Uma
grande parte dos rituais realizados pelos diversos grupos indígenas do Brasil
pode ser classificada como ritos de passagem. Os ritos de passagem são as
cerimônias que marcam a mudança de um indivíduo ou de um grupo de uma situação
social para outra. Como exemplo, podemos citar aqueles relacionados à mudança
das estações, aos ritos de iniciação, aos ritos matrimoniais, aos funerais e
outros, como a gestação e o nascimento.
Entre
os Tupinambá – grupo indígena extinto que habitava a maior parte da faixa litorânea
que ia da foz do rio Amazonas à ilha de Cananéia, no litoral paulista-, quando
nascia uma criança do sexo masculino, o pai levantava-se do chão e cortava-lhe
o umbigo com os dentes. A seguir, a criança era banhada no rio, após o que o
pai lhe achatava o nariz com o polegar. Em seguida, a criança era colocada numa
pequena rede, onde eram amarradas unhas de onça ou de uma determinada ave de
rapina. Colocavam-se, ainda, penas da cauda e das asas dessa ave e, também, um
pequeno arco e algumas flechas, para que a criança se tornasse valente e
disposta a guerrear com os inimigos.
O
pai, durante três dias, não comia carne, peixe ou sal, alimentando-se apenas de
certo tipo de farinha. Não fazia, também, nenhum trabalho até que o umbigo da
criança caísse, para que ele, a mãe e a criança não tivessem cólicas. Três
vezes por dia punha os pés no ventre da esposa. Nesses dias, o pai fazia
pequenas arapucas e nelas fazia a tipóia de carregar a criança; tomava, também,
o pequeno arco e as flechas e atirava sobre a tipóia, pescando-a depois com o
anzol, como se fosse um peixe. Assim, no futuro, a criança caçaria ou pescaria.
Quando o umbigo caía, o pai partia-o em pedacinhos e pregava-os em todos os
pilares da oca, a fim de que o filho fosse, no futuro, um bom chefe de família.
O pai também colocava aos pés da criança um molho de palha, que simbolizava os
inimigos. Quando todas essas práticas tinham sido realizadas, a aldeia por
inteiro se entregava às comemorações. Nesses dias, era escolhido um nome para o
recém-nascido.
Através
desse rito de incorporação, o pai assumia a paternidade e se reconhecia ao
recém-nascido, um lugar na sociedade Tupinambá, como homem ou mulher.
Cabe
destacar que nesses rituais ligados à gestação e ao nascimento não só a
criança, como também seus pais, eram submetidos ao ritual de passagem. O
reconhecimento da gravidez da mulher punha o pai e a mãe num estado de cuidados
especiais, separando-os, de certo modo, pela maneira de se comportar, dos
demais habitantes da aldeia. Ficavam, assim, segregados até que a criança
nascesse e os ritos de sua incorporação fossem realizados, momento em que eles
eram reintegrados à vida normal, desempenhando um novo papel social: pai e mãe
de um novo membro da sociedade.
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