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No dia dos profissionais da educação, lembremos de Abdias do Nascimento, o leão africano

 

Abdias Nascimento discursa em convenção do Partido Democrático Trabalhista realizada no Congresso Nacional, em 1982. (FOTO | Acervo Ipeafro).

Nos ensina o Griot Abdias Nascimento: “Poucos brasileiros sabem (…) que pelo lado africano, o lado da senzala, somos os herdeiros de uma civilização que deu à luz o chamado mundo ocidental. Poucos sabem porque o fato foi escamoteado, distorcido e falsificado durante séculos, que a tão decantada civilização greco romana tem suas origens no Egito Antigo, um país africano, e que a civilização egípcia, por sua vez nasceu no coração da África

Conversando com Bida Nascimento, filho de Abdias, perguntamos por uma citação. “Eu sou o Leão Africano!”. Abdias costumava exaltar essa frase enquanto jogava cartas. A figura do leão é emblemática por si só e não deve ser reduzida como um animal da savana africana. À essa mitologia guerreira se demanda a Tribo de Judá que fez a cabeça do mais famoso ‘Dread Lion’ de todos os tempos, Bob Marley. Ser “Dread Lion” ou usar ‘DreadLocks’ consiste numa filosofia de vida ou ‘lifestyle’ para assumir a própria etnia. Quando estamos vendo ‘rastas’ andando pelas ruas orgulhosos de seus cabelos e trejeitos podemos reconhecer que a autoestima de cada um desses cidadãos está preservada. Nisso se consiste a luta do Movimento Negro. Resgatar a autoestima das populações afrodescendentes de modo que a ampla maioria da população, no caso do Brasil, através de uma referência histórica passe à ser vista como protagonista da vida nacional.

Nesse trabalho de revisionismo, Abdias funda com sua esposa Elisa Larkin Nascimento o Instituto de Pesquisa e Estudos Afrobrasileiros (Ipeafro) em 1981 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A ausência de produção acadêmica e, consequentemente, de provocação na opinião pública sobre as experiências dos povos africanos e afrodescendentes, seja nas Américas ou na África, resultou num robusto material desenvolvido ao longo desses 36 anos de trabalho intelectual e artístico. Poderemos destacar as revistas “Thot” que acompanhavam o mandato parlamentar de Abdias, a coleção Sankofa, que na tradição dos povos Acã situados na antiga África Ocidental (atual Gana e parte da Costa do Marfim) eram formulados diversos Adinkras, onde o símbolo que ilustra o título dessa pesquisa é denominado SankofaGwa: “Nunca é tarde para voltar e buscar o que ficou para trás”. Por uma outra narrativa que englobe os povos de matrizes africanas para além do samba, futebol, cozinha e candomblé; o suplemento didático “A Linha do Tempo dos Povos Africanos” comprova tanto materialmente como dialeticamente, a existência da filosofia africana, a vanguarda nas artes, literatura, astronomia, medicina, engenharia e arquitetura. Devemos hoje procurar entender o porque associamos diretamente (bem como somente também) os reinados, dinastias, palácios e castelos à Europa.

Certamente causará estranhamento a afirmação de que o homem mais rico de todos os tempos foi simplesmente um africano reverenciado como Mansa Musa, Imperador da Mali. O certo seria estranhar porque até hoje a imagem que ficou incutida na mentalidade humana é que a África é um lugar permeado por doenças, guerras civis e miséria absoluta. Ao invés desse subdesenvolvimento intelectual, vamos começar a reconhecer a existência das universidades, centros culturais, museus, hospitais e pontos turísticos?

Acreditamos que essa seja a necessidade da implementação da Lei 10.639/03 que versa sobre História da África e dos africanos e sobre o papel do povo negro na formação da sociedade brasileira. No dia que cada cidadão afrodescendente souber de si e do seu mundo, poder se conectar com a diáspora e seu universo, a história no Brasil será outra frente à esse amplo contingente populacional unido e empoderado.

De forma boa, fica impossível falar de Abdias em poucas linhas. Para além da atuação acadêmica, ativista e parlamentar, Abdias também foi ator, dramaturgo, poeta, pintor e diretor. Convidamos todos para assistir o espetáculo “Abdias Nascimento, O Leão Africano!” que será realizado no próximo dia 18 de fevereiro de 2017, sábado, às 20h. Esse projeto faz parte da programação da VI Semana do Patrimônio Fluminense, onde o objetivo é ressaltar o patrimônio cultural imaterial. O sítio histórico do Cais do Valongo será o palco dessa apresentação aberta ao público de forma gratuita. Não seria possível sem o patrocínio da Sociedade de Promoção da Casa de Oswaldo Cruz e o apoio do Ipeafro, bem como o Ponto de Cultura Escola POP. Abdias vive! Axé!

Veja também “A educação Popular não começa com Paulo Freire, diz Alex Ratts

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Texto de Walmyr Junior e Paulo Mileno, do Jornal do Brasil com o título Abdias Nascimento, o Leão Africano!

A educação Popular não começa com Paulo Freire, diz Alex Ratts


Ironides Rodrigues ministra aula de alfabetização para jovens e adultos
 inscritos no Teatro Experimental do Negro. Rio de Janeiro, 1945.
(FOTO/Reprodução/Alex Ratts).

Texto | Nicolau Neto

No último dia 19 de setembro o Brasil relembrou o nascimento de Paulo Reglus Neves Freire. O pernambucano mais tarde se tornaria o educador mais conhecido e influente no mundo.

Há 40 anos, livro de Abdias Nascimento denunciava violência contra população negra do Brasil



Quarenta anos depois, o livro de Abdias Nascimento – uma obra de referência no debate étnico-racial – é relançado para denunciar a violência contra a população negra no Brasil.

Falecido em 2011, aos 97 anos, Abdias deixou um legado de luta contra o racismo na literatura, na política e em muitos aspectos da sociedade brasileira. O ativista – que viveu exilado entre 68 e 81, durante a ditadura militar – foi senador, deputado, escultor, ator e fundador do Teatro Experimental do Negro.

Confira nesse vídeo especial do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

         


Em 2018, ‘O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado’, de Abdias Nascimento, completa 40 anos.

Para denunciar a violência contra a população negra, uma marca persistente da sociedade brasileira, Elisa Larkin Nascimento – viúva de Abdias – relança o livro, escrito a partir de pesquisa apresentada na Nigéria em 1977.

Esse texto, que foi banido do Festival Mundial de Arte e Cultura Negras, na Nigéria, falava da democracia racial como um mito e trazia à tona a constatação da situação de genocídio do negro brasileiro”, contou Elisa, diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros (Ipeafro), ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

Na ocasião, a fala de Abdias, que questionava a ideia de que o Brasil experimentava uma plena e harmoniosa convivência racial, foi substituída pela palestra do professor Fernando A. A. Mourão, que defendia que o Brasil havia resolvido o problema do racismo, vivendo em uma sociedade de “democracia racial”.

Apesar de ter sido proibido de participar como orador, Abdias não se calou. O seu texto foi publicado em inglês e distribuído aos participantes do colóquio.

O livro, que aborda a violência e abusos contra a população negra, bem como o histórico da escravidão dos descendentes de africanos no Brasil, dialoga com a Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), reconhecida pela comunidade internacional como grupo distinto cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos.

Falecido em 2011, aos 97 anos, Abdias deixou um legado de luta contra o racismo na literatura, na política e em muitos aspectos da sociedade brasileira. O ativista – que viveu exilado entre 68 e 81, durante a ditadura militar – foi senador, deputado, escultor, ator e fundador do Teatro Experimental do Negro.

Além da atuação nos palcos, o Teatro Experimental do Negro assumia uma postura política e integrada com as entidades que lutavam pela igualdade.

Toda uma vida dedicada à militância pelos direitos humanos foi lembrada na biografia de Abdias ‘Grandes vultos que honraram o Senado’, escrita por Elisa.

Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo, com estudo sobre a identidade afrodescendente no Brasil, Elisa destaca que a forma como o racismo se estabelece na sociedade brasileira está diretamente relacionada ao passado escravocrata, que restringiu direitos e oprimiu crenças e concepções da população de ascendência africana.

O Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados – cerca de 5 milhões dos 10 milhões que chegaram ao continente americano – durante os cerca de 350 anos de tráfico transatlântico, entre os séculos 16 e 19. O Brasil também foi o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888.

Abdias argumentava que não era apenas a matança, mas a extinção dos valores culturais de um povo. Houve uma política de Estado de repressão às religiões de matrizes africanas, que foram o esteio das expressões culturais. Hoje, temos uma situação caracterizada da continuação desse genocídio, a violência continua tendo motivação racista, carrega o ódio racial e reforça estereótipos ligando a população negra à criminalidade”, lamenta a escritora.

Atualmente, no Brasil, 7 em cada 10 pessoas assassinadas são negras. Em cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado. Para conscientizar sobre a violência contra a juventude negra no país, as Nações Unidas criaram, em 2017, a campanha Vidas Negras.

ONU promove cine-debate sobre legado africano

O Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) organiza no próximo dia 10 de abril, às 18h, no Rio de Janeiro, um cine-debate para sensibilizar a população sobre o legado da diáspora africana e seus desafios atuais. A iniciativa tem o apoio institucional do Centro Cultural da Justiça Federal, onde será realizado o encontro.

O evento marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos, lembrado todo 25 de março.

Será exibido o documentário “Rostos Familiares / Lugares Inesperados: uma diáspora africana global”, da Dra. Sheila Walker, diretora-executiva da Afrodiaspora, seguido de um debate sobre o documentário com pesquisadores e representantes da diáspora africana. (Com informações da ONU).

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Abdias Nascimento


Escritor, artista plástico, teatrólogo, político e poeta, Abdias Nascimento foi um dos maiores ativistas pelos direitos humanos e deixou um legado de lutas pelo povo afrodescendente no Brasil.

Abdias Nascimento participou da Frente Negra Brasileira nos anos 1930 e ajudou a organizar o Congresso Afro-Campineiro em 1938.

Durante viagem a vários países da América do Sul como integrante do grupo de poetas Santa Hermandad Orquídea, resolveu criar um teatro negro como arma de luta contra a discriminação racial.

Na volta ao Brasil, foi preso por resistir a agressões racistas e criou na Penitenciária de Carandiru, em 1941, o Teatro do Sentenciado.

Ao sair da penitenciária, fundou no Rio de Janeiro, em 1944, o Teatro Experimental do Negro, que rompeu a barreira de cor nos palcos brasileiros e formou a primeira geração de atores e atrizes dramáticos negros do teatro brasileiro, além de propiciar a criação de uma literatura dramática afro-brasileira.

Organizou eventos históricos como o 1o Congresso do Negro Brasileiro (1950) e a Convenção Nacional do Negro (1945-46), que propôs à Assembléia Nacional Constituinte de 1945 políticas afirmativas e a definição da discriminação racial como crime de lesa-Pátria.

O Teatro Experimental do Negro assumiu em 1950 o projeto Museu de Arte Negra, sob a curadoria de Abdias Nascimento. O MAN inaugurou sua primeira exposição em 1968 no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Em seguida, Abdias Nascimento viajou aos Estados Unidos num intercâmbio com o movimento negro norte-americano. Encontrava-se na cidade de Nova York quando o regime militar promulgou o Ato Institucional n. 5. Alvo de vários Inquéritos Policial-Militares, Abdias foi obrigado a ficar no exterior, onde foi professor de várias universidades. Nesse período, ele desenvolveu sua própria atuação como artista plástico, pintando telas que transmitem os valores da civilização africana, da cultura religiosa afro-brasileira e da luta pelos direitos humanos dos povos africanos em todo o mundo. Veja abaixo a relação de exposições artísticas de Abdias. Participou, no Caribe, na África e nos Estados Unidos, de vários encontros do movimento internacional pan-africanista. Em 1978, ele recebeu a primeira indicação ao Prêmio Nobel da Paz.

Também durante essa época, Abdias Nascimento desenvolveu seu trabalho próprio como artista plástico, pintando telas que transmitem os valores da civilização africana, da tradição religiosa afro-brasileira e da luta pelos direitos humanos dos povos africanos em todo o mundo.

Após 12 anos no exílio, Abdias Nascimento retornou ao Brasil e participou do processo de redemocratização do país ajudando a fundar o PDT (Partido Democrático Trabalhista) ao lado de Leonel de Moura Brizola. Como deputado federal Abdias Nascimento elaborou, em 1983, a primeira proposta de legislação instituindo políticas públicas afirmativas de igualdade racial. Continuou defendendo essa proposta, no período de 1991 a 1999, como senador e como titular fundador da Seafro (Secretaria de Defesa e Promoção da População Afro-Brasileira) e da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Autor de poesias, peças teatrais, ensaios e pesquisas, ele foi autor e organizador de vários livros e publicações (ver relação abaixo).

Entre suas obras mais expressivas estão Axés do Sangue a da Esperança (orikis) (poesia, 1983); Sortilégio (Mistério Negro) (peça teatral, 1959, nova versão publicada em 1979); O genocídio do negro brasileiro (1978), Quilombismo (1980, 1ª edição).

Abdias Nascimento foi agraciado com honrarias nacionais e internacionais, como por exemplo o Prêmio Mundial Herança Africana do Centro Schomburg para Pesquisa da Cultura Negra, Biblioteca Pública de Nova York (2001); o Prêmio Toussaint Louverture (2004) e o Prêmio Direitos Humanos e Cultura da Paz (1997), ambos da Unesco; e o Prêmio de Direitos Humanos da ONU (2003).

Na ocasião da 2a Conferência Mundial de Intelectuais Africanos e da Diáspora (2006), iniciativa da União Africana e do Governo Brasileiro, Abdias Nascimento recebeu do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a mais alta honraria outorgada pelo Governo do Brasil, a Ordem do Rio Branco no grau de Comendador.

A Câmara dos Vereadores do Município de Salvador outorgou-lhe a cidadania soteropolitana e a Medalha Zumbi dos Palmares em 2007. Ele recebeu homenagem do 4o Festival Internacional de Cinema Negro (São Paulo), bem como o Prêmio Ori da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro pelo conjunto de sua obra literária.

A Universidade Obafemi Awolowo, de Ilé-Ifé, Nigéria, outorgou-lhe, em 2007, o título de Doutor em Letras, Honoris Causa.

O Conselho Nacional de Prevenção da Discriminação, do Governo Federal do México, outorgou a Abdias Nascimento o seu prêmio em reconhecimento à contribuição destacada à prevenção da discriminação racial na América Latina (2008).

O Ministério da Cultura outorgou-lhe a Grã Cruz da Ordem do Mérito Cultural (2007), e em 2009 ele recebeu do Ministério do Trabalho a Grã Cruz da Ordem do Mérito do Trabalho Getúlio Vargas. Ambas são as mais altas honrarias do Governo Federal do Brasil em suas respectivas áreas.

Ainda em 2009, recebeu o Prêmio de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo e o Prêmio de Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.

Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York e Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Brasília, Federal e Estadual da Bahia, do Estado do Rio de Janeiro, e Obafemi Awolowo da Nigéria, Abdias Nascimento foi oficialmente indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, em função de sua defesa dos direitos civis e humanos dos afrodescendentes no Brasil e no mundo. 

Abdias Nascimento faleceu no Rio de Janeiro em 23 de maio de 2011, aos 97 anos. O reconhecimento de sua obra foi expresso pelas inúmeras mensagens de condolências vindas de todas as partes do Brasil e do mundo. Abdias Nascimento expressou em vida o desejo de suas cinzas serem levadas à Serra da Barriga, local histórico da construção da vida em liberdade dos africanos e seus descendentes no Brasil e nas Américas. De acordo com esse desejo, no dia 13 de novembro de 2011 a família e o Ipeafro realizaram cerimônia de enterro das cinzas com a participação de organizações da sociedade civil como o Projeto Raízes de Áfricas, de Maceió, e com apoio oficial dos Governos do Município de União dos Palmares e do Estado de Alagoas, bem como da SEPPIR/PR e da Fundação Cultural Palmares/MinC do Governo Federal.

A família e o Ipeafro realizaram cerimônias do sétimo dia e deum ano do falecimento de Abdias no Cais do Valongo, sítio histórico cuja preservação era reivindicação da sociedade civil no momento de seu falecimento no Hospital dos Servidores, ao lado do local por onde passaram mais de 500 mil ancestrais africanos escravizados. As cerimônias inter-religiosas foram acompanhadas de atos culturais, realizadas no espaço do edifício Docas Dom Pedro II, sede da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria.

Abdias Nascimento recebeu várias homenagens na ocasião de seu falecimento, como o poema “Dias de Kizomba”, de Conceição Evaristo, o texto da escritora e artista plástica Iara Rosa, de Búzios, e o poema do escritor e educador Peter Lownds, incomparável intelectual norte-americano que traduziu ao inglês a primeira versão da peça Sortilégio de Abdias. 

A obra artística de Abdias Nascimento

A cultura africana sempre fundamentou a atuação artística de Abdias, tanto no teatro como na poesia e na pintura. Sua pintura explora e interpreta vários universos simbólicos a partir da matriz primordial do Egito antigo, percorrendo o candomblé, o vodu do Haiti e os ideogramas adinkra da África ocidental. Essas referências se mesclam à evocação de heróis e princípios da luta libertária na África e na diáspora.

Mas a principal referência da pintura de Abdias é a cultura religiosa afro-brasileira: o culto aos orixás. Ao invocar e homenagear as entidades e os valores da cultura religiosa afro-brasileira, sua pintura nos traz uma reflexão atual e profunda sobre princípios como a justiça, a paz, o poder e a guerra. Numa cosmologia que reúne os ancestrais, os vivos, os não nascidos e as forças da natureza, esses valores voltam-se sempre para o futuro. O ambientalismo, por exemplo, é parte viva e integral dessa religiosidade. Os seres da natureza povoam as telas de Abdias numa troca constante: peixes nadando no céu, criaturas aladas em terra e mar, folhas brotando de pernas e asas. Essa convivência em espaços diversos é metáfora da unicidade essencial entre as formas de vida, consignada no princípio de oferenda.Os elementos da natureza estão sempre presentes: água, ar, terra e fogo representam essa filosofia religiosa com sua cosmologia tão especial.

Exposições realizadas

Individuais

Galeria de Arte do Harlem, Nova York, 1969.

Galeria Crypt, Universidade Columbia, Nova York, 1969.

Escola de Arte e Arquitetura, Universidade Yale, New Haven, 1969.

Casa Malcolm X, Universidade Wesleyan, Middletown, CN, 1969.

Galeria de Arte Africana, Washington DC, 1970.

Galeria Sem Paredes, Búfalo, NY, 1970.

Centro de Estudos e Pesquisas Porto-riquenhos, Universidade do Estado de Nova York, Búfalo, 1970.

Departamento de Estudos Afro-Americanos, Harvard, Cambridge, MA, 1972.

Museu da Associação Nacional de Artistas Afro-Americanos, Boston, 1971.

Studio Museum in Harlem, Nova York, 1973.

Centro Langston Hughes, Búfalo, NY, 1973.

Museu de Belas Artes, Syracuse, NY, 1974.

Galeria da Universidade Howard, Washington DC, 1975.

Centro Cultural Inner City, Los Angeles, 1975.

Museu Ilé-Ifé de Cultura Afro-Americana, Filadélfia, 1975.

Galeria do Banco Nacional, São Paulo, Brasil, 1975.

Galeria Morada, Rio de Janeiro, Brasil, 1975.

Museu de Artes e Antiguidades Africanas e Afro-Americanas, Centro para Pensamento Positivo, Búfalo, NY, 1977.

El Taller Boricua e Centro Cultural do Caribe, Nova York, 1980.

Galeria Sérgio Milliet, Fundação Nacional das Artes (FUNARTE), Ministério da Cultura, Rio de Janeiro, Brasil, 1982.

Palácio da Cultura Gustavo Capanema, Ministério da Cultura, Rio de Janeiro, Brasil, 1988.

Salão Negro, Congresso Nacional, Brasília, DF, 1997.

Galeria Debret, Paris, 1998.

Arquivo Nacional (antiga Casa da Moeda), Rio de Janeiro, 2004-2005.

Galeria Athos Bulcão, anexo ao Teatro Nacional, Brasília, DF, 2006.

Caixa Cultural Salvador/ II Conferência Mundial dos Intelectuais Africanos e da Diáspora, 11 de julho a 29 de agosto de 2006.

5ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), Rio de Janeiro, janeiro de 2007.

Centro Cultural Justiça Federal do Rio de Janeiro, outubro a dezembro de 2011.

SESC São João de Meriti, novembro de 2011.

Biblioteca Municipal Leonel de Moura Brizola, Duque de Caxias, novembro-dezembro de 2011.

Casa de Cultura de Maricá, novembro de 2011 a janeiro de 2012.

Centro de Convenções, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos Goytacazes, março a maio de 2012.

Coletivas e Coleções Permanentes

Museu Everson de Artes, Syracuse, NY, 1972.

Galeria Salomé, Nova Orleans, LA, 1973.

Galeria Rainbow Sign, Berkeley, CA, 1975.

Artists ’79, Sede das Nações Unidas, Nova York, 1979.

Coleção permanente, Museu de Artes e Antiguidades Africanas e Afro-Americanas, Centro para Pensamento Positivo, Búfalo, NY (duas telas).

Coleção Permanente, Instituto de Estudos Latino-Americanos, Universidade Columbia, Nova York.

Obras publicadas selecionadas

Livros

O Griot e as Muralhas, com Éle Semog. Rio de Janeiro: Pallas, 2006 (236 pp).

Quilombo: Edição em fac-símile do jornal dirigido por Abdias do Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2003 (127 pp).

O quilombismo, 2a ed. Brasília/ Rio de Janeiro: Fundação Cultural Palmares/ OR Produtor Editor, 2002 (362 pp).

O Brasil na Mira do Pan-Africanismo. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais/ Editora da Universidade Federal da Bahia EDUFBA, 2002 (342 pp).

Orixás: os Deuses Vivos da África/ Orishas: the Living Gods of Africa in Brazil. Rio de Janeiro/ Filadélfia: Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros/Temple University Press, 1995 (170pp).

A Luta Afro-Brasileira no Senado. Brasília: Senado Federal, 1991 (35 pp).

Nova Etapa de uma Antiga Luta. Rio de Janeiro: Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Negras – SEDEPRON, 1991 (32 pp).

Africans in Brazil: a Pan-African Perspective, com Elisa Larkin Nascimento. Trenton: Africa World Press, 1991 (218 pp).

Brazil: Mixture or Massacre, trad. Elisa Larkin Nascimento. Dover: The Majority Press, 1989 (224 pp.

Combate ao Racismo, 6 vols. Brasília: Câmara dos Deputados, 1983-86 (Discursos e projetos de lei.) (Aproximadamente 120 pp. em cada volume.)

Povo Negro: A Sucessão e a “Nova República”. Rio de Janeiro: Ipeafro, 1985 (68 pp).

Jornada Negro-Libertária. Rio de Janeiro: Ipeafro, 1984 (29 pp).

A Abolição em Questão, co-autoria com José Genoíno e Ari Kffuri. Sessão Comemorativa do 96o Aniversário da Lei Áurea (9 de maio de 1984). Brasília: Câmara dos Deputados, 1984 (40 pp).

Axés do Sangue e da Esperança: Orikis. Rio de Janeiro: Achiamé e RioArte, 1983 (poesia, 109 pp).

Sitiado em Lagos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981 (111 pp).

O Quilombismo. Petrópolis: Vozes, 1980 (281 pp).

Sortilégio II: Mistério Negro de Zumbi Redivivo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. (Peça de teatro, 141 pp)

Sortilege: Black Mystery, trad. Peter Lownds. Chicago: Third World Press, 1978 (55 pp).

Mixture or Massacre, trad. Elisa Larkin Nascimento. Búfalo: Afrodiaspora, 1979 (224 pp).

O Genocídio do Negro Brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978 (184 pp).

“Racial Democracy” in Brazil: Myth or Reality, trad. Elisa Larkin Nascimento, 2a ed. Ibadan: Sketch Publishers, 1977 (178 pp).

“Racial Democracy” in Brazil: Myth or Reality, trad. Elisa Larkin Nascimento, 1a ed. Ile-Ife: University of Ife, 1976 (83 pp).

Sortilégio (mistério negro). Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro, 1959 (141 pp) (peça de teatro.)

Organização de antologias, revistas, e obras coletivas

Thoth:Pensamento dos Povos Africanos e Afrodescendentes, nos. 1-6. Brasília: Senado Federal, 1997-98.

Afrodiaspora: Revista do Mundo Africano, nos. 1-7. Rio de Janeiro: IPEAFRO, 1983-86.

O Negro Revoltado, 2a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982 (403 pp).

Journal of Black Studies, ano 11, no. 2 (dezembro de 1980) (número especial sobre o Brasil) (264 pp).

Memórias do Exílio, org. em colaboração com Paulo Freire e Nelson Werneck Sodré. Lisboa: Arcádia, 1976 (372 pp).

Oitenta Anos de Abolição. Rio de Janeiro: Cadernos Brasileiros, 1968 (127 pp).

Teatro Experimental do Negro: Testemunhos. Rio de Janeiro: GRD, 1966 (170 pp).

Dramas para Negros e Prólogo para Brancos. Rio de Janeiro: TEN, 1961 (419 pp).

Relações de Raça no Brasil. Rio de Janeiro: Quilombo, 1950 (75 pp).

Participação em antologias e obras coletivas

“Quilombismo, um conceito emergente do processo histórico-cultural da população afro-brasileira”. In: Elisa Larkin Nascimento (org.), Afrocentricidade, Uma abordagem epistemológica inovadora, Coleção Sankofa v. 4. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2004, p. 197-218.

“O negro e o parlamento brasileiro”, co-autoria com Elisa Larkin Nascimento. In Munanga, Kabengele, org., O negro na história do Brasil. Brasília: UnB/ Fundação Cultural Palmares, 2004, p. 105-151.

“Comentário ao Artigo 4o”. In Direitos Humanos: Conquistas e Desafios. Brasília: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil/ Comissão Nacional de Direitos Humanos, 1998, p. 55-64.

“Quilombismo: the African-Brazilian Road to Socialism,”in Asante, Molefi K. e Abarry, Abu S., orgs., African Intellectual Heritage: a Book of Sources. Filadélfia: Temple University Press, 1996, p.755-64.

Sortilege: Black Mystery, trad. Peter Lownds (peça de teatro). Callaloo, A Journal of African-American and African Arts and Letters, v. 18, n. 4 (1995), p. . Special Issue, African Brazilian Literature. Johns Hopkins University Press.

Sortilege II: Zumbi Returns (peça de teatro).In: Crosswinds: an Anthology of African Diaspora Drama, org. William B. Branch. Bloomington: Indiana University Press, 1991, p. 203-49.

“Quilombismo: the African-Brazilian Road to Socialism.”In: African Culture. The Rhythms of Unity, org. Molefi K. Asante e Kariamu W. Asante. Trenton: Africa World Press, 1990, p. 174-91. (Primeira edição publicada em 1987 pela Greenwood Press.)

 “African Presence in Brazilian Art,”Journal of African Civilizations, v. 3, n. 2 (novembro de 1981), p. 49-68.

“Teatro Negro del Brasil: una Experiencia Socio-Racial.”In: Popular Theater for Social Change in Latin America, a Bilingual Anthology, org. Gerardo Luzuriaga. Los Angeles: UCLA Latin American Studies Center, 1978, p. 251-80.

“Reflections of an Afro-Brazilian,”Journal of Negro History, v. LXIV, n. 3 (verão 1979).

“African Culture in Brazilian Art,” Journal of Black Studies, v. 8, n. 4 (junho de 1978), p. 389-422.

“Afro-Brazilian Theater, a Conspicuous Absence,”Afriscope v. VII, n. 1 (Lagos, janeiro de 1977).

“Afro-Brazilian Art: a Liberating Spirit,”Black Art: an International Quarterly, v. I, n. 1 (outono de 1976).

“Open Letter to the First World Festival of Negro Arts,”Présence Africaine v. XXX, n. 58 (verão de 1968), p. 208-18.

“Carta Aberta ao Festival Mundial das Artes Negras,” Tempo Brasileiro, ano IV, n. 9/10 (abril-junho de 1966).

“The Negro Theater in Brazil,”African Forum v. II, n. 4 (primavera de 1967).

“Mission of the Brazilian Negro Experimental Theater,”The Crisis v. 56, n. 9 (outubro de 1949).