Não dá para ser representante do povo e não fazer um discurso de enfrentamento ao racismo, diz professor Nicolau Neto


Josyanne Gomes e Nicolau Neto falam sobre vidas negras importam.
(FOTO/ Reprodução/ Instagram).


Texto: Nicolau Neto

Na noite desta sábado, 13, internautas acompanharam de forma descontraída, mas com muita seriedade, um live com a professora e colunista do Blog Negro Nicolau, Josyanne Gomes, com a temática “Vidas Negras Importam: Mas Para Quem”?.

A live ocorreu no perfil da professora no Intagram, o @flordocariri, que iniciou destacando a importância de se discutir a temática e que ela, enquanto professora, tem e vem pautando sempre questões que envolvem o racismo e as consequências dele resultante. Afirmou, outrossim, que a conversa virtual de hoje foi inspirada na conjuntura política atual do país, onde predomina um aumento de discursos de aversão as populações negras, principalmente propagada pelo representante maior da nação, o Bolsonaro.

Como convidado o professor, blogueiro, colunistas do site Intelectual Orgânico, integrante da Academia de Letras do Brasil/Secccional Araripe e do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), Nicolau Neto.  

Nicolau começou explicando o movimento “Vidas Negras Importam” no Brasil inspirados em protestos recentes contra o racimo nos Estados Unidos motivados pela morte de George Floyd, homem negro, por um policial branco. Disse que essa morte que teve como pano de fundo o racismo e que de forma constante vem sendo veiculado pela mídia brasileira acabou por permitir que parte da sociedade brasileira despertasse para esse problema que está acostumada a não discutir e inclusive a tratar como natural.

Segundo Nicolau, nós temos que saber que estamos disputando diariamente uma narrativa e enfrentando discursos propagado por uma elite política e econômica branca que tentam a todo custo deslegitimar todas as conquistas da comunidade negra deste país e ao mesmo tempo descaracterizar ações dos movimentos negros, de professores, professoras e demais pessoas engajadas na luta por uma sociedade com equidade racial e citou como exemplos recentes o presidente da república, Jair Bolsonaro e o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo. Este último, inclusive, pontuou Nicolau, classificou o movimento negro de “escória”.

Josyanne, por sua vez, citou um caso que reforça a fala de Nicolau. Ela lembrou de um movimento que surgiu nas redes sociais onde internautas alteravam as fotos dos perfis com frases “Professor Antirracista”, “Psicóloga Antirracista”, “Historiador Antirracista”, “Antropóloga Antirracista”... e que recebeu mensagem de um homem branco afirmando que aquilo era modinha. Josyanne afirmou ainda que são essas as formas de tentar deslegitimar uma causa extremamente necessária.

Nicolau endossou o exemplo da professora Josyanne e destacou que infelizmente as vidas negras continuam a importam a um grupo restrito, a luta contra o racismo ainda não conseguiu envolver todos. A esmagadora maioria das pessoas que não são negras continuam a naturalizar o genocídio negro, continuam a banalizar os dados estatísticos que demonstram que as desigualdades raciais no Brasil se expressa de forma violenta e muitas vezes pela falta de políticas públicas de segurança pública, educacional e de saúde. São essas pessoas que acabam não considerando que mulheres e homens negros são as maiores vítimas de homicídio e lembrou que a taxa de homicídio entre as mulheres negras foi 71% superior as não negras.

Para Nicolau, não precisa ir tão longe para apontar a falta de envolvimento e de empatia das pessoas que não se consideram negras nessas discussões. E citou Altaneira e outros municípios vizinhos onde isso fica evidente. As discussões sobre racismo, por exemplo, fica restrito a quatro pessoas, no máximo. E fez um alerta para aqueles e aquelas que desejam concorrer a cargos políticos eletivos este ano. Para ele, não dá para querer ser representante do povo e não fazer um discurso de enfrentamento ao racismo, não para querer ser representante do povo e não apresentar um plano de combate ao racismo.

A live durou 1 (uma) hora e teve vária participações com comentários elucidativos e que engradeceram a conversa. Alguns até sugeriam que Nicolau se candidatasse. “Nicolau, tem uns aqui querendo que você se candidate que lhe darão apoio”, disse Josyanne Gomes.

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