Novembro
é considerado o mês da Consciência Negra, por conta do dia de hoje (20 de
novembro). Nesse período, vemos muitas homenagens para Zumbi dos Palmares que
foi líder do quilombo de Palmares e um guerreiro contra a escravidão no período
colonial. Concordo que Zumbi seja uma importante figura histórica, mas e as
mulheres negras como Dandara, Tereza, Luisa e Aqualtune? Elas também lutaram e
resistiram bravamente, na liderança dos quilombos e nas comunidades de luta
contra a escravidão e o racismo. Mesmo com toda essa luta, ainda assim só os
homens são lembrados. Essas mulheres também precisam ter seus nomes, histórias
e lutas expostos.
Mas
enquanto essas mulheres tão notáveis e com tamanha importância raramente
recebem o devido reconhecimento, as mulheres negras, atualmente, também
encontram dificuldade para conseguirem qualquer reconhecimento nas mais
diversas áreas da sociedade.
Vemos
muita divisão até na luta das mulheres por igualdade. Como pode?
Uma
das mais fortes reivindicações das mulheres brancas é o mercado de trabalho ou
o combate aos estereótipos que representam as mulheres como o sexo frágil.
Enquanto isso, as mulheres negras enfrentam há tempos a luta contra a
escravidão moderna, uma cópia mais "light" do que era imposto até o
século XIX. Muitas mulheres brancas, patroas, acabam com a moral das suas
empregadas ou babás que, em sua maioria, são negras. Quando não as veem como
rival, pois mulheres negras ainda são vistas como objeto sexual por alguns
patrões, herança da cultura escravista do país, em que os "senhores"
estupravam as escravas.
Vemos
tudo isso ser representado nas novelas. Raramente vemos novelas em que não se
tenham empregadas negras, ou que se tenham protagonistas negras. Só me lembro
da Tais Araújo, única, na minha geração.
Nós,
mulheres, devemos nos unir, juntar forças para vencermos.
Os
diversos índices e pesquisas sociais no Brasil mostram, frequentemente, evidências de que as mulheres
negras vivenciam os níveis mais altos de violência e violação de direitos. A
desigualdade salarial entre homens e mulheres, quando analisada sob a
perspectiva racial, se torna também uma desigualdade salarial entre mulheres
brancas e negras. As mulheres negras estão entre a maioria das vítimas de
feminicídio (perseguição e morte intencional de pessoas do sexo feminino,
classificado como um crime hediondo, no Brasil.). Quando o tema é a ilegalidade
do aborto, as consequências da clandestinidade também são mais pesadas para as
mulheres negras por serem maioria pobre na estatística de classe social e que,
por isso, não têm as mesmas oportunidades que as mulheres brancas de
interromper a gestação em outro país ou em clínicas particulares.
Gente,
de que adianta Consciência Negra se não temos um combate contra o machismo em
paralelo?
Pra
realmente surtir efeito, não ser mais uma data em que são feitas homenagens,
falsas promessas e declarações, além de feriados em muitas cidades e da
pergunta típica: "feriado de que mesmo?", é preciso realizar
reflexões, fazer um resgate histórico, analisar as consequências da escravidão
e como os negros e as negras estão vivendo hoje no país.
Não
tem como existir luta por igualdade de gênero sem combater o racismo. Assim
como não há luta antirracista sem a luta por igualdade de gênero. A intersecção
das lutas contra as opressões é necessária. Por isso, o feminismo negro é
necessário.
As
pessoas devem entender que mulheres negras não têm escolha sobre a
possibilidade de sofrerem um ou outro tipo de discriminação; ambas as
violências se repetem de maneira interligada, em moldes direcionados
exclusivamente e especificamente às mulheres negras.
Ainda
hoje, há muitas diferenças entre as questões das mulheres brancas e negras. De
maneira similar, por mais que estejam unidos na luta contra o racismo, há
certos tipos de violência que os homens negros não enfrentam. Infelizmente,
tanto nos movimentos de mulheres quanto nos movimentos negros, as mulheres
negras ainda lutam para que suas necessidades sejam ouvidas e representadas. À
exemplo das guerreiras negras na história do Brasil, nem sempre a dedicação à
luta é o suficiente para que as nossas demandas sejam atendidas ou
contempladas.
Encerro
esse texto citando um poema com autoria de Zuleika dos Reis:
SER NEGRA - Homenagem ao Dia da
Consciência Negra
Negra é a mulher que tem sido minha
irmã, que nos ajuda, há muito, a mim e a minha mãe, a segurar as barras do
cotidiano insalubre.
Negra é a pele que me vai por dentro,
herança dos meus ancestrais.
Negro é o blues que me invade, com
todas as suas línguas feitas de saudade e de desterro.
Negras são certas saudades: volúpia,
sofrimento.
Negra é a linda canção que cantava a
filha daquele que foi meu homem, canção que ela aprendeu de sua avó.
Negra é a negra noite, quando se
sonham os sonhos mais profundos.
Negro de belezas é o silêncio dos
amantes plenos um do outro.
Negra sou eu quando deixo que acordem
em mim todas as áfricas.
Negra é a África, berço do mundo.
Felizes dos que se alegram, dos que
se orgulham pelo negro, pela negra que todos carregamos por fora, por dentro;
negritude que nos amplia, que nos ensina, que nos ultrapassa, que fere os
nossos limites, para que possamos prosseguir.
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