Abraham Weintraub deve seguir a tendência de promover, no MEC, a 'guerra cultural bolsonarista' ou a 'guerra cultural olavista'. (FOTO/ Rafael Carvalho/Divulgação Casa Civil). |
O
novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, é executivo do mercado
financeiro, com mais de 20 anos de experiência, tendo atuado como sócio na
Quest Investimentos. Foi diretor estatutário do banco Votorantim, presidente da
Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities no Estados Unidos e
na Inglaterra, além de ter sido economista chefe por mais de 10 anos.
Ocupou assento no comitê de Trading da
BM&F Bovespa, na Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de
Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord) e no Comitê de
Macroeconomia da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro
(Andima). Representou o banco Votorantim nos encontros do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB).
Mestre em Administração na área de
Finanças pela Faculdade Getúlio Vargas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), até
ontem era um auxiliar do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que integrou a
equipe de transição. Hoje (8), foi nomeado por Jair Bolsonaro (PSL) em
substituição ao professor de Filosofia colombiano desconhecido no meio
acadêmico Ricardo Vélez Rodríguez, demitido nesta segunda-feira após um período
de fritura.
Conforme seu currículo na plataforma
Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), o novo comandante do Ministério da Educação (MEC) é autor de três artigos
completos em periódicos. Um sobre o retorno da inflação, outro sobre reforma da
Previdência e o terceiro sobre indústria de fundos mútuos e fundo de
previdência privada. Entre 2007 e 2010 assinou artigos em jornais e revistas,
sobre inflação e investimentos.
De 2013 a 2016 apresentou cinco
trabalhos em conferências sobre previdência e gestão de recursos. Em 2014
ingressou como professor na área de Ciências Contábeis na Universidade Federal
de São Paulo, campus de Osasco. De 2015
a 2016 organizou três eventos sobre mercado de Previdência e mercado
financeiro. É orientador de um trabalho de conclusão de curso de graduação,
cujo tema é desempenho dos fundos de previdência privada em renda fixa.
Não há no currículo de Weintraub
formação ou experiência em gestão de políticas educacionais. O que ele entende
de educação é o que aprendeu com o guru Olavo de Carvalho. Defende que
militantes de direita devem adaptar as teorias olavistas para vencer os embates
teóricos com os militantes de esquerda. Principalmente no âmbito das
universidades.
Vencer
o marxismo
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo,
ao participar de um painel sobre economia da Cúpula Conservadora das Américas,
em Foz do Iguaçu, em 8 de dezembro, Weintraub afirmou que é "preciso
vencer o marxismo cultural nas universidades" e trabalhar para que o país
pare "de fazer bobagem" para se chegar a uma situação ideal. E
afirmou também que é preciso vencer o comunismo e evitar outras ameaças, como
ataques islâmicos, para que o Brasil seja um dos países mais pacíficos do
mundo.
"Dá para ganhar deles. É Olavo de
Carvalho adaptado", disse Weintraub na ocasião. "E como ganhamos
deles? Não sendo chatos. Temos que ganhar com humor e inteligência",
completou, para depois fazer uma explanação histórica sobre questões
econômicas, mas centradas no discurso no combate ao pensamento de esquerda.
Discurso
de ódio
Como tem sido regra no MEC, o novo
comandante da pasta não entende nada de educação. Só de provocações, do
discurso do ódio e de perseguição à esquerda.
Para o coordenador geral da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, Weintraub é um homem dividido.
“Está entre a educação recebida de Olavo de Carvalho, que o indica para Jair
Bolsonaro, e ao mesmo tempo entre o compromisso que tem com o grupo do Paulo
Guedes e o ultraliberalismo defendido pelo mercado financeiro”, disse.
A tendência do Ministério da Educação,
segundo ele, é continuar paralisado. Isso porque o novo ministro vai querer
conciliar a relação que tem com o ministro da Economia Paulo Guedes e também
com Olavo de Carvalho.
"Sempre quem chancela o ministro é
o Olavo. A minha impressão é que ele (Weintraub) vai optar por trabalhar por
menos investimento em educação, paralisando transferências do governo federal
para estados e municípios para ajudar a financiar a educação básica. E também
travar a expansão da democratização do ensino superior, que já foi travada por
Michel Temer e que tende a ser mais radicalmente inviabilizada por
Bolsonaro", disse Daniel Cara.
Submisso à pauta de Paulo Guedes, o MEC
deverá ser favorável à desvinculação de recursos, o que é contrário aos
interesses da Educação, e trabalhar
contra a renovação do Fundeb, o fundo de financiamento da educação básica que
garante substancialmente as 40 milhões de matrículas públicas no ensino
infantil, fundamental e médio.
"Além do constrangimento
econômico, o novo ministro vai seguir a tendência de promover no MEC a guerra
cultural bolsonarista ou a guerra cultural olavista. Esse é o futuro que eu
vejo para o ministério da educação, um futuro trágico, porque a área precisa na
verdade de se realizar, de valorizar os professores, discutir sobre a
infraestrutura das escolas, fortalecer a gestão democrática, aquilo que está
posto na Constituição Federal. E que nunca infelizmente saiu do papel".
Daniel Cara acredita também que o
ministro vai travar uma pauta fundamental: a implementação do Plano Nacional de
Educação (PNE), aprovado inclusive por Bolsonaro quando deputado federal.
Ressalvados alguns destaques, o PNE foi aprovado por unanimidade.
O PNE determina diretrizes, metas e
estratégias para a política educacional no período de 2014 a 2024. Mas ainda
não saiu do papel. (Com informações da RBA).
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