discursos
retrógrados – daqueles que enoja qualquer um com o mínimo de bom senso- “vocês estão se vitimizando”... “Não há racismo. Não podemos se bitolar desse
jeito. Parem de falar que ele acaba...”. Quantos trocaram as fotos do perfil em
solidariedade ao Amarildo? Quantos? Quanto aplicaram a alteridade nos casos que
não chegam a mídia, mas são reais e muitos, nos arriscamos a afirmar, são
conhecidos da maioria? Quantos aplicaram o lado humano na chacina de 19 jovens
pobres na capital cearense? QUANTOS?
Mas
repitamos a pergunta inicial – O que há de diferente entre o caso Mariana e o
de Paris? A repercussão MIDIÁTICA e a
REPRODUÇÃO de alguns BRASILEIROS a ela. Um modismo faceano (rede social facebook). Somente isso. Porque as dores são as mesmas.
Não
queremos afirmar com isso que não se pode trocar fotos de perfil em respeito ou
afinidade ideológica ou de apreço a nacionalidade. Isso em si não ajuda
ninguém, é bom dizer. Mas revela o despreparo, a falta de humanidade para com
aqueles que foram privados no passado de tudo, além de revelar ainda o ser
condicionado pela mídia.
*
Valéria Rodrigues é professora, Bacharel em
Ciências Biológicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA), colaboradora e
leitora assídua desse portal.