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Beatriz Nascimento entra no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria

 

(FOTO | Arquivo Nacional).

A ativista na luta pelos direitos de negros e mulheres Maria Beatriz Nascimento teve seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, onde estão os nomes de pessoas que se destacaram na história do Brasil. A Lei 14.712/2023, aprovada pelo Congresso Nacional e publicada no Diário Oficial da União, formaliza a homenagem póstuma.

Conheça Beatriz Nascimento, intelectual negra que inspira cientistas

 

Beatriz Nascimento. (FOTO | Arquivo Nacional).


Negra, migrante, nordestina e mulher, a historiadora Beatriz Nascimento (1942-1995) foi uma das principais intelectuais do país, com contribuições fundamentais para entender a identidade negra como instrumento de autoafirmação racial, intelectual e existencial. Ela desenvolveu pesquisas sobre o que denominou de “sistemas sociais alternativos organizados por pessoas negras”, investigando dos quilombos às favelas. A partir desta quinta-feira (20), Beatriz dá nome ao "Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência", primeiro programa do governo federal direcionado exclusivamente a mulheres cientistas negras, indígenas, quilombolas e ciganas.

Segundo a Enciclopédia de Antropologia da Universidade de São Paulo, Maria Beatriz Nascimento nasceu em Aracaju. É a oitava filha de Rubina Pereira do Nascimento e Francisco Xavier do Nascimento, que migraram para a cidade do Rio de Janeiro no final de 1949.

Beatriz ingressou no curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no ano de 1968, concluindo a graduação em 1971, aos 29 anos de idade. Sob orientação do historiador José Honório Rodrigues, ela realizou estágio de pesquisa no Arquivo Nacional e trabalhou como professora de história da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro.

A historiadora se especializou em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense (UFF) quando, em 1974, participou da criação do Grupo de Trabalho André Rebouças e, em 1975, do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN). Com o sociólogo Eduardo de Oliveira e Oliveira (1923-1980), a filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez (1935-1994) e o jornalista Hamilton Cardoso (1953-1999), ela partilhou pesquisas e militâncias.

Durante a Quinzena do Negro, evento ocorrido na Universidade de São Paulo (USP) em 1977, Beatriz apresentou a conferência Historiografia do quilombo, delineando os contornos do que ela desenvolveria, posteriormente, como espaços de resistência cultural negra: dos bailes blacks aos territórios de favelas, esses espaços constituiriam uma identidade negra como instrumento de autoafirmação racial, intelectual e existencial, além de território simbólico ancorado no próprio corpo negro.

Em 1979, em viagem ao continente africano, a autora conheceu territórios de antigos quilombos angolanos e reafirmou a vinculação entre as culturas negras brasileira e africana. No documentário Ôrí, lançado em 1989, dirigido pela cineasta e socióloga Raquel Gerber, Beatriz narra parte da trajetória dos movimentos negros no Brasil entre 1977 e 1988, ancorando-se no conceito do quilombo como ideia fundamental, que atravessa sua própria narrativa biográfica, para retraçar continuidades históricas entre o quilombo e suas redefinições nos dias atuais.

Beatriz escreveu uma série de textos, poemas, roteiros, ensaios e estudos teóricos, entre os quais se destacam Por uma história do homem negro (1974); Kilombo e memória comunitária: um estudo de caso (1982) e O conceito de quilombo e a resistência cultural negra (1985).

Em 1995, a historiadora é vítima de feminicídio, aos 52 anos de idade. Pelas suas importantes contribuições à pesquisa acadêmica, em outubro de 2021 é outorgado a ela o título póstumo de Doutora Honoris Causa in Memoriam pela UFRJ. Ao lado de Lélia Gonzalez (1935-1994), Sueli Carneiro (1950-) e Luiza Bairros (1953-2016), Beatriz figura como umas das mais importantes intelectuais negras brasileiras.

Beatriz Nascimento é uma das intelectuais mais brilhantes que esse país já teve e que, infelizmente, teve a vida interrompida de maneira muito precoce em razão do feminicídio”, ressalta a professora de História e mestra em Educação pela Universidade Federal de Ouro Preto Luana Tolentino.

Segundo Luana Tolentino, a historiadora é uma grande inspiração para as pesquisadoras negras. “Beatriz Nascimento abriu portas para que a minha geração pudesse entrar. Sou da década de 1980, então sou dessa geração que tem tido a oportunidade de exercer o direito de estar na universidade também em função da política de cotas. A luta contra o racismo da Beatriz Nascimento foi fundamental para construção dessas políticas públicas de promoção da igualdade racial e também como um incentivo, como farol para nós pesquisadoras negras, mulheres negras”.

As pesquisadoras negras precisam enfrentar diversos desafios, afirma Luana. “O primeiro desafio é justamente o racismo que orienta a sociedade brasileira, que dificulta de todas as maneiras o acesso das mulheres negras à universidade. Temos a política de cotas, que é um marco na história do país e que sem sombra de dúvidas tem sido fundamental para dar novos contornos, novas cores à universidade, mas ao mesmo tempo, há uma série de barreiras que dificultam o acesso das mulheres negras ao ensino básico. Entre os grupos sociais que não tiveram oportunidade de frequentar a escola, as mulheres negras são maioria”, explica Luana Tolentino.

O outro ponto destacado pela professora, é que ao chegar na universidade as pesquisadoras precisam enfrentar o olhar de desconfiança com o qual as são vistas, também motivado pelo racismo.

Vivemos em um país em que ainda há uma expectativa de que, nós mulheres negras, estamos nesse mundo apenas para servir e limpar a sujeira dos outros. Estamos em um país que ainda tem dificuldade de pensar nas mulheres negras como pesquisadoras, como intelectuais, como produtoras de conhecimento. Mas, a despeito de tudo isso, nós estamos em um número muito significativo na universidade, acho que como Beatriz Nascimento sonhou. Nós que já estamos [na universidade] precisamos assumir o compromisso de abrir tantas outras portas para que outras mulheres negras possam entrar e garantir o direito humano à educação e ao ensino superior”.

Luana Tolentino é autora dos livros Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula (Mazza Edições) e Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil (Papirus 7 Mares).

Programa

O Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência quer fortalecer as trajetórias acadêmicas dessas mulheres oferecendo bolsas de doutorado e pós-doutorado sanduíche no exterior. O governo federal vai investir aproximadamente R$ 7 milhões, resultado da parceria entre o Ministério da Igualdade Racial com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e o Ministério das Mulheres (Mmulheres).

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Texto de Ludmilla Souza, na Agência Brasil.

Beatriz Nascimento pode ganhar título de doutora honoris causa

 

A Universidade Federal do Rio de Janeiro aprovou na congregação da Escola de Comunicação (ECO) uma comissão para fundamentar o pedido de conferência do título de doutora honoris causa à intelectual, ativista e historiadora, Maria Beatriz Nascimento. O pedido será encaminhado ao Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CONSUNI).

Beatriz Nascimento e a visibilidade acadêmica para a temática étnico-racial


Beatriz Nascimento e a visibilidade acadêmica para a temática étnico-racial. (FOTO/  Reprodução/ Jornaç GGN).

Maria Beatriz Nascimento nasceu em Aracaju, em 12 de julho de 1942. Sua mãe, Rubina Pereira do Nascimento, era dona de casa e seu pai, Francisco Xavier do Nascimento, era pedreiro.  Com 28 anos, Beatriz entrou no curso de graduação em História, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), depois da família migrar para aquele Estado. Depois de formada, Beatriz torna-se professora da rede estadual de ensino e passa a atuar em temáticas e objetos ligados à história e à cultura negra, com destaque para a participação na criação do Grupo de Trabalho André Rebouças, em 1974, que desenvolveu discussões sobre o papel do negro na história e na sociedade.

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Beatriz Nascimento


Quem mergulha nos pensamentos, nas angústias e na história de vida da guerreira negra Beatriz Nascimento, que deu a vida em defesa do respeito à dignidade feminina, nunca mais se sentirá como era antes. Uma história que se inicia em Aracaju, e prossegue, em 1945, quando Beatriz tinha três anos, assim como na canção de Dorival Caymmi: "peguei o Ita no norte pra vir pro Rio morar...". Foi exatamente nesse famoso navio de retirantes que embarcaram o pedreiro Francisco Xavier Nascimento, a dona de casa Rubina Pereira Nascimento e seus 11 filhos, na década de 50, para desembarcar em meio às imensas dificuldades de uma cidade em ebulição político-social, carente de infraestrutura, que já não comportava sua população negra pobre imigrante.

Nesse universo e realidade foram forjadas tanto a personalidade quanto as reflexões que se constituem no pensamento vivo dessa intelectual que iniciou sua graduação em História, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aos 28 anos. A quantidade de horas-aula, em escolas da rede pública de ensino que precisava cumprir, para garantir a própria sobrevivência, jamais foi desculpa para Beatriz Nascimento não prosseguir sua dedicação à pesquisa sobre questões relacionadas com a história e a cultura afro-brasileiras.

Militância, debates, negritude

A opressão da ditadura, marcadamente após 1968, com o Ato Institucional número 5, produziu nos movimentos sociais da época o efeito de uma mola: quanto maior a compressão, maior o impulso da reação. Desta forma, o movimento negro e o estudantil, principalmente nos grandes centros urbanos, reagiram tanto com manifestações e reivindicações quanto com a busca de aprofundamento na busca de conhecimentos sobre as questões de seu interesse. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1974, onde posteriormente fez sua pós-graduação, Beatriz liderou a criação do Grupo de Trabalho André Rebouças e, por meio dele, conectava-se com pesquisadores negros e brancos que produziam saberes no país e fora dele. Ao mesmo tempo, compartilhava suas reflexões com os demais por meio de conferências e debates, como os que ocorriam, anualmente, nas Semanas de Estudos sobre a Contribuição do Negro na Formação Social Brasileira. O GT André Rebouças publicou três edições de um caderno que documentam esses eventos.

Só se é capaz de combater com eficácia o que se conhece bem. Era para enfrentar o racismo que Beatriz Nascimento se dedicava tão intensamente aos estudos. Muitos de seus artigos publicados, entrevistas, conferências, explanações e debates, em seminários e entre as militâncias, abordam a correlação entre a corporeidade negra e seus espaços permanentes - como quilombos e outros dedicados à religiosidade de matriz africana - ou transitórios, como os bailes black, os clubes sociais negros e as escolas de samba.

Suas palavras-chave são "transmigração" - sobre os deslocamentos dos africanos e afrodescendentes, ao longo do tempo, por exemplo, da senzala para o quilombo, do campo para a cidade, do Nordeste para o Sudeste - e "transatlanticidade" - decorrente da diáspora africana que recria a cultura negra na relação intercontinental -. Daí a expressão que deu origem ao título da obra do antropólogo Alex Rattz, da Universidade Federal de Goiás, Eu sou Atlântica - sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento, publicada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Kuanza, em 2007.

Beatriz também se valeu da arma chamada palavra com a qual construiu poemas que desnudam sua alma de mulher negra. Ela faz parte de uma história de mulheres que combateram frontalmente o sexismo, o machismo e as violências domésticas. Pagou com a própria vida a solidariedade de abrigar, em sua casa, uma amiga, vítima desse tipo de violência. Era 28 de janeiro de 1995. O criminoso era um presidiário beneficiado pelo indulto de Natal, que não retornou à prisão na data determinada. Comenta-se que pertenceria ao esquadrão da morte, raiz das atuais milícias que promovem o genocídio da juventude negra. Que falta nos faz Beatriz Nascimento para enfrentar, de cabeça erguida, mais essa prática racista!


Pretas Simoa realiza roda de conversa sobre a ativista negra nordestina Beatriz Nascimento


O Grupo de Mulheres Negras no Cariri - Pretas Simoa estará  promovendo no dia  15 de novembro, na praça do Giradouro, em Juazeiro do Norte, uma reunião de formação entre os membros do grupo objetivando discutir sobre a ativista negra e nordestina Beatriz Nascimento.

Segundo Karla Alves, uma das líderes do movimento negro, a roda de conversa terá como eixo norteador a obra do professor Alex Ratts - doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, coordenador do Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-Raciais e Espacialidades do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da Universidade Federal de Goiás (LaGENTE/IESA/UFG). O livrro referenciado será  "Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento".

Os interessados na temática podem adquirir o livro a um preço de R$ 9,25, disponível na Amorim Xérox, em Crato, na pasta de mesmo nome do grupo. O  encontro também será aberto ao púlico e está previsto para ter início as 16h00.