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Estudante negro ofendido na web afirma: ‘Me calar é cômodo para o agressor’,



Um álbum de fotos anônimo em um site de compartilhamento de imagens Imgur surpreendeu a estudante Lorena Monique dos Santos, de 21 anos, que produziu um projeto de fotografias para debater o racismo e a política de cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB). No álbum, publicado no fim de semana, fotos feitas e publicadas por ela com estudantes negros e negras da instituição, mostrando frases que eles criticam pelo teor racista, foram modificadas sem sua autorização. As montagens trocaram as frases originais por outras frases de teor ofensivo contra os participantes do projeto.

Matheus teve foto alterada e publicada anonimamente em site
de imagens. Ele participou de projeto que debate o racismo e
as cotas na UnB
Um deles é Matheus Henrique Ramos, estudante de matemática. Em sua frase original, ele citou um comentário recorrente que recebe por manter os cabelos no estilo black power. Na montagem anônima, são justamente seus cabelos os alvos da ofensa preconceituosa.

Batizado de “Ah, branco, dá um tempo”, o projeto de Lorena fez parte da disciplina de antropologia social. As imagens debatem frases que negros e negras ouvem com frequência e consideram preconceituosas, em uma tentativa de levantar o debate sobre a aceitação dos negros dentro da universidade.
‘Quase desisti’

Matheus falou ao G1 na tarde desta quinta-feira (2), e confessou que, quando foi convidado a participar do projeto, chegou a pensar em desistir, justamente por considerar os efeitos negativos que poderia sofrer com a exposição. “Prontamente aceitei, logo em seguida me veio à cabeça como seriam os comentários, o que poderiam fazer com as fotos, já que iam para a internet. Pensei mil coisas e quase desisti”, disse ele.

Porém, o estudante considerou que a sua expressão valeria a pena, mesmo correndo o risco de sofrer discriminação e ser vítima do crime de racismo. “Isso foi inquietante, pensar em não me expressar, em não ser quem sou para não incomodar os outros. Percebi que me calar é mais cômodo apenas para o agressor.”

Apesar de lamentar o episódio ofensivo, ele acredita que a reação agressiva ao projeto mostra a necessidade de expandir o debate sobre racismo no Brasil. “Tenho muito orgulho de ter participado deste projeto. O que fizeram com essas fotos mostra o que muitos escutam calados todos os dias em suas salas de aula, ambientes de trabalho, na rua. Evidencia ainda mais a necessidade de debater e enfrentar o problema.”

Para Matheus, as montagens ofensivas “respondem àqueles que dizem que o racismo não existe, que isso é coisa da sua cabeça, que somos todos iguais”.

Lorena Monique, a autora do projeto e do blog com as fotos originais, denunciou as montagens ofensivas em seu perfil no Facebook. “Essas fotos só comprovaram o que eu já sabia: o racismo é um câncer. Nunca pedi que concordassem com essa campanha. Na verdade eu nem ligo, se antes perseguiam os negros e negras, hoje eles nos ridicularizam de várias formas: nada mudou!”, reclamou ela, pedindo que as pessoas denunciassem a página.

Sinto que somos vistos, sinto que causamos desconforto e isto é um bom sinal”, escreveu ela nesta quinta, em um segundo post sobre o assunto.

O site Imgur foi fundado em 2009 por um então estudante da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, e permite a publicação de imagens sem a divulgação da autoria. Porém, em seus termos de uso, o serviço proíbe conteúdo que incite o ódio ou a discriminação. “Não carrege materiais nojento, obscenidade, publicidade, solicitações [de prostituição], ‘discurso de ódio’ (como os que discriminam raça, gênero, idade, religião ou orientação sexual etc.), ou material que contém ameaça, assédio, difamação ou que encoraja ilegalidade”, diz trecho das normas dos usuários.

Também é proibida a publicação de imagens se autorização dos detentores dos direitos autorais.

Para subir arquivos, não é obrigatório fazer um cadastro ou fornecer dados pessoais, mas o usuário deve concordar com os termos do serviço. O site também oferece a opção de denunciar e pedir a remoção de imagens.

Procurada pelo G1 por e-mail, a equipe de relações públicas do Imgur não informou se as publicações anônimas têm registro do IP do computador de origem e se o site recebeu o pedido de remoção das imagens. Até o fim da noite de quinta (2), o álbum com as 17 fotografias ainda estava no ar, e já tinha sido visualizado mais de 2 mil vezes



Negros e Gays sempre se ofenderam com piadas de Didi, afirma professor



Reportagem de Andrezza Czech, do UOL, em São Paulo, SP, intitulada ‘Para especialistas, gays e negros sempre se ofenderam com piadas de Didi’, entrevista especialistas como o professor doutor Dagoberto José Fonseca, chefe do departamento de Antropologia, Política e Filosofia da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.

Professor doutor Dagoberto José Fonseca.
 Naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos homossexuais, elas não se ofendiam”. A declaração, dada pelo humorista Renato Aragão à revista “Playboy” de janeiro, diz respeito à época de “Os Trapalhões”, programa veiculado entre 1966 e 1995. Para ele, antigamente, as pessoas sabiam que suas brincadeiras não eram feitas para atingir ninguém, mas, hoje, esse tipo de humor é encarado como preconceituoso. Será mesmo que a opinião pública mudou nos últimos 50 anos?

Para o professor doutor Dagoberto José Fonseca, chefe do departamento de Antropologia, Política e Filosofia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), as pessoas sempre reconheceram e lutaram por seus direitos, mas em condições mais difíceis do que as que encontramos hoje.

Antes, a maioria da população era de analfabetos, não se tinha tanta ligação com a escrita, com a mídia. Além disso, com a Constituição de 1988, passamos a ter uma lei que trata de racismo como crime inafiançável, o que nos permite lutar com instrumentos legais”, afirma Fonseca, que já foi coordenador do CLADIN (Centro de Estudos das Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra) da Unesp e do Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão.

Na entrevista à “Playboy”, Renato Aragão afirmou, também, que as piadas que fazia com seu colega Mussum eram apenas brincadeiras, como se fossem duas crianças, e que a intenção não era a de ofender ninguém.

No Facebook, uma jovem negra moradora de Muriaé (a 320 km de Belo Horizonte) foi vítima de ofensas racistas ao postar a foto abraçada ao namorado. Em um dos comentários, um internauta escreve: ”Onde comprou essa escrava?”, para em seguida pedir: ”Me vende ela”. Ela denunciou o caso à polícia, que deve indiciar os autores por crime de injúria racial, que pena de até três anos de prisão e multa. ”Não pode ficar impune. Eu quero que seja descoberto quem foi e que paguem pelo que fizeram comigo”, disse ao UOL.

Autor de “Você Conhece Aquela? – A Piada, o Riso e o Racismo à Brasileira” (Editora Selo Negro), livro que explica como as piadas sobre negros contribuem para propagar o racismo, Dagoberto José Fonseca acredita que este tipo de humor não tem nada de inocente, pois difunde diversas formas de preconceito.

A piada não é ingênua. Ela tem como objetivo a ridicularizarão do outro e provoca um processo de maior discriminação na sociedade”, afirma Fonseca. “É um mecanismo violento e sofisticado que parte de pessoas cultas, que têm consciência do que dizem, e que visa uma correção: é o correto fazendo uma observação sobre o ‘anormal’. É uma tentativa de corrigir aquilo que é considerado antinatural ou que está fora de seu lugar: o gay, o negro, o gordo…”.

Como consequência, segundo Fonseca, este tipo de humor propaga o preconceito. Além disso, ele generaliza e estereotipa povos, raças e classes e impede que as pessoas possam ser livres como são. “O gay quando está no armário não é motivo de piada. Mas as pessoas fazem piada quando ele se assume, porque buscam fazer com que ele volte à invisibilidade. Este é o mesmo objetivo das piadas racistas, sexistas, classistas e religiosas”, diz.

Para Fonseca, se queremos fazer parte de uma sociedade que luta por igualdade e na qual as pessoas possam se expressar livremente, precisamos repensar este tipo de humor. “Devemos olhar para esta questão com responsabilidade. O objetivo não é acabar com o humor, é não incentivar o humor que humilha, que é uma violência contra o outro”, afirma.



“Negros e gays não se ofendiam antigamente”, diz Renato Aragão. Como assim, Renato?



Prestes a completar 80 anos, Renato Aragão reclama da perseguição ao humor politicamente incorreto, visto hoje como preconceituoso. O humorista, que aniversaria na próxima terça (13) e também comemora 55 anos do personagem Didi em 2015, relembra que na época de Os Trapalhões (1966-1995), negros e gays sabiam que as piadas eram apenas de brincadeira. “Naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos homossexuais, elas não se ofendiam. Elas sabiam que não era para atingir, para sacanear”, desabafa.

Na época, a gente fazia como uma brincadeira. Era uma brincadeira de circo entre eu e o Mussum (1941-1994). Como se fôssemos duas crianças em casa brincando. A intenção não era ofender ninguém. Hoje, todas as classes sociais ganharam a sua área, a sua praia, e a gente tem que respeitar muito isso”, disse o humorista à revista Playboy de janeiro, que chegou às bancas na terça (6).

De contrato renovado com a Globo até 2017, Renato Aragão se incomoda quando ouve críticas contra a emissora, principalmente ao programa beneficente Criança Esperança, do qual é padrinho. Mesmo sem programa fixo, o humorista revela que não tolera quando falam mal da rede.

O programa explode e é: ‘Ah, por que a Globo, em vez de fazer aquele programa, não doa o dinheiro para o povo?’ É cruel isso. Me incomoda muito quando falam da Globo. Eu não admito que falem mal da Globo”, confessa o humorista.

Renato Aragão diz não se incomodar com as críticas ao trabalho dele como Trapalhão. Para o humorista, muitas pessoas detonavam os filmes de Didi, Dedé Santana, Mussum e Zacarias (1934-1990) sem ao menos ver o conteúdo.

Eu nunca liguei para isso, nem vou ligar. Tinha gente que criticava meus filmes sem assistir! Foi comprovado isso. Mas, quanto mais eles me malhavam, mas crescia o bolo, mais dava bilheteria. Os pseudocineastas ficavam umas araras porque os filmes deles não encostavam. Chegava um nordestino com um rolo compressor e passava por cima”, comemorou.

Do Fato e a História: “500 anos em 5 segundos”


Há de se fazer algumas ressalvas. Longe de defender o comportamento de Patrícia Moreira - a torcedora do Grêmio que ganhou fama nacional negativamente - temos que considerar alguns elementos que permeiam a nossa sociedade que nos influenciam e influenciamos reciprocamente. Uma dessas influências vem da mídia, que longe de controlar mecanicamente nossos pensamentos, de fato influi diariamente ao estreitar as pautas no noticiário. Outra é o aspecto irracional que aflora em espaços como o estádio de futebol.

Não é apenas a Patrícia, nem apenas o Grêmio. Favor não
generalizar a situação. 
Não me lembro exatamente quem disse isso, mas lembro de uma socióloga ou psicóloga (não lembro onde vi) dizer que o estádio de futebol é o “teatro dos pobres”. Lá vivenciamos emoções variadíssimas, expectativa, tensão, angústia, euforia, paixão, raiva, etc. O nosso lado irracional, responsável pelas nossas emoções, é quem dá o tom de nosso comportamento. Neste ambiente de pura efervescência, nossas ações estão condicionadas a uma psicologia social que está ligada a signos de construção, que nos afirmam e de desconstrução, que tem como objetivo desconstruir o outro. Identificando o outro como um inimigo em potencial (no caso o time adversário) cabe à massa elencar características negativas ao outro, levando-nos a atitudes que costumeiramente são condenáveis em locais de convívio mais ameno e amistoso. 

As atitudes que vimos na Arena do Grêmio e indignou boa parte dos brasileiros, podem ser classificada na mesma categoria do surto de “justiçamentos” ocorridos no início do ano no Brasil, onde o que deu o tom a violência exacerbada foi o instinto coletivo canalizados em desinformações que potencializaram o ódio.

Muito distante de defender Patrícia e os demais racistas do estádio e tampouco querendo fazer chacotas e distribuir palavras agressivas com sua pessoa (para isso a psicologia social já agiu muito bem nas redes sociais) temos que focar o problema em e analisar todos os fenômenos que o interligam, entretanto, há de se fazer com que ela e os demais prestem contas ao que fizeram. De maneira correta e serena. E isso foge de nosso alcance, agora esse papel é da justiça e cabe a ela decidir a respeito do caso. A nós, só resta assistir para onde essa situação vai evoluir. Afinal injúria racial é crime previsto no Artigo 140 parágrafo 3º de nosso Código Penal.

Sabemos que a justiça é mais rápida para condenar quem não detém poder econômico e minorias sociais. Dentre várias pessoas que poderiam ser flagradas, porque apenas uma foi noticiada? É importante lembrar que foi a atitude de Aranha ao indignar-se com a situação foi que fez com que a notícia acontecesse e este solicitava que se gravassem os torcedores que estavam ofendendo-o. Apesar de sucessivos casos de racismo, a forma como se noticia cada um deles, busca isolá-los. Isolou-se o caso de Tinga no Peru, o de Márcio Chagas de Freitas (esse pelo menos o clube prestou contas na justiça desportiva) e o de Daniel Alves, este último inclusive com uma campanha publicitária pseudo-social absurda. Isola-se agora Patrícia como um extraterrestre do restante da torcida e, principalmente, das instituições que lucram com o futebol e não macular o espetáculo com questões sociais. Ao reduzir a notícia ao evento isolado, turva-se a situação para preservar os clubes de futebol, a CBF, e as próprias emissoras de Rádio e TV. A partir daí a notícia não é mais o racismo, mas sua demissão do trabalho, as repercussões negativas em sua vida e, principalmente, a sensação de que a justiça foi feita antecipadamente culpando o sujeito e não procurando promover ações que erradiquem a causa. Afinal o espetáculo (e o lucro) não pode parar.

Agora muito mais que cometer um crime, Patrícia e os demais ainda não identificados ou expostos ao grande público, reproduziram um elemento que é naturalizado em nossa sociedade: a animalização do negro, do afrodescendente e suas variações. Não é incrível que certos comportamentos continuem e provavelmente continuarão atemporais em nossa sociedade? Os signos do negro como uma sub-raça, inapta e deformada moralmente, animalesca em contraponto como virtuoso europeu branco dotado de inteligência infinita e capaz de conduzir o mundo, ainda é muito presente em nosso meio. Ainda mais aqui no Rio Grande do Sul, orgulhoso por ser a “Europa do Brasil” onde milhares de pessoas levantam documentos de seus tataravós para provar que são italianos e assim ter dupla cidadania. É impressionante como tantos anos de história e cultura fundem-se em meros cinco segundos. A herança cultural e histórica produzida desde tempos longínquos mostram-se atuantes e materializados em encontros aparentemente inocentes, como um jogo de futebol.

Outro fato também importante de se procurar debater após esse triste episódio é identificar ou tentar definir o que é racismo no Brasil. Isso é dificultado pela confusão entre os conceitos de termos “preconceito”, “discriminação racial” e “racismo”. O professor Kabenguele Munanga os diferencia:
Há pessoas que confundem preconceito, discriminação racial e racismo. Os preconceitos, que são pré-julgamentos sobre o outro, sobre outros povos, sobre outras culturas, que são opiniões às vezes formalizadas, às vezes não formalizadas, acompanhadas de afetividade, são diferentes da discriminação. A discriminação é expressa pelos comportamentos observáveis, que podem ser censurados e até punidos pela lei, são atitudes que não são invisíveis. Outra coisa é um "derivado" que é chamado de racismo, que praticamente é todo um sistema de dominação que está por trás disso, todo um sistema de dominação sustentado por um discurso que, às vezes, tem conteúdo de uma ciência, por ser uma pseudociência, uma doutrina que existe justamente para justificar a dominação, a exploração do outro.

Alguns podem interpretar: mas e os outros não brancos no estádio?  São racistas também? Por se tratar de uma atitude ligada a emoções, ou seja, algo irracional e devido a nossa carga histórico-cultural o racismo que se solidificou em nossas mentes é difícil de ser identificado. Nós todos possuímos nossos preconceitos, todos nós o praticamos interna ou externamente, e isso perpassa qualquer etnia que compõe a nossa sociedade. Mas no racismo o fenômeno é praticado por pessoas que pertencem ao grupo étnico dominante da sociedade. Identificados com o fenótipo dominante, construído histórico e culturalmente em nosso país, esse fenômeno não é aplicável ao cidadão negro, por exemplo, que foi flagrado no estádio insultando o goleiro Aranha. Ele é apenas um reprodutor da ideologia solidificada ao longo do tempo. É um processo muito semelhante ao de reproduzir os valores que vemos na TV e na propaganda. E isso momentaneamente, não tem como ser diferente, pois viemos de uma sociedade escravagista que foi a última a dissolver-se. Mas até então não vemos outro caminho para erradicá-lo a não ser que seja através da denúncia, das políticas afirmativas e da educação continuada. Talvez agindo assim desta maneira, podemos ter a esperança de ver um dia esse problema superado pelas gerações futuras.


A relação entre o preconceito e o preconceituoso


Muitos se julgam espertos suficientemente para manter preconceitos e achar que ninguém percebe. Alguns têm consciência de suas cismas mentais. Outros chegam a sentir orgulho. Mas isto desafia reflexões.

Toda pessoa preconceituosa é um moralista. A relação é de promiscuidade mental. O preconceituoso reprova, inadmite e exclui o outro apenas pelo que este outro é. Nietzsche já desmontava esse farisaísmo social. ‘Nada é mais raro entre moralistas e santos do que a retidão’, ensinava o filósofo na obra Crepúsculo dos ídolos, número 42.

O preconceito não é algo que se ‘quer’ apenas de uma forma estigmatizada ou feia. Também não é uma ‘escolha’ que a parcela ‘cult’ ou ‘entrei-numa’ da sociedade fez no sentido de começar a achar ruim certo comportamento. Aliás, esses ‘yuppies’ da sociedade, os ‘metro-mentais’ com seus ternos pretinhos de calça fusô não produzem nada muito admirável.

O preconceito pode ter duas causas: atraso ou provincianismo. Mas uma coisa é certa, é uma manifestação de ignorância. No sentido ruim. Está na contramão do progresso social como um todo, da natural evolução dos povos e dos novos direitos. Historicamente sempre foi assim.

Quem acha bonito cultivar preconceitos deve refletir que passa para o mundo a imagem do ‘fariseu’ de Nietzsche. Ou a imagem do famoso ‘imbecil’ de Bertold Brecht, no poema ‘O analfabeto político’.

O capiau ou matuto da roça tem seus preconceitos pacatos. Talvez mais defensivamente, por ‘medo’ da cidade grande e sua gente. Mas certamente o preconceito mais danoso seja o do ‘doutor’ referido por Marilena Chaui na obra Cultura e democracia, p. 355. Ou de sua esposa, a lourinha com cabelo autoritariamente liso e mente ultrarreacionária sugerida por Chaui no espetacular vídeo-aula sobre a ‘classe média’, no Youtube.

Certa elite capitalista, deslumbrada com o poder financeiro, desperta para a ideia do ‘pensar’. Como se esta tarefa humana fosse simples e fácil. Aí talvez esteja uma das raízes do preconceito como se conhece nas sociedades urbanas e tecnológicas. Valores, juízos, educações, relações e visões de mundo são ‘teorizados’ por qualquer um desses aí. De um esquizofrênico cabo nazista chamado Hitler e sua horda de energúmenos, até um nouveau riche do petróleo ou da soja qualquer. ‘Mesmo’ que bilionário.

Racismo, sexismo, machismo, discriminações ou ódios étnicos, rácicos e religiosos, tão comuns na sociedade brasileira, ainda que alguns bem disfarçados, são exemplos de preconceitos danosos. Também o tal do ‘bom gosto’ tão bem referido por Adriana Calcanhoto na música ‘Senhas’, é uma forma perigosa de intolerância disfarçada de ‘chique’.

O fato é que o preconceito ficou bastante estigmatizado. Ninguém vai querer assumir uma posição discriminatória. Todo mundo jurará não ser preconceituoso, apenas ter um ‘modo próprio’ de ver a questão. Daí, uns invocarão liberdade de expressão; liberdade de pensamento; liberdade de crença filosófica ou religiosa; e mesmo a não-discriminação para exercer seu ‘modo de pensar’. Ou seja, querem que o preconceito seja um direito.

Como não há um menu universal de o que é ser preconceituoso, ficam noções gerais e principiológicas. Na educação, nas sociedades e nos sistemas jurídicos. A Constituição da República, por exemplo, no artigo 5o, inciso XLI, é taxativa: ‘A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.’

Nos 78 incisos que compõem o citado artigo constitucional, que garantem a plena liberdade da pessoa, está um indicativo seguro de que nada que ‘discrimine’ relativamente àquele rol será aceito. Ou seja, reduza, diminua, impeça a pessoa de ser o que ela queira ser, livremente. Desde que este ‘livremente’ não seja ser livremente preconceituoso.

A defesa do preconceito costuma invocar uma ou outra ‘lógica’. O problema é que como a lógica não se interessa com a verdade ou falsidade das premissas, mas apenas com sua relação, dá-se uma aparência de perfeição. Mas no caso do preconceito, saber se o conteúdo é bom ou podre faz toda a diferença.

Políticos brasileiros ultraconservadores, reacionários ou fundamentalistas, por exemplo, têm se insurgido contra a união gay. Este é apenas um exemplo. Alegam, os políticos, que não podem ser ‘discriminados’. Querem exercer a intolerância com liberdade. O problema é saber se, por exemplo, alguém tem direito a ser nazista, alegando que não pode ser discriminado. O ‘conteúdo’ nazista ofende a história e o mundo. Houve uma coesão mundial em torno do tema. Assim é com outros tantos temas.

O direito comparado, a história, a sociologia dos sistemas evoluídos, o cinema e as artes são um ótimo referencial para se identificar o rumo que determinadas questões vêm tendo no mundo. Se uma determinada questão vem sendo paulatinamente aceita ou proibida.

Qualquer pessoa que queira ‘calibrar’ o próprio pensamento, sua visão de mundo e suas ideias, se tomar por base um menu de referências assim terá uma ótima ferramenta. Poderá melhorar muito os próprios conceitos.

Mas uma coisa é certa. Quando se começa a ouvir, maciçamente, que determinada questão é preconceituosa, pode-se estar diante de um poderoso indicativo. Não é o meu umbigo que diz o que é ou não é preconceito. Nem o seu. É o mundo. E ele precisa de mais tolerância, afeto e amor. Não apenas nominalmente, como bandeira política. Mas de verdade.



A análise é de Jean Menezes de Aguiar, do Observatório Geral

Páginas contendo conteúdos racistas no Facebook se proliferam


A Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ vai acionar o Ministério Público para retirar do Facebook algumas páginas com conteúdo racista. A informação foi passada ao jornal O Dia pelo presidente da comissão, Marcelo Dias, depois de tomar conhecimento de uma série de páginas com o nome “O Racismo começa quando”.

São páginas de memes e piadas aviltantes contra negros e índios. Algumas têm poucas centenas de curtidores, mas outras acumulam dezenas de milhares, mostrando que muitos concordam com os conceitos preconceituosos mostrados nas páginas.

Uma pesquisa rápida no Facebook revela como o racismo é forte na rede social, apesar da maioria das páginas evitarem declarações explícitas de que são contra negros ou outros grupos étnicos.

A página “Orgulho de Ser Branco” se esconde sob a justificativa de divulgar características e qualidades da “raça branca”. Mas basta um olhar atento nos posts e comentários para constatar a ideologia racista disfarçada de revisionismo histórico e com doses pesadas de pseudociência. Navegar pela página é como voltar aos tempos em que as ideias do médico Nina Rodrigues sobre a inferioridade dos não brancos eram levadas a sério.

Como racismo e conservadorismo político andam de mãos dadas, não faltam neste bestiário ideológico menções a páginas intituladas direitistas, anticomunistas, contra o feminismo e reacionárias.

Em comum, além do português sofrível, estão referências ao risco iminente do Brasil se tornar uma ditadura comunista, críticas ao aborto e à regulamentação da maconha, links de artigos da Veja, loas para Rachel Sheherazade e o desejo unânime de ter Jair Bolsonaro na presidência da república.

Embora essas fanpages evitem citações diretas de apoio ao nacional socialismo, flagrei a possível declaração de uma delas admitindo ser nazista. Os post exaltava um soldado que havia ido para guerra defender seu país. Um internauta observou que a foto era de um soldado alemão na 2º Guerra Mundial e questionou a ideologia da página.

A fanpage Conservadorismo & Direita Política foi enfática na resposta, em caixa alta e mau português: “Nó somos nazistas cara”. Erro de digitação? Quem sabe … O post sumiu dias depois da primeira vez em que o vi.

Mas o conteúdo desta e das outras páginas semelhantes dariam credenciais suficientes para seus donos e seguidores tomarem uma cervejinha com o führer no Ninho da Águia.

Via DCM/Pragmatismo Politico

O Racismo se responde com Educação e Políticas Públicas e ao Racista com o rigor da Lei


A população afrodescendente brasileira e negra sempre foi alvo de violência e tida, de acordo com a estratificação social e a diferenciação da cor da pele, como incapazes, inferiores, sem cultura e, que por tanto, o mínimo que as classes dominantes lhes poderiam oferecer era a condição escrava, nos moldes do sistema político colonial, regencial e imperial brasileiro e ainda lhes podem oferecer, como herança desse modelo, a condição de empregado, de submisso e, sendo assim, o negro é visto como o inferior nas suas diversas facetas.


A história demonstra através de fatos que o negro e os descendentes nunca se deixaram abater e, que mesmo diante das situações mais difíceis em que se encontravam – do navio negreiro passando pelos castigos físicos e pelas proibições de executarem suas crenças, sempre foram fortes o bastante na formas de enfrentamento as adversidades a eles impostas. O negro sempre buscou ser o autor de sua própria história. Os abortos, as fugas, as revoltas, cita-se aqui, a dos Malês como símbolo, a capoeira e, principalmente a formação e manutenção dos Quilombos aprecem aqui como exemplos memoráveis na luta não só para saírem da condição de escravo, mas para demonstrar aos feitores, capitães-de mato, a igreja católica e aos senhores de engenho que eles tinham orgulho de serem NEGROS e, que não eram melhores e nem piores que ninguém. O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO é a marca desse povo.

A história, já nos dizia Marc Bloch e Lucien Febvre é feita de mudanças e permanências. As permanências, infelizmente, são mais visíveis, são mais sentidas pela sociedade. As mudanças quando surgem, não atendem as mínimas necessidades da comunidade. O Brasil mudou e, em 1888, a partir da Lei Áurea construiu-se o mito de que a escravidão havia terminado. Terminou institucionalmente, mas o negro foi jogado as traças. Não foi lhes dadas às condições de socialização, de participação na vida política, econômica e cultural. De escravo a mendigo. Foi essa a principal consequência da Lei Áurea. Uma lei criada para satisfazer as necessidades de um grupo político/econômico que não mais via no trabalho escravo do negro lucratividade para a incipiente industrialização. Mudou-se para permanecer.

Foi Marx que nos legou a definição de que “a história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”. E nesse quesito, o povo NEGRO tem se mostrado atuante. Perceberam e percebem a condição de sujeito oprimido e com vigor lutaram e lutam para sair dessa condição. Sejam mediante sujeito histórico individual, seja através de sujeitos históricos coletivos. Os diversos Movimentos Negros espalhados pelo Brasil nos aparecem com maestria na luta por melhores condições na habitação, na saúde, na cultua e por ampliação da participação na vida política e, principalmente no combate ao Câncer social que se gerou ainda na invasão portuguesa, no século XVI e, que hoje, é alimentado, o RACISMO.

Por falar em alimentação do RACISMO contra o classe NEGRA, a Universidade Regional do Cariri – URCA, campus do Pimenta, em Crato-CE, foi palco de mais um caso de racismo em suas dependências, quando um estudante do curso de história, Pedro Victor dos Santos, 21 anos, teve seu nome pichado no interior do banheiro masculino com referencias a sua cor de pele e em tom de ameaça de morte. O fato veio a se dar no último dia 13 de março com a seguinte frase – “Pedro Victor anêmico desgraçado. Morre seu negro". Debates foram realizados com o intuito de fortalecer a luta pelo combate a essa forma de preconceito por movimentos sociais do cariri cearense. Segundo Karla Alves, membro do Pretas Simoa - Grupo de Mulheres Negras do Cariri, Pedro teve múltiplas convulsões e que cobraram da instituição de ensino superior supracitada providências, dentre as quais merece citar a prestação de amparo ao estudante e a abertura de investigação do fato.

Karla informou através de nota na rede social facebook que o caso teve reincidência e que o universitário recebeu ameaças de morte através de uma carta anônima deixada dentro do seu caderno. “Seu desgraçado, se prepare que dessa vez vai acontecer coisa pior. Se prepare para morrer. Seu negro de merda. E dessa vez vc vai ter o q merece por que nada lhe aconteceu ainda. Mas lhe digo, se prepare para MORRER”, constava a carta.

De acordo com a professora do Departamento de Educação da URCA, Cicera Nunes, neste dia 06 de maio a URCA foi palco uma vez mais de debates visando o combate ao preconceito e discutir a necessidade de se implantar estratégias e políticas públicas de enfrentamento ao racismo de forma séria e efetiva dentro da universidade. Para elas há que se pensar em rediscutir planos que devem ser norteadas a parti de questionamentos que perpassam por temáticas como as leis 10.639/03 e 11.645/08 e formação dos docentes na sua aplicação, conforme abaixo elencadas:

1.     Quantos programas curriculares abordam a temática afro-indígena? Quantas disciplinas obrigatórias foram implantadas para atender as determinações das Leis Nº. 10.639/03 e 11.645/08? Quantas são optativas? Qual a formação dos professores que a ministram?

2.     Quantas pesquisas cadastradas na Pró-Reitoria de Pesquisa com a temática afro e indígena? Quantos alunos atendidos? Quantas comunidades negras envolvidas? Quais estudos já foram produzidos por esta universidade sobre a realidade das comunidades rurais negras e quilombolas do Cariri cearense? Quantos cursos de especialização com a temática afro-indígena foram oferecidos para a comunidade caririense?

3.     Quantas ações de extensão já foram desenvolvidas?

4.     Quantos são os alunos negros da URCA por curso? Quantos estão no curso de Direito? Quantos estão no curso de Enfermagem? Quantos estão no curso de Pedagogia? Destes, quantos/as são mulheres? Qual é o perfil socioeconômico desses alunos?

Percebendo o Racismo como uma construção histórica em que nesse processo há a manutenção da exclusão social do negro, há que se notar que a luta em prol da eliminação desse câncer tem se tornado mais do que nunca, uma luta diária, um sentimento de pertencimento e que precisa envolver toda a sociedade. Por tanto, a Universidade, como espaço onde o fato ocorreu e vem ocorrendo com Pedro, precisa dar uma resposta clara e efetiva no enfrentamento a esse ódio contra o negro. Ela precisa sair da luta evasiva para a expansiva. Lembremos, outrossim, o que afirmou Nelson Mandela “até o dia em que todas as pessoas percebam que a cor da pele de alguém é menos importante do que a cor de seus sonhos, termos que manter essa luta”.


Advogado dá um show de imundices e demonstra falta de conhecimento acerca dos nordestinos





Postagem do Advogado Gustavo Zanelli
(Foto: Reprodução/Facebook)
Advogado sugere separar nordeste do Brasil

Os comentários de um advogado paranaense vêm causando revolta nas redes sociais desde a noite de quarta-feira (11). Em post publicado no dia 9 de setembro, Gustavo Zanelli diz que “não adianta querer misturar as culturas norte/nordeste X sul/ sudeste. É por isso que há tão poucos sulistas no nordeste (nós não aguentamos isso aqui)”.

Em outro post, publicado na quarta-feira (11), o advogado sugere a separação das regiões Norte e Nordeste do resto do país, declarando que “seria o primeiro a iniciar uma guerra para a devida separação”, e completa: “se houvesse essa possibilidade nós aí do Brasil seríamos um país de primeiro mundo”.

Um terceiro comentário, feito no dia 7 de setembro, ironiza as condições climáticas de São Luís. “Acabo de chegar em terras maranhenses! O calor aproxima os 90 graus”. Quando uma pessoa comenta “GU VC TA MORANDO NO MARANHÃO MESMO !!!!!!!!!!”, Gustavo vai além. “Até dezembro ficarei aqui (…) Não sei se suportarei até dezembro o calor, a grosseria dos nordestinos e essa comida horrivel, mas o objetivo inicial é ficar até dezembro”, dispara.

Postagem de Advogado circula nas redes sociais
(Foto: Reprodução/Facebook)
Um comentário específico criticando o Departamento de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foi amplamente compartilhado e teve repercussão em diversos blogs locais. Revoltado, o estudante de direito da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro, Klaus Aires, que reside em São Luís, divulgou a seguinte mensagem:

“Gustavo Zanelli – Advogado, residente em São Luís-MA ofendendo os Nordestinos. Deu um show de imundices mostrando sua total falta de conhecimento antropológico, histórico e geopolítico acerca da história do Brasil e dos feitos e da força do povo nordestino. Não sou nordestino, sou Carioca e este imundo não me representa. Ja fiz a denúncia na página de todas as OAB’s do NORDESTE, e semana que vem levo formalmente na sede da OAB-MA”, avisou. A mensagem já possui 43 curtidas e 78 compartilhamentos.


Via Pragmatismo Político

Ser negra vai além de uma questão de pele




Reproduzimos abaixo excelente reflexão de Lorena Morais sobre a questão do racimo no Brasil. O texto também foi publicado no Pragmatismo Político.

Lorena fala dos percalços enfrentados diariamente e conta um pouco do quanto foi difícil superar o preconceito contra sua cor. “Ser negra vai além de uma questão de pele... O racismo me fez chorar durante anos, me fez odiar minha pele e meu nariz, fez me esconder no fundo da sala de aula, não querer namorar, fugir dos homens e acreditar que “aquele olhar não era pra mim” (...), disse via facebook. 

Lorena Morais (Foto - Arquivo Pessoal/Facebook)
Vamos a ele

O racismo me calou durante anos. Calou-me através da timidez, da baixa estima, dos cabelos alisados ou do ferro no cabelo na beira do fogão, calou-me através das roupas, das bonecas brancas de bocas rosadas e barbies louras. Calou minha inteligência, minha coragem e meus desejos.

O racismo não deixou ver minha beleza durante anos, escondeu meu sorriso, não me deixou ser doutora, nem atriz ou modelo, me fez não querer tentar ir às bancadas ou reportagens do telejornal, me fez acreditar que sou incapaz, ou “burra” e feia. O racismo me fez durante anos enxergar um cabelo ruim, me fez chorar, odiar minha pele e meu nariz, fez me esconder no fundo da sala de aula, não querer namorar, fugir dos homens e acreditar que “aquele olhar não era pra mim” ou que eu não seria pra casar.

O racismo me fez acreditar que nunca vou conseguir e que aquele palco não me pertence. O racismo trouxe-me tanta dor, tantas lágrimas que hoje são transformadas em uma única palavra: RESISTÊNCIA!

Ao acordar enfrento o racismo cruel no trabalho, na rua e na escola. Enfrento o racismo do olhar, o verbal, imaginário e disfarçado. Enfrento o racismo em uma cidade negra que carrega uma cultura do preconceito, do cabelo liso, da sexualidade da negra, roupas “da moda” e uma cidade que diz que “seu lugar não é aqui, sua neguinha” e que “candomblé é coisa do diabo”.

Sou negra, jornalista, agente comunitária de saúde, soterocachoeirana, amo o meu cabelo crespo, meu nariz, sou linda e me visto como eu amo, adoro turbantes, samba de roda, faço capoeira e para mim ser negra é muito mais do que uma questão de pele. Todos e todas somos iguais, mas só quem é negro/negra sente a dor da chibata nas costas. Chorar não alivia a dor. Enxuga essas lágrimas, levanta e vamos a luta!

RESISTA, NEGRO! RESISTA, NEGRA!

Jornalista que criticou "cara de empregada" de cubanas é processada




Depois de postar o comentário acima, Michele excluiu seus
perfis das redes sociais e se desculpou
Com base em uma ação movida por uma ex-empregada doméstica, a jornalista potiguar Micheline Borges vai responder a um processo por danos morais na Justiça em razão das críticas postadas no Facebook à aparência das médicas cubanas contratadas para atuar no interior do País por meio do programa Mais Médicos. Em sua página da rede social, Borges manifestou receio sobre a capacidade das profissionais estrangeiras porque, segundo ela, teriam “cara de empregada doméstica”. No post, publicado em 28 de agosto, após a chegada dos médicos estrangeiros ao País, a jornalista disse que não gostaria de ser tratada por pessoas “descabeladas, de chinelos e sem lavar a cara”; segundo ela, o médico deveria ter “cara de médico” e “se impor pela aparência”.

Quem assina a ação é a presidente do Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos (Sindidoméstica) da Grande São Paulo, Eliana Gomes de Menezes, que diz representar “todas as empregadas domésticas do Brasil, haja visto ter sido empregada doméstica e faxineira, conhecedora de todos os rótulos e preconceitos contra esta classe trabalhadora”. Segundo ela, “Micheline Borges menospreza a potencialidade das médicas cubanas e trata com desprezo e discriminação as nossas empregadas domésticas”.

O valor da indenização requerida é de 27 mil reais. O processo foi distribuído na 1ª Vara do Juizado Especial Cível de Vergueiro, na capital paulista.

A ação tem a assessoria jurídica da Federação das Empregadas e Trabalhadores Domésticos do Estado de São Paulo, da qual o sindicato é afiliado. No documento, a dirigente cita um artigo do jurista Luiz Flávio Gomes, segundo quem “a declaração foi feita com base na ‘cara’ das médicas, caras negras ou pardas escuras, caras essas que os arianos (como Hitler) discriminam como feias ou malvadas”.

“A Federação das Empregadas e Trabalhadores Domésticos do Estado de São Paulo e sindicatos filiados não admitem que preconceitos, discriminações, descasos, maus tratos, injustiças, continuem tão arraigadas na mentalidade dos cidadãos brasileiros”, escreveu. “É imprescindível absorver as mudanças e notar que o Brasil não é feito de brancos, negros, amarelos, vermelhos, mas sim, da miscigenação de todos esses povos. O país desenvolveu em tantos aspectos desde seu descobrimento, mas a sociedade não conseguiu acompanhar esses avanços.”

Segundo Camila Ferrari, assistente jurídica da federação, ainda não foi definido se a jornalista será ouvida em São Paulo ou se o processo será encaminhado para o Rio Grande do Norte, onde foi postada a ofensa.

A repercussão do comentário levou a jornalista excluiu o seu perfil das redes sociais e se desculpou. "Foi um comentário infeliz, foi mal interpretado, era para ser uma brincadeira, por isso peço desculpa para as empregadas domésticas”, escreveu Micheline.


Via Carta Capital