Para
a classe alta, está bem difícil achar empregadas e babás como antes. É comum
ouvir, por exemplo, “Agora, elas querem
até estudar, acredita?”. Uma pesquisa divulgada, em 2013, pelo IBGE
nacional mostra que o número de trabalhadoras domésticas que estão na faculdade
cresceu 10% nos últimos três anos (2013, 2012 e 2011). E, o salário delas
também subiu 8% em 12 meses, segundo a mesma pesquisa. Mas, as trabalhadoras
que começaram a trabalhar com carteira assinada caíram de 6,5% para 5,9%.
Desde
que o mundo é mundo, as casas grandes tinham a casa dos escravos, lá fora. E,
alguns, os mais apresentáveis, moravam no casarão. Poucos anos se passaram e as
construções ganhavam um cômodo chamado: quarto da empregada. E desde então, são
tratadas “como se fossem da família.
Comem na mesa e tudo”.
Com
o tempo, as empregadas foram ganhando conhecimento e vontade de estudar, voltar
para casa todos os dias, ter suas coisas, comer o que gosta e não mais dormir
no trabalho. Mas isso muitas vezes não foi bem aceito, já que “meus filhos gostam tanto de você, como vou
fazer se não dormir mais aqui? Eles já se acostumaram com você. Não vai poder
mais viajar com a gente?”.
Uma
bábá de alto padrão há 12 anos, que não quis se identificar, tem 35 anos, é
nordestina, negra, solteira, sem filhos. Segundo ela, sempre foi muito bem
tratada. Cuidava desde recém-nascidos, ou seja, noites em claro, cuidar das
cólicas e mamadeiras (peitos de plástico) de duas em duas horas. “A mãe dorme a noite inteira até os filhos
chegarem a idade de ir pra escola, quando a babá será dispensada e a mãe
voltará a acordar durante a noite para cuidar das crianças”, revela.
Como
tem um trabalho excelente, a indicação foi passando de boca em boca, ganhando
assim reconhecimento. Mas essa babá resolveu ir embora pra sua terra e morar
perto da família e estudar. Montou uma loja pequena para viver. Mas isso não
durou muito, três anos.
As
propostas dos amigos dos patrões começaram a aparecer, e cada vez mais altas.
Até que ela resolveu largar tudo e voltar para São Paulo. Disseram que era por
pouco tempo, até a criança crescer e ir pra a escola, no máximo três ou quatro
anos.
Na
casa dos novos patrões são duas crianças, uma de 7 e outra de 3. Antes ela
cuidava somente do pequeno, mas gostam tanto dela que acaba cuidado dos dois.
Dispensaram a outra babá. Isso tudo conta com dormir no “aconchegante” quarto
da empregada, viajar quase todos os finais de semana, ir para fora do Brasil,
pelo menos, três vezes ao ano. Ter folgas quinzenais para voltar para a própria
casa.
Mas
o prazo de três ou quatro anos já passou e agora, ela quer estudar. E para
isso, é preciso voltar a dormir em casa todos os dias para se dedicar aos
estudos. Porém isso caiu no ouvido como uma pequena traição. “Poxa, não tem como você esperar mais um
pouco? A criança precisa crescer mais um pouquinho. Você não quer tirar sua
carteira de motorista primeiro? Lembro que tinha falado isso há um tempo”,
dizia a patroa.
“Agora lá no serviço está uma guerra, por que
quero voltar a estudar e minha patroa quer que eu tire a carteira de motorista
primeiro. Mas eu nem tenho carro ainda. Ela quer que eu aproveite porque ela vai
pagar tudo. Mandou eu procurar uma autoescola perto. Eu disse que depois que eu
tirar, preciso estudar”, esse foi o acordo.
Mas
não pense que parou por aí, a irmã da patroa está grávida e quer contratá-la. “As duas estão brigando muito e ainda na
minha frente. Elas ficam fazendo joguinhos do tipo: Olha, se vier trabalhar
comigo eu deixo você estudar, voltar para casa todos os dias. Enquanto a outra:
mas eu aumento seu salário e ainda vou pagar sua carteira de motorista”.
Em
meio a isso, a babá sem saber o que fazer, fica em uma situação difícil. “Fico perdida diante das propostas. Quero
logo voltar pra casa todos os dias, estudar. Não quero que elas briguem na
minha frente, e ainda cada hora com uma proposta diferente. Elas acabam ficando
de cara feia pra mim e me chamando de canto. Vamos ver que horas isso vai
acabar”.
E
assim é uma das histórias que se repetem com várias outras babás por esse
Brasil, que é o país com mais trabalhadores domésticos no mundo. Segundo estudo
da Organização Internacional do Trabalho (OIT), são 7,2 milhões de brasileiros
na categoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!