Condenado a esperança



Não é fácil conviver. Não é simples conviver. Ou melhor, simples é. Nós é que acabamos por complicar o que parece fácil e simples.

Complicamos quando colocamos interesses particulares acima do coletivo; quando achamos que a nossa religião é a verdadeira e as dos outros não; Que o meu deus salva e o do outro não; Quando isolo ou expulso o outro ou a outra de um determinado lugar – mesmo que esse lugar seja o que convencionou-se chamar de “sagrado” – só porque ele ou ela não crê em deus; complicamos ainda quando só o meu partido político pode fazer uma boa administração e outro irá apenas se beneficiar e esquecer os interesses sociais;

Complicamos mais quando achamos que só os homens podem ocupar cargos políticos e que as mulheres devem apenas acompanha-los em cerimônias; quando pensamos e agimos de tal modo que somente homens e mulheres brancas é que devem ocupar os mais variados espaços de poder – exercendo, por exemplo, as funções de secretários/as municipal de educação, cultura, assistência social, saúde, infraestrutura, agricultura, meio ambiente; diretor/a e coordenador/a de escolas; complicamos também quando deixamos perpetuar o racismo, a homofobia e o machismo no ambiente político partidário, pois se olharmos bem não há hoje no legislativo municipal nenhum negro e nenhum homossexual, pelo menos que tenha se declarado.

Conviver acaba por se tornar difícil e complicado quando quem mais poderia ajudar a superar as desigualdades sociais são os que fazem de tudo para que ela permaneça, pois sem ela não há como se manter nos mais variados cargos políticos. Ter uma infinidade de pessoas passando necessidades em casa, tendo que vender a janta para almoçar no dia seguinte se torna um prato cheio para os políticos de carreira, pois é a sua garantia da volta ao poder, ou permanecer nele. Irônico, não é?

Nos entristece quando vemos e ouvimos que temos que trabalhar por amor e que qualquer tentativa que frustre esse delirante pensamento é tachado como um ato de rebeldia extrema e que o simples fato de lutar por melhores condições de trabalho pode ser visto como um fato político partidário aos olhos de quem está no poder. Entre o trabalhar por e com amor há uma distância considerável. Nos deixa enojado quando uma causa que é de todos, acaba não sendo abraçada por todos. Nenhum espaço de trabalho pode ser visto como um templo religioso e nenhum trabalhador pode se deixar confundir com um sacerdote, embora a realidade nos mostre que muitos se tornam um.

Infelizmente essa é a realidade, onde a regra do jogo é pré-estabelecida e a grande maioria não tem a audácia de muda-la.

Mas há espaços para a esperança? Esperança de um mundo onde o princípio constitucional estabelecido em seu Art. 5º que diz “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...” seja respeitado? É possível manter a esperança em uma país onde os direitos que custaram mais caro ao povo como a direito de escolher seus próprios representantes não está sendo levado em conta por simples apego ao poder? Devemos nos manter esperançosos em um pais onde a cor da pele ainda define que lugar ocuparemos na sociedade? Podemos ter esperança onde a religião ainda reina absoluta condenando quem possui orientação sexual divergente da que elas acreditam ser a correta? Há espaços em nossas mentes para nos manter esperançosos onde números valem muito mais que pessoas, principalmente na educação?

Sim. É possível um mundo melhor. É necessário que mantemos as esperanças vivas e bem vivas. As poucas luzes no fim do túnel acenam que o caminho é a educação. Quando vemos jovens alunos tanto do ensino básico quanto do superior ocupando escolas e universidade e se juntando aos poucos professores em luta, enquanto que outros que deveriam estar em luta, mas não estão, acreditamos que a situação ainda pode ser revertida. A esperança se mantém quando testemunhamos alunos fazendo o que muitos professores e professoras não fazem – lutar por um espaço de estudo melhor para si para seus mestres, além de questionar as estruturas políticas de seus municípios.


Enfim, cá estou condenado a esperança!!!



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