A destruição da cultura e o silêncio estarrecedor de instituições culturais


A destruição da cultura e o silêncio estarrecedor de instituições culturais. (FOTO/ Divulgação).


Texto: Nicolau Neto

Quer acabar com a resistência e o poder de organização e criticidade de um povo"?, "destrua a educação e a cultura". A frase que escolhi para falar sobre a prática de destruição de tudo o que é ligado à cultura no país foi dita pelo filósofo e professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (URCA), Carlos Alberto Tolovi, durante um bate-papo político comigo no programa Esperança do Sertão da Rádio Comunitária Altaneira FM (2016).

O desmonte da cultura, a bem verdade, não começou com Bolsoanro (sem partido), mas está sendo aprofundada com ele. A extinção da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) não foi no (des)governo Bolsoanro, mas as consequências danosas a população negra estão sendo ampliadas com ele. Basta ver o que ocorre com a Fundação Palmares, onde o novo presidente nega a existência do racismo no Brasil, contrariando a História. 

De Michel Temer que assumiu a presidência a partir de um golpe jurídico-parlamentar-midiático a Jair Bolsonaro a escalada de perca de direitos, principalmente da população mais vulnerável desse pais - negros, mulheres (negras sobretudo), lgbts, indígenas -, só tem crescido. A violência física e psicológica tem aparecido com mais frequência e aqueles/as que as praticam fazem questão de demonstrá-la. O Brasil dos últimos três anos piorou consideravelmente pois quem mais deveria ser e dar exemplo de criação de políticas públicas para a construção da equidade, faz justamente o contrário. Se viram representado/a nele. E, portanto, se o representante do executivo federal e seus ministros praticam, eles também podem. Essa é a música que vem sendo tocada no Brasil.

A intenção do governo federal é acabar com a participação social e com o poder de organização e mobilização social e para isso tenta destruir tudo que contribui para a análise crítica da sociedade, para o fortalecimento da identidade e da liberdade. Foi assim com a extinção do Ministério da Cultura (MinC) em 2016 e agora rebaixado a condição de secretaria. Mas só rebaixar não é o suficiente, é preciso também proibir filmes e demais formas de manifestação artísticas que promovam discussões sobre homofobia e machismo, por exemplo. 

Não se pode esquecer que a cultura é símbolo do processo de redemocratização do pais, pois ganhou status de ministério em 1985.

A aversão desse governo a população negra salta aos olhos. Nenhum negro ou negra para os ministérios. Mas só a falta de representatividade não basta, é preciso de igual modo, alimentar ainda mais o preconceito, a discriminação e o racismo. Quem não se lembra quando em 2017 durante uma palestra no Clube Hebraica no Rio de Janeiro, Bolsonaro proferiu a frase “fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem para procriador ele serve mais”, ou “que seus filhos não ’correm risco’ de namorar negras ou virar gays porque foram ’muito bem educados’’”, ainda em 2011 e já no cargo de presidente quando disse que um deputado negro por demorar a nascer “deu uma queimadinha”?

O que elenquei aqui é apenas uma parte da política da segregação, mas o pouco citado só vem a reforçar a política elitista, racista e machista desse governo.  Em um outro momento falarei da educação. 

Mas volto a frase em que comecei esse texto. “Quer acabar com a resistência e o poder de organização e criticidade de um povo"?, "destrua a educação e a cultura”. Certamente está sendo válida para algumas entidades culturais. Não fiz um levantamento de quantas temos na região do cariri cearense, mas é possível perceber a omissão de grande parte dela que em nenhum momento teceu crítica a essa barbárie que o pais está vivendo. O fato de ter votado em alguém não impede de se posicionar contra ações danosas a sociedade. Muito pelo contrário. É salutar para a democracia. Mas o que estou testemunhando é um silêncio estarrecedor. Algumas ações individuais e pontuais vem acontecendo, mas não o suficiente. 

Que os movimentos negro, indígena, LGBT e de mulheres não se deixem contaminar por esse doentio silêncio. E que a residência continue sendo aflorada.

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