Taxa de jovens negros no ensino superior avança, mas ainda é metade da taxa dos brancos


Taxas de jovens negros no ensino superior avança, mas ainda é metade da taxa
dos brancos. (FOTO/Reprodução/Blog Gonzaga Patriota).


Dados da Síntese de Indicadores Sociais 2019 do IBGE divulgados nesta quarta mostram que a Lei Federal de Cotas acabou contemplando mais brancos de baixa renda e escola pública do que os negros, diz especialista da Educafro.


Em 2018, 25,2% dos jovens brasileiros com entre 18 e 24 anos estavam cursando ou já haviam concluído o ensino superior, mas o recorte racial mostra que, considerando apenas a taxa de matrículas de jovens brancos, essa porcentagem salta para 36,1%. Já olhando apenas para os jovens negros (pretos ou pardos), o índice cai pela metade: 18,3%. Os dados foram divulgados na manhã deste quarta-feira (6) na Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE).

O histórico dos últimos três anos mostra que a porcentagem de jovens estudando na universidade avançou nos dois grupos raciais, mas a discrepância entre eles aumentou ligeiramente – de 16,2 para 17,8 pontos percentuais (compare no gráfico abaixo):

Em 2018, taxa de jovens branco cursando ou com diploma do ensino superior ainda era o dobro da dos jovens pretos ou pardos (FOTO/Ana Carolina Moreno/G1).

O estudo divulgado nesta quarta afirma que 11% dos jovens de 18 a 24 ainda estavam cursando o ensino básico em 2018. Isso representa 2,5 milhões de pessoas, sendo que 83,2% delas estavam matriculadas no ensino médio, e 16,8% ainda cursavam o ensino fundamental.

"A maioria (63,8%) não frequentava escola e não possuía ensino superior completo, sendo que 36,9% desse grupo abandonou a escola sem concluir o ensino médio e 16,1% não havia concluído nem o ensino fundamental", ressaltou o IBGE.

Impaco da Lei Federal de Cotas

A "persistência" da desigualdade racial entre brancos e negros no ensino superior é um dos indicativos de que a Lei Federal de Cotas, aprovada em 2012 pelo Congresso Nacional, contém "erro de mensuração", explicou ao G1 Frei David Santos, fundador da ONG Educafro.

"Para passar a cota para negros tivemos que aceitar a cota para a rede pública. E, no Brasil, quem termina prioritariamente o ensino médio são os brancos. Entre os pobres, quem termina prioritariamente o ensino médio são os brancos." – Frei David Santos (Educafro)

Segundo ele, quando o Congresso Nacional decretou a cota para aluno da rede pública, "acabou dando grande força para brancos pobres, perpetuando a desigualdade entre brancos e negros". O especialista ressalta ainda que "essa diferença está persistindo em não querer baixar, houve um erro na mensuração da política pública".

Os dados do IBGE, que incluem informações sobre taxas de acesso desde a educação infantil até o ensino superior, mostram que, de fato, os adolescentes de 15 a 17 anos brancos apresentam taxas de abandono e reprovação escolar mais baixas que os pretos ou pardos.

Já considerando as faixas de renda, o resultado é ainda mais desigual na comparação entre o quinto da população com os menores rendimentos, e o lado oposto da balança – os 20% com maiores rendimentos. Nesse último grupo, apenas 1,4% dos adolescentes estavam fora da escola sem concluir o ensino médio.


Desigualdade durante gerações

O estudo do IBGE ressaltou a persistente "dívida educacional histórica brasileira", e destacou que, nas últimas décadas, a ampliação do acesso à educação aconteceu de forma diferente segundo os grupos raciais brasileiros, e privilegiando a população branca.

Um exemplo disso é o fato de que a proporção de pessoas entre 18 e 29 anos com pelo menos 12 anos de estudo é maior entre brancos do que considerando os pretos ou pardos. Na comparação dos últimos três anos, porém, esse índice tem avançado mais rapidamente entre os negros.

Em 2018, 42,2% dos analfabetos brasileiros tinham pelo menos 65 anos de idade, apesar de essa faixa etária representar apenas 13,3% da população. Segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais no Brasil caiu de 7,2% em 2016 para 6,8% no ano passado.

Mas os dados desagregados por grupos raciais continuam mostrando a desigualdade entre brancos e negros no país.

Frei David, da Educafro, concorda que "o Brasil deve muito" à população negra. "Não houve uma política pública em massa para os idosos analfabetos. Com isso, os adultos estão chegado à fase idosa sem superar esse obstáculo."

Segundo ele, mais grave ainda é que, depois de não dar oportunidade, o Brasil ainda "pune" seus idosos sem ensino. "O idoso anfalbeto é também o principal grupo desempregado. É uma punição. É uma nação contra esse povo, que fez o possível para vencer, mas não teve a oportunidade."
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Com informações do CEERT e do G1.

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