Não
há como lavar as mãos e terceirizar os próximos quatro anos da nação brasileira
ao acaso. Ou pior, aos impulsos irracionais dos mercados. É vital a
participação de todas as forças da sociedade na definição das linhas de
passagem que devem ordenar o curso seguinte da história brasileira. As urnas de
outubro são um pedaço da caminhada. Conscientes do peso histórico do que será
decidido no próximo dia 26, um grupo de intelectuais e artistas brasileiros
decidiu emprestar o seu nome, a sua voz e a sua coerência histórica para
amplificar o alerta ao risco condensado no júbilo dos mercados com o
credenciamento da agenda conservadora na disputa deste segundo turno.
Esse
alerta tomou a forma de um abaixo assinado de apoio à reeleição da Presidenta
Dilma Rousseff, que começou a circular nas últimas horas em todo o país. O que
o impulsionava é evidência de que, em nome da mudança, articula-se na verdade a
restauração do projeto que vigorou no país nos anos 90, com as sabidas
consequências econômicas e sociais. Vulgarizadores do credo neoliberal celebram
as multidões de junho de 2013 com um endosso à qualquer mudança. Tomam a nuvem
por Juno e por isso trombam no essencial: o que anda para frente não se
confunde com o cortejo empenhado em ir para trás. O que o Brasil reclama não
cabe no programa regressivo que se apresenta às urnas como modernizante. O
Brasil quer mudar porque o país que emergiu na última década de governos
progressistas não cabe mais nos limites do atual sistema político. A resposta é
mais democracia. Mas os que apregoam a mudança demonizam a simples menção a uma
Constituinte para tratar da mãe de todas as mudanças: a reforma política.
Milhões de homens e mulheres que ascenderam na pirâmide de renda desde 2003
querem mais, porque ainda não encontram acolhida bastante na infraestrutura
secularmente planejada para 30% da população. A resposta é mais investimento
público; melhor planejamento urbano; maior presença do Estado na coordenação do
esforço de inversões público e privadas. Mas o conservadorismo quer dobrar a
aposta no arrocho fiscal, na lata dos juros, no desmonte do regime de partilha
do pré-sal, no fim da exigência industrializante de conteúdo nacional nas
compras da Petrobrás. Os brasileiros querem mais mudanças porque não tem
expressão no esquizofrênico ambiente de um sistema de comunicação que exacerba
e distorce a natureza dos desafios brasileiros, ao mesmo tempo em que interdita
o debate e veta as respostas progressistas a eles. A opção é a regulação
democrática do sistema de comunicação, para que se torne mais ecumênico e
plural. Tudo o que eles qualificam como autoritário e intervencionista’. Não
por acaso se desdenha do voto dos que precisam de fato o Brasil mude. Quem? Os
14 milhões de lares beneficiados pelo Bolsa Família, por exemplo. O expurgo dos
pobres da cabine eleitoral, é uma velha aspiração conservadora. Foi só em 1988,
com a Constituinte Cidadã, que o Brasil universalizou o direito ao voto. Um
fundamento democrático e republicano ainda hoje mal digerido por aqueles que
sonegam ao voto do nordestino ‘mal informado’ a mesma qualidade e peso que tem
o voto do eleitor do Sudeste do país. O Brasil tem razões adicionais para não
aceitar que a regressão fale em seu nome. A desigualdade entre nós ainda frita
alto em qualquer competição mundial. Mas
entre 2003 e 2001, o crescimento da renda dos 2-5 mais pobres superou o dos BRICs, exceto a China. (Fonte: IPEA) O
Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico dos últimos cinco
anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população, graças às
políticas públicas deliberadamente voltadas aos mais pobres. (Fonte:
consultoria Boston Consulting Group, que comparou indicadores de 150 países). A
narrativa conservadora sempre desdenhou da dinâmica estruturante embutida nesse
degelo social. Ou isso, ou aquilo. Ou se reconhece os novos aceleradores do
desenvolvimento ou o alarde dos seus gargalos é descabido. A verdade é que
ambos são reais. O malabarismo rebaixa e infantiliza o debate das escolhas que
devem aprofundar a mutação em curso no país. Contra isso se levanta o abaixo
assinado lançado nas últimas horas ao qual já aderiram nomes como os de
Marilena Chauí, Luiz Gonzaga Belluzzo, Raduan Nassar, Luiz Carlos
Bresser-Pereira, Antônio Cândido, João Manuel Cardoso de Mello, entre dezenas
de artistas, professores e intelectuais de diferentes áreas. Une-os um mesmo
propósito: o de liberar o debate eleitoral de 2014 do sequestro conservador. E
o futuro do país também. Por isso declaram seu apoio à reeleição de Dilma
Rousseff.
Com
Carta Maior e Entrefatos
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!