A criação da república não logrou benefícios à massa popular

O significado da Proclamação da República na poesia de Murilo Mendes

Ao se analisar a passagem do regime monárquico para o republicano, percebe-se que o fim do governo de Dom Pedro II não gerou mudanças profundas na sociedade do período. Para se consolidar no poder, vemos que os construtores da República optaram por estabelecer algumas práticas que demonstraram certo processo de enrijecimento em relação ao antigo governo monárquico.

Taispráticas são entendíveis, embora deva ser analisada com senso crítico que a próprio sentido do novo regime político exige.  Não se pretende fazer aqui uma análise dos motivos que ensejaram essa mudança (apenas de chefes), mas perceber o que essa troca de comandantes não trouxe para a classe sustentadora do país.

Em primeiro lugar, importa justificar o sentido de que as práticas podem ser perfeitamente entendíveis.  O golpe militar ocorrido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de membros do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Toda via, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação política e não contou com intensa participação popular. Ora, o próprio ministro Aristides Lobo, nomeado no governo provisório, deu sinais de como foi construída o regime republicano que não fugiu as regras dos outros modelos, ou seja, o povo tendo o papel de agente da passiva, como um circo onde exercem o papel de espectadores. O povo assistiu a tudo bestializado.  O historiador José Murilo de Carvalho consegue remontar na obra Os Bestializados todo o cenário brasileiro frisando a não participação popular.



Dialogando um pouco com a literatura pode-se mencionar neste embate a contribuição do poeta modernista Murilo Mendes. Com um poema provocador e desvelador do período em estudo intitulado “Quinze de Novembro”, esse escritor discute uma visão histórico – literária do período.  Assim, ele diz:

“Deodoro todo nos trinques
Bate na porta de Dão Pedro Segundo.
“- Seu imperadô, dê o fora
que nós queremos tomar conta desta bugiganga.
Mande vir os músicos.”
O imperador bocejando responde
“Pois não meus filhos não se vexem
me deixem calçar as chinelas
podem entrar à vontade:
só peço que não me bulam nas obras completas de Victor Hugo.”

A partir dos versos percebe-se a ausência da participação popular, sem falar de certa proximidade entre o imperador e Marechal Deodoro da Fonseca, o que leva ao ponto da não diferenciação dos dois regimes, onde a república não logrou benefícios para a massa popular, além se ecoar o sentido de como se era visto e tratada as instituições brasileira, algo a ser passado de mão em mão sem uma percepção de que era por ela que se poderia atender os anseios populares. 

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