O que a História têm a nos ensinar em tempos de crise? , por Josyanne Gomes


A antropólogo e professora Josyanne Gomes é colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).


Muitas vezes aquilo que nos motiva a escrever não pode ser considerada uma motivação de fato. De modo, que me vejo instigada a falar de um assunto que não é propriamente uma fonte de motivação para mim, ao contrário – falar de Covid-19 não me parece um convite muito atrativo. Enfim, antes de mais nada, quero deixar claro que não se trata aqui de um texto cientificamente rigoroso, portanto não esperem “a luz no fim do túnel”. Sim, acredito que a luz vem da ciência e não de simpatias milagrosas.

Para começo de conversa, é comum que a gente veja nas redes sociais pessoas dizerem que “nunca se viu uma crise como essa”, uma vizinha minha que conta com mais de 60 anos, me disse que isso “só pode ser coisa do demônio” afinal, segundo ela “até as igrejas pararam”. Outros cheios de si endossam a tese de que “essa é a pior doença de todos os tempos e atravessamos a maior crise que já existiu”, como se o fato de viver um fato histórico anulasse todos os outros já existentes.

Quero fazer um convite para os leitores e leitoras daqui, e nem precisa sair de onde estão. Vamos conhecer um pouco de história? Primeiro, é preciso que nós entendamos o que é epidemia, certo?! Então, keep calm and let’s go guys.

Grandes epidemias e doenças sempre marcaram a história humana. Subitamente, diferentes sociedades, ao longo do tempo, foram colocadas sob situação de pânico e estresse quando uma doença desconhecida (ou até mesmo conhecida, mas que não havia cura) manifestou-se e levou milhares à morte. No verão de 430 a.C., Atenas, na Grécia, foi abalada pelo surgimento de uma doença misteriosa e desconhecida. Essa doença espalhou-se pelo território em um surto epidêmico e ficou conhecida como Praga de Atenas.

Durante a Idade Média, também aconteceram epidemias e pandemias, e a Peste Negra é um dos casos mais conhecidos. Essa pandemia aconteceu em um surto que se estendeu de 1347 a 1353, e resultou na morte de até 50 milhões de pessoas. O termo Peste Negra foi dado para um surto de peste bubônica, que se iniciou na Ásia Central e espalhou-se pela Europa e África.

A Gripe Espanhola foi uma pandemia que aconteceu, por conta de uma mutação do vírus Influenza, entre 1918 e 1919. Os historiadores não sabem o local exato do surgimento dessa doença, e as principais teorias falam que ela surgiu na China ou nos Estados Unidos.

A disseminação da Gripe Espanhola tem relação com a Primeira Guerra Mundial, pois o conflito facilitou que o vírus se espalhasse pelo mundo pela grande quantidade de soldados deslocados em diferentes lugares. A doença recebeu esse nome porque o primeiro país a noticiá-la foi a Espanha, pois, como ela não estava na guerra, sua imprensa era livre para dar as notícias. Assim, o mundo ficou sabendo da doença pela imprensa espanhola. As autoridades tomaram medidas de prevenção e de combate à disseminação da doença baseadas no isolamento social, com fechamento de escolas, comércios e etc. Pelo visto, não é a primeira vez que escolas, igrejas e comércios são fechados não é mesmo?

Aqui no Brasil, por exemplo, o número de mortos confirmados pela gripe espanhola foi de 35 mil pessoas, e os Estados Unidos, um dos prováveis locais de surgimento da doença, registraram cerca de 675 mil mortos. Ao todo, morreram, pelo menos, 50 milhões de pessoas no mundo, das quais, cerca de 20 milhões estavam na Índia.

A AIDS também foi considerada uma pandemia, por conta da escala de sua propagação, não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo. Só na década de 1980, foram identificados nesse país cerca de 160 mil casos, entre 1981 e 1990, e, só em 1995, cerca de 50 mil pessoas morreram lá por conta dela. O primeiro caso de AIDS no Brasil foi registrado em São Paulo, em 1982, e, até então, 900 mil brasileiros foram infectados. 

Agora chegamos ao assunto da vez CORONAVÍRUS ou a COVID-19, é uma doença causada por um vírus da família dos coronavírus e provoca sintomas como febre, tosse e dificuldade respiratória. Os primeiros casos da doença surgiram no final do ano de 2019, na China. No primeiro semestre de 2020, a doença já havia atingindo todos os continentes, sendo classificada como uma pandemia.  

Como a história bem nos mostra essa não é a maior epidemia de todos os tempos, não é a maior crise que já enfrentamos, como humanidade. Outras tantas pragas acometeram o mundo em outros períodos históricos. Talvez, falamos que essa é a pior epidemia de todos os tempos, porque basta pegarmos os dados demográficos e veremos que o mundo registra a maior população atualmente. Então consequentemente mais pessoas tendem a sofrer de doenças acometidas por inúmeras causas. Não podemos nos esquecer dos sinais que a história nos dá.

Primeiro sinal: tudo passa, mas é necessário que se viva o momento para depois compreender de fato a dimensão e proporção que as coisas podem tomar.

Segundo sinal: no meio do processo, fica difícil enxergar a saída, por isso, agora mais do que nunca é preciso investimentos na ciência e confiar nos profissionais da saúde e não nas fake News.

Terceiro sinal: nós gostamos de respostas óbvias e prontas, por isso nos desesperamos tanto quando precisamos pensar e esperar respostas da ciência. Esses sinais são formulações minhas e não precisam concordar com eles, okay?!

Para quem já estudou sabe que resultados demoram, sabemos também que nenhuma pesquisa é feita na base da fé, é necessário dinheiro, dedicação, credibilidade e tempo. Mais muito tempo mesmo! Nesse momento vemos surgir fórmulas mágicas de uma possível cura, receitas prontas de como se combater o vírus e preces milagrosas que espantam qualquer doença.

Gente acreditar em profecias, gurus, simpatias e coisas do gênero é como acreditar no Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, essas coisas não passam de mero imaginário que só iludem e cegam a gente. Não é momento de acreditar em clorofila, nem em alho ou cebola, nem em poções mágicas, nem em eventos sobrenaturais ou seitas religiosas que tudo resolvem rapidamente e sem dor.

E antes que alguém venha aqui me chamar de agnóstica, ateia ou coisa do tipo, quero dizer que em nada abalaram minha espiritualidade e fé!
Como professora tenho o dever de pensar criticamente e tentar produzir algo, no mínimo, livre de pedantismo e demagogias. Sou polêmica por expor o que penso? Acredito que se ser fiel a si mesma é ser taxada ou rotulada como polêmica, pois bem, meu compromisso não é com jargões. Se isso responder vocês e provocar a dúvida me dou por satisfeita.

Quero que a gente pense que todas essas pandemias citadas acima, extraídas de sites escolares, ainda estão entre nós. E sabe por que ninguém fala tanto sobre elas como antes? Sabe por que também já não morremos tanto de Rubéola, Varíola, HIV, Gripes e todas essas doenças ameaçadoras? Porque ao longo do tempo, a ciência se encarregou de desenvolver vacinas e medicamentos para amenizar e quiçá extinguir essas doenças.

Francis Bacon, lá no século XVI já nos dizia que saber é poder! E é por isso que agora mais do que antes, a gente precisa pesquisar, se informar, estudar e acreditar que vamos sair dessa e melhor, confiar no poder da ciência para que a gente conviva amistosamente com essa pandemia e, ainda assim retornemos a nossa dita normalidade.  

Vamos ficar em casa! Vamos aproveitar esse tempo para ler bastante, fazer o que a gente gosta e se empoderar! É isso meus caros leitores do Blog Negro Nicolau, vamos acreditar em dias melhores, mas sem perder nosso senso crítico e autonomia do pensamento. Para isso, acessem os artigos, posts e tudo o mais que existe neste portal, acessem também outros canais que tem compromisso com a educação e formação de qualidade, e vamos que vamos! Desejos de uma boa quarentena, da Flor do Cariri.    
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Josyanne Gomes é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Regional do Cariri (URCA), mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), professora e colunista do Blog Negro Nicolau.

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