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Professor Nicolau Neto por ocasião do discurso de posse na Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe. (FOTO/Beto Ribeiro). |
Discurso de posse do professor Nicolau
Neto na Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe - Ceará (ALB/Araripe –
Ceará)
12/10/19
Excelentíssima
Srª. presidenta desta Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe acadêmica
Antônia Lucia Nunes de Alencar Almeida;
Excelentíssimo
Sr. vice-presidente professor, escritor e acadêmico Raimundo Sandro Cidrão;
Ilustríssima
Sr. ex-presidente poeta, escritor e acadêmico Francisco Adriano de Sousa;
Ilustríssimo
Srªs. companheiras de academia que nesta manhã tomam posse junto comigo Fátima
Amorim e Socorro Venâncio;
Ilustríssimas
Srªs acadêmicas e Ilustríssimos Srs. acadêmicos que hoje nos prestigiam e nos
honram com suas valiosas presenças;
Ilustríssima
Srª Valéria Rodrigues, minha amiga, companheira, cúmplice e fiel esposa que
sempre está comigo em todos os momentos;
Prezados
amigos, amigas e familiares das acadêmicas e dos acadêmicos;
Meus
amigos, amigas, familiares meus e do meu patrono João Zuba que por motivos de
força maior não puderam comparecer a este grandioso evento.
As
minhas palavras iniciais são de gratidão. Gratidão por ter tido a oportunidade de
fazer parte desta academia que, apesar do pouco tempo de atividade já tem dado
sinais de que veio para ficar e tem desenvolvido um trabalho impar e de referência
na microrregião do cariri oeste do Estado do Ceará em que pese a cultura.
Espero sinceramente que nossa relação possa ser baseada na parceria. Espero,
outrossim, que essa relação tenha como pilares o respeito, a lealdade, a
politização, o exercício da cidadania, o reconhecimento e a valorização das mais
variadas manifestações e expressões culturais que tão bem simboliza nosso país
e, de forma particular, nosso estado e região. Sem isso, nosso convívio não
vingará.
Confesso
que fiquei feliz quando recebi mensagem do amigo de infância e até então
presidente da Seccional Araripe, Adriano, comunicando que um edital estaria
aberto com a finalidade de receber inscrição de pessoas interessadas em integrar
o quadro da academia. Em junho do ano passado encaminhei currículo e uma carta
intenção declarando meu interesse em candidatar-me a uma cadeira. Ressaltei que
a vaga era do meu interesse visto que os objetivos da instituição estavam
diretamente relacionados com a minha área de atuação – graduado com licenciatura
plena em História -, e que tão logo ingressasse na academia iria colaborar
escrevendo e registrando fatos de interesse e de relevância social. A pesar dos
contratempos, de uma rotina de trabalho desgastante – manhã, tarde e noite –
além de uma esposa e uma filha para dar carinho e atenção, hoje estou dando os
primeiros passos para cumprir o que me propus.
Dirijo-me
de forma especial a todos aqueles e a todas aquelas que já foram empossadas, as
que hoje tomam posse comigo e os que ainda irão ser empossados e empossadas.
Sei o quanto este momento é importante para cada um (a), como também o é para
seus familiares e parentes dos/as patronos/as a quem quero externar o meu
respeito e gratidão pelo companheirismo, respeito e pelas informações que deram
no decorrer dessa caminhada inicial dos estudos e pesquisas. Vocês mais do que
ninguém sabe que escrever não é tarefa fácil. É prazerosa, mas nada fácil. De
igual modo, sabem que o trabalho apresentado aqui é uma realidade, mas não se
configura como a chegada, o ponto final. É verdade que não deixa de ser um
grande passo, mas os estudos, as pesquisas estão só estão começando. Aliás, a
contribuição de cada integrante da ALB vai muito além da pesquisa, é preciso
estar atendo a isso.
Meus
queridos e minhas queridas, há um mundo para além dos muros da escola, da
universidade e do poder constituído. Mas a forma com que encaramos a vida lá
fora depende da educação e da cultura. A vida vai fazer com que assumamos responsabilidades
e procurar caminhos que podem nos levar ao sucesso ou ao fracasso e que podem
abrir as portas para o conhecimento que levarão ou não ao crescimento pessoal e
profissional. Vai depender de que tipo de escolha vocês farão. Vai depender
também que leitura vocês escolherão fazer da realidade. Mario Quintana disse
uma vez que "os verdadeiros
analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem". No nosso modelo
de sociedade tem muitos (as) doutores (as) por formação, mas analfabetos em
posicionamentos diante da realidade. Passaram anos e anos entre quatro paredes
na companhia de professores/as, obtiveram títulos e mais títulos, mas são
incapazes de utilizá-los em benefício da coletividade e da transformação da
realidade para melhor. O comodismo e a obediência cega ao sistema os impedem
disso. Doutores, doutoras e pós doutores/as com diversos livros publicados, mas
poucos são os que se dedicam escrever para libertar. As escritas muitas vezes
são para atender ao sistema, ao mercado financeiro.
É o
meu desejo que nós sejamos (as) letrados (as) que leem, interpretam e que sejamos
capazes de transformar o ambiente em que vivemos com respeito pelo outro. Com
empatia. Peço licença para citar alguns trechos de um discurso que fiz há dois
anos e que acredito ser oportuno para reforçar o que estou querendo dizer.
Rubem Alves - psicanalista, educador, teólogo, escritor e ex-pastor presbiteriano
brasileiro, tem um texto brilhante e que sem prejuízos de interpretação e
compreensão substitui a palavra “escola” por “academia”:
“Há academias que são gaiolas e há academias que são asas.
Academias que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.
Academias que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. ”
Diante
disso, desejo que essa academia possa ser assas e que cada um de nós sejamos
pássaros. Que nosso voo seja em direção ao caminho que nos levem a ações de
fomento à cultura. Que possamos em cada espaço que estivermos estabelecer
parcerias com o poder público no sentido de criar políticas públicas de
valorização da cultura. De igual modo, que sejamos capazes de na ausência dessa
parceria ou da inoperância do poder público, continuarmos com o papel de
agentes culturais.
Por
fim, mais não menos importante, afirmo que ocupar esta cadeira da Academia é
mais do que buscar um reconhecimento pelo que cotidianamente luto e externo
também em forma de textos. A ALB/Araripe é uma entidade que visa congregar e
difundir a literatura e a cultura brasileira e, de forma particular, a da nossa
região e eu, como pessoa negra escritor buscarei também aqui representar vários
escritores e escritoras negras, assim como aqueles e aquelas que foram
invisibilizados/as no meio cultural, pois estou convencido de que esse é, assim
como outros, um espaço a ser ocupado.
As
academias que lidam com educação, com cultura e com as políticas sociais são
lugares que devem estar representados por grupos que compõem a maioria deste
país, mas por razões conhecidas - o racismo institucional é um deles - acabam
por serem minorias nesses espaços.
Iniciei
agradecendo e concluo também com o sentimento de gratidão pelo carinho de todos
e todas da Academia de Letras do Brasil/Seccional Regional Araripe que me
honraram com seu voto, possibilitando, desta forma, que eu ascendesse a esta
renomada Casa para nela ocupar a cadeira de número 33 e defender a cultura
popular do mestre João Zuba.
Desejo
uma ótima cerimônia. Uma ótima manhã. E muito, muito sucesso.
JOSÉ
NICOLAU DA SILVA NETO
Professor/Historiador
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