Reproduzimos
abaixo excelente artigo de Nirlando Beirão, intitulado Criticar o governo, sim.
O capitalismo, nunca, publicado nesta segunda-feira, 05, no site Carta Capital.
Ao
discorrer sobre o assunto tão divulgado e, muitas vezes mal interpretado pela
mídia golpista, da qual a rede Globo é a líder, Nirlando chama a atenção para a
hipocrisia desses veículos de comunicação que se utilizaram dos movimentos para
bater no governo Dilma, mas sem levar em conta os reais objetivos da questão.
O
artigo em questão nos faz reportar ao que disse Joseph Pullitzer: “Com o tempo,
uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão
vil como ela mesma”.
Passemos ao texto
Criticar
o governo, sim. O capitalismo, nunca
Dá
para notar que os protestos de rua estão perdendo a mística, o encanto, para
quem está do lado de lá deles – digo, a mídia oligárquica e, por extensão,
aquela facção ameba, mais influenciável, da chamada opinião pública. Mais do
que perder o fascínio, as manifestações começam a provocar descrença e
irritação, como se a explosão espontânea e legítima das massas estivesse sendo
agora apropriada por uns grupelhos descabelados de radicais e arruaceiros.
Não
tenho mais idade para me regozijar com cenas de depredação, mas me irrita a
hipocrisia dos que aplaudiam antes e agora criticam. Tenho até um pequeno,
descompromissado palpite, a respeito desse divórcio que se deu entre o momento
em que o protesto era uma beleza e o momento em que o protesto passou a ser um
horror. Nada melhor, aliás, para balizar essa reviravolta, do que a cobertura,
sempre tão isenta, sempre tão imparcial, do jornalismo eletromagnético da Globo
e a dos dinossauros de papel.
Meu
palpite me diz: enquanto a raiva se voltava contra o governo e os governantes,
“essa infâmia de políticos corruptos”, “a dona Dilma”, “a turma do mensalão”,
aí o partido da mídia se deliciava. As multidões ululantes vociferavam,
justificadamente, contra a péssima qualidade dos serviços públicos, primeiro os
transportes, depois a saúde, e a educação, e a segurança, e tudo o mais, se é
por aí, ok, perfeito, abaixo os podres poderes, o Estado é o mal maior.
De
repente, a agenda parece ter se ampliado. Se é para discutir a indigente
situação dos serviços públicos no Brasil, por que não se ocupar tambêm da
sofrível – para dizer o mínimo – prestação de serviços privados?
Existe
tão grande diferença assim entre o malfalado SUS e certos hospitais
particulares onde o paciente é obrigado a pagar fortunas?
As
universidades particulares, com suas mensalidades que pesam uma tonelada no
bolso, são exemplos da excelência pedagógica de Harvard e de Cambridge?
E
os serviços de telefonia, fixa e móvel?
E
as filas dos bancos, aquilo lá é um exemplo de respeito ao cidadão?
E
as companhias aéreas, com seu sistemático desrespeito ao viajante, sem falar
dos golpezinhos que costumam dar em seus sites de contravenção?
Penso
na indústria nacional, obsoleta, atrasada, sem nenhuma musculatura física ou
criatividade mental para competir no mundo, indústria cujos produtos são um
lixo (ressalvo os aviões da Embraer e as sandálias havaianas), incapaz de
inovar tecnologicamente (que inveja da Coreia!), sempre queixosa, abúlica,
pondo da culpa nos impostos e na infraestrutura.
Ah,
e há o espinho que mais dói. Os rebeldes da rua – os que ainda estão aí –
insistem em debater também a péssima qualidade da informação que se produz e se
veicula no Brasil. Por isso as emblemáticas manifestações à porta da Globo, por
isso a saudável insistência em desconfiar do viés partidário e, mais uma vez,
eleitoreiro dos veículos que dizem falar em nome do povo.
Nesse
Brasil de frases feitas e ideias curtas, o culpado é, tem de ser, sempre o
governo e os políticos, mesmo que eles sejam eleitos por nós e mesmo sabendo-se
que sem política não há democracia.
A
mídia oligárquica nunca foi muito chegada à democracia. Menos ainda ao povo. A
tarefa dela, agora, é tentar dizer que há povo e povo. Aquele que manifesta com
as ideias das quais a gente gosta deve ser respeitado. Aquele de quem a gente
discorda não passa de um bando de vândalos.
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