Religião, carisma e poder: As formas da vida religiosa no Brasil



Em 2012 serão realizados diversos eventos em comemoração aos quatrocentos anos de fundação da cidade de São Luís. Foi pensando em data tão importante para o estado que os membros da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR) empenharam-se em trazer para a Universidade Federal do Maranhão o XIII Simpósio de História das Religiões. Será uma oportunidade impar para refletir sobre quatro séculos de religiões no Maranhão e no Brasil. A universidade franqueará aos pesquisadores de todo país a oportunidade de apresentar seus trabalhos sobre diferentes manifestações religiosas entre nós.

No que tange as muitas manifestações religiosas, o Maranhão ocupa posição privilegiada. A história da Igreja Católica é mais conhecida. Sabemos que a Diocese de São Luís foi criada em 1677. Para cá vieram missionários de diversas congregações, entre as quais a Companhia de Jesus, à qual pertencia o famoso padre Antônio Vieira, que passou vários anos pregando no Maranhão. Vieram também missionários capuchinhos, franciscanos, mercedários, carmelitas e outros, que catequizavam os indígenas visando a modificação de seus costumes. Os missionários achavam que os índios não tinham Deus, nem lei, nem rei e procuravam lhes impor costumes e normas do cristianismo, lutando também para que não fossem escravizados.

A inquisição atuou no Maranhão através dos visitadores como frei Cristóvão de Lisboa, que era naturalista e deixou importante estudo sobre plantas e animais do Maranhão. Uma das últimas vítimas do Tribunal do Santo Ofício foi o Padre Malagrida, italiano que fundou colégios no Maranhão e Pará, foi condenado como herege e queimado em Lisboa em 1761. A inquisição perseguia principalmente os judeus e os acusados de práticas consideradas pecaminosas aos olhos da Igreja Católica. O simpósio possibilitará aos pesquisadores amplo debate e importante revisão da história do catolicismo no Brasil e no Maranhão, observando suas continuidades, rupturas e especificidades.

As religiões evangélicas começaram a se difundir no Brasil após a independência e com a proclamação da República. No fim do Império vieram missionários estrangeiros que assistiam aos fiéis que vinham do exterior. Aos poucos as igrejas evangélicas foram se expandindo e ainda no século XIX, o maranhense Miguel Vieira Ferreira fundou no Rio de Janeiro, em 1879, a Igreja Evangélica Brasileira. Atualmente o pentecostalismo se expande enormemente por todo o país competindo inclusive a hegemonia da Igreja Católica. No Maranhão não é diferente e importantes pesquisadores debaterão suas teses e suas pesquisas sobre tão importante segmento religioso.

Desde fins do século XIX há referência nos jornais à entrada de livros de Alan Kardeck em São Luís. Embora o tema venha sendo menos estudado, acreditamos que os primeiros centros espíritas do Maranhão foram abertos em inícios do século XX. O espiritismo, como as religiões evangélicas, embora destinados a todos, atingiam inicialmente a populações letradas enquanto a maioria dos analfabetos, praticava o catolicismo popular organizando festas ou realizavam outras práticas.

As religiões dos negros e dos indígenas só mais recentemente começaram a ser conhecidas, apesar da existência em São Luis de terreiros de Tambor de Mina organizados desde a primeira metade do século XIX. Até bem pouco eram consideradas como crendices, superstições e perseguidas pelo catolicismo e pela polícia. Grande parte da cultura religiosa e outras tradições dos indígenas foi apagada pela catequese, mas muitos vestígios destas práticas continuam sobretudo nas terapias populares.

Muitas tradições religiosas e culturais dos afro-descendentes permanecem vivas no Brasil e no Maranhão e ultimamente têm sido melhor conhecidas. O tambor de mina, a pajelança e outras tradições de origens africanas e ameríndias são hoje estudadas por diversos pesquisadores.

O Concilio Vaticano II convocado em 1962 pelo Papa João XXIII, representou uma atualização da Igreja Católica ao mundo moderno. Este evento teve suma importância na renovação da comunidade católica mundial e modificou a caminhada da mesma no Brasil. Dentre suas determinações destacam-se a legitimação do papel dos leigos na evangelização em áreas de difícil acesso e a substituição do latim pela língua vernácula tornaram a Igreja mais próxima do povo e mais atenta aos problemas sociais que a América Latina enfrentava nesse período.

Para o campo religioso protestante e evangélico, a comemoração dos 50 anos da realização da Conferência do Nordeste, com o tema "Cristo e o processo revolucionário brasileiro", se reveste de singular importância. O evento reuniu em 1962 na cidade de Recife lideranças religiosas e intelectuais como Gilberto Freire e Celso Furtado, a fim de discutirem os rumos das mudanças estruturais no Brasil. O Setor de Responsabilidade da Confederação Evangélica do Brasil foi o organizador da Conferência que possibilitou aos protestantes e evangélicos progressistas a inserção nos debates nacionais acerca das reformas de base, bem como a mobilização em diferentes frentes de ação política e de mobilização popular no período.

Recentemente diversas manifestações religiosas como União do Vegetal, Santo D´Aime, Igreja Bahai, Messiânica Mundial e outras têm se expandido no Maranhão e no Brasil e tem sido estudadas por diversos pesquisadores.

Em 2012 também será comemorado o centenário da obra clássica de Emile Durkheim, "As Formas Elementares da Vida Religiosa", livro que é um dos marcos fundadores dos estudos de Antropologia na Escola Francesa e das ciências sociais da religião.

A reunião da ABHR em São Luís em 2012 será uma oportunidade para estudar e debater sobre quatrocentos anos de religiões no Maranhão e no Brasil bem como sobre temas correlatos como os aqui indicados. Os praticantes, os interessados e, sobretudo os pesquisadores das religiões, estão convidados a participar deste importante evento.




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