Não há como conviver mais 2 anos com um governo genocida", diz Frei Betto


(FOTO/ Rodrigo Buendia/ AFP)
Frei Beto. (FOTO/ Rodrigo Buendia/ AFP).


Crescimento exponencial da fome, altos índices de desemprego, precarização do trabalho e mais de 74 mil vidas perdidas em meio à pandemia do coronavírus. Esses são alguns elementos da realidade brasileira que, na opinião de Frei Betto, renomado escritor e frade dominicano, explicitam uma “política de morte” protagonizada pelo governo de Jair Bolsonaro.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Frei Betto analisa o atual contexto político e socioeconômico do Brasil, agravado pela crise sanitária em decorrência da covid-19.

Todas as medidas de proteção da vida dos mais pobres estão sendo totalmente desmontadas em uma política intencional de genocídio. Isso exemplificado nessa semana, quando o presidente veta o dispositivo da lei de precauções sanitárias, que previa a doação de máscaras para pessoas presas”, afirma o escritor, citando Cuba e Vietnã como países que adotaram as medidas de precaução necessárias para proteger a população.

Aqui não. Aqui, realmente, o governo é cúmplice do genocídio e dessa mortandade”, endossa o autor O diabo na corte - Leitura crítica do Brasil atual, publicado pela Cortez Editora.

O cenário tende a se agravar. Segundo documento da Oxfam divulgado na semana passada, até 12 mil pessoas podem morrer por fome diariamente, até o final de 2020, devido às consequências da pandemia. Ao lado da Índia e da África do Sul, a organização aponta o Brasil como um provável epicentro da fome no mundo.

Dados do relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2020, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU), registram que, em 2019, 43,1 milhões de brasileiros enfrentaram a insegurança alimentar severa e moderada.

Para  Frei Betto, que é assessor da FAO para soberania alimentar e educação nutricional, o fato de milhões de brasileiros estarem à beira da fome é resultado do desmonte das políticas e dos mecanismos de proteção social que tiraram o Brasil do Mapa da Fome.

É óbvio que os que nos levou a alcançar essa marca foi a falta de uma política de segurança alimentar do ‘governo Bolsonero’, considerando o genocídio que se produz nesse país, especialmente em cima do surto do novo coronavírus”. O termo Bolsonero é uma referência ao imperador romano que entrou para a história por ter mandado incendiar Roma.

É muito difícil que o Brasil continue fora do Mapa da Fome. Nós estamos em uma situação séria. A única solução hoje, como tem sido adotada agora na pandemia, é a mobilização social. Isso tem que ser intensificado. Como dizia Betinho, a fome tem pressa”, defende o assessor da FAO.

Ele é enfático ao defender o que deve ser feito para impedir o avanço das políticas do governo: “No momento que a pandemia cessar, vamos para rua. Não tem outro jeito. Vamos ocupar as ruas como já tinha começado no início da pandemia, para manifestar a nossa insatisfação e tentar mudar esse quadro político. Não há como pensar na possibilidade de conviver mais dois anos e meio com um governo genocida.”

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Publicado originalmente no Brasil de Fato.

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